São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@- bergamo@folhasp.com.br

Rony Maltz/Folha Imagem
Ela discoteca com o marido, o guitarrista Eduardo Hipolitho, em noite de rock'n roll no clube D-Edge, em São Paulo


Frase

A elite branca existe. E o Aguinaldo [Silva] coloca isso como o rico, que, atualmente, está cada vez mais distante da miséria. Hoje em dia, a gente tem cada vez menos contato com a pobreza. A única pessoa com quem você acaba tendo contato é a [empregada doméstica] que trabalha com você, na sua casa.

duas déboras

Estrela da novela "Duas Caras" -ou "uma garota normal demais", como diz-, a mineira Débora Falabella brinca de DJ na noite paulistana, vai ao mercado de manhã no Rio e se esquiva de polêmicas

Um dia antes da gravação de "Duas Caras", numa segunda-feira de folga, Débora Falabella chega ao clube D-Edge, em São Paulo, com o marido, Eduardo Hipolitho, guitarrista da banda Forgotten Boys. Os dois têm quase dez CDs gravados para a balada: serão os DJs da noite. No set list, Kings of Leon, Nação Zumbi e dance music da década de 90. Ela pede Coca Zero, água mineral e, só depois que está nos picapes, uma caipirinha. "Amanhã, gravo ao meio-dia no Rio. E, na quarta, preciso ir ao mercado", diz a atriz, que, na noite anterior, estava na platéia VIP do Tim Festival.

 

"Mas não sou muito de balada. E o mais engraçado é que conheci o Eduardo numa boate, em BH. Ele ia tocar lá e acabamos nos conhecendo", conta. Eles estão casados há dois anos e meio. "Antes, eu ia a todos os shows dele, mais pra acompanhar. Agora, eu não tenho mais muita paciência. E ele não vem me ver gravar todo dia [risos]. Por isso, vou menos. O que eu gosto mesmo é de ir ao teatro e sair pra jantar depois."
 

Aos 27 anos, a mineira está na novela das oito da Globo. De dia, longe da balada, leva uma vida pacata de dona-de-casa. "Não quero que as pessoas saibam o meu nome. Isso interessa no mercado. Na rua, não quero que gritem "Débora", e sim o nome do meu papel. O que me interessa com o público é que saibam isso. Eu sou uma garota normal demais."
 

E continua: "Normal mesmo. Eu vejo as entrevistas com os artistas que aparecem com carros maravilhosos, vão a festas maravilhosas... Eu não sou nada disso. Só dou entrevista porque estou trabalhando, pra divulgar o que estou fazendo. Fora isso, não me interessa".
 

A atriz tem seis novelas e seis filmes no currículo, além das peças que estrela e produz com sua companhia, o Grupo 3. No ar como Júlia, uma menina de classe alta -ou, como diz o autor Aguinaldo Silva, alguém da "atualmente execrada "elite branca'"-, ela se apaixona por Evilásio (Lázaro Ramos), segurança do chefe de uma favela -ou, ainda segundo Silva, um rapaz da ""elite preta", não muito chegada ao trabalho". Ao contrário do novelista, Débora se esquiva das polêmicas.
 

"Acho legal fazer novela com fundo social, mas não penso tanto assim na questão sociológica. É claro que achava ótimo o papel social, por exemplo, da Mel [personagem viciada em drogas interpretada pela atriz em "O Clone", de 2001]."
 

Sobre o uso de drogas, aliás, ela não gosta de falar. "Quando eu fazia a Mel, usavam o personagem pra saber da minha vida, se eu uso ou não. É complicado dizer isso num jornal. O mundo está muito mais infestado por drogas, como bebida e cigarro, por exemplo. E todo consumo excessivo é horrível." E comenta o filme "Tropa de Elite": "Eu vi e não concordo com a idéia de que o usuário é culpado pelo tráfico. Ele tem culpa, sim, claro. Mas, se a gente for ver, o buraco é muito mais embaixo... ou mais em cima [risos]".
 

Débora conta que ficou "meio por dentro" do caso do Rolex roubado de Luciano Huck. "O que acho da violência é que você tem que se cuidar. Não tenho um carrão porque tenho medo e também porque não quero. Claro que é horrível se privar das coisas por causa da violência, mas, infelizmente, você tem que se adaptar."
 

Passa de meio-dia e a atriz volta do mercado, na Barra da Tijuca, onde mora com o marido. Na sacola de pano trazida de casa -ela evita sacos plásticos para preservar o meio ambiente-, carrega seis ovos, dois mamões e duas pêras, um saco de arroz, sabão em pó, Coca light e chicletes de hortelã. No portão do prédio, pára, ajeita os grandes óculos Pierre Cardin e diz: "Não falo pra entrar, porque não interessa procês".
 

Com uma marmita de arroz, feijão, frango e legumes, ela chega ao Projac às 13h. Gravará só até 16h naquela quarta-feira. "Essa calça com a cueca toda de fora..." É Antônio Fagundes brincando com o figurino do personagem de Lázaro Ramos. Marília Gabriela ri: "É sexy, bem sexy". Débora está atrás de uma parede, concentrada, esperando para entrar em cena. A pedido do diretor, Lázaro e ela fazem seguidas vezes a mesma cena. Ela ri: "É hoooooje!".
 

Em Belo Horizonte, Débora estudou no colégio metodista Izabela Hendrix, um dos mais tradicionais da cidade. Chegou a cursar um ano e meio de publicidade, mas desistiu. Desde os 14 anos, trabalhou em teatro com grupos amadores e, aos 18, já estava na TV em "Malhação".
 

"Meu pai teve que ralar pra caramba pra ajudar a gente. Ele era ator e largou a carreira pra ganhar dinheiro. A sorte foi que, antes de eu nascer, minha mãe ganhou na loteria", diz, rindo. "Ela me chama até hoje de "bebê da loteria". Com o dinheiro, compraram um apartamento e ajudaram a família. Mas eu sei que elite branca existe. E o Aguinaldo coloca isso como o rico, que, atualmente, está cada vez mais distante da miséria. Hoje em dia, a gente tem cada vez menos contato com a pobreza. A única pessoa com quem você acaba tendo contato é a que trabalha com você, na sua casa".
 

Débora tem duas empregadas: Neide, mulher do zelador de seu prédio no Rio, e Gisele, que vai duas vezes por semana a seu apartamento em SP. "É muito triste isso. Mas é o único contato que você acaba tendo."
 

Além das polêmicas, ela evita também campanhas publicitárias. Uma das que faz atualmente é da Secretaria de Educação de Minas Gerais. "Gosto de fazer algo em que acredito", diz. Acredita no governo de Minas? "Acho muito ruim falar porque eu não estou lá. Como eu tenho amigos lá e eles me dizem que está melhor... Mas, olha, eu não falo nada em relação à política. Hoje em dia, você sempre pode se surpreender. Eu só acho que está tudo errado e tenho vergonha."
 

Débora gosta de dar intervalos de um ano entre uma novela e outra. "O público precisa esquecer o personagem, o rosto da gente", explica. "E eu acho ótimo que esqueçam rápido!" O motivo: "Tenho um pouquinho de medo de ficar muito exposta. Imagina sair na rua e ter um monte de gente te seguindo? Isso me assusta. Se um dia eu abrir a janela e tiver paparazzo me esperando, eu deixo a televisão. Vou fazer só teatro. Eu não sou o personagem. Meu trabalho é interpretar um personagem. Só isso".


Texto Anterior: Inédito, terceiro "Racional" deve virar CD em 2008
Próximo Texto: "Bad boy", Pete Doherty lança livro controverso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.