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OPINIÃO
De sabor único, ingrediente vale e não vale os altos preços
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Há 500 anos, dizia-se que
havia tanto peixe cod (base
do melhor bacalhau) na
América que daria para fazer
com eles uma ponte até a Europa. Dois séculos depois, o
bacalhau era alimento de escravos nos latifúndios do Caribe. Mais tarde, era tão barato que se dizia, para depreciar alguém, que "para quem
é, bacalhau basta".
Hoje, depois da quase extinção desse peixe, o bacalhau é caríssimo. Mas, menos
do que o caviar, que, no passado, os russos comiam às
colheradas.
E menos que as trufas,
que, por sua raridade (as melhores não podem ser cultivadas e só são encontradas
nos raros bosques de carvalho europeus), atingem preços astronômicos.
E valem o preço? A resposta é sim e não.
Sim, as trufas são especiais, de sabor único, paradigmas de gostos.
Para o apreciador desejoso
de reencontrar aquela emoção, vale pagar, se tiver dinheiro para isso.
Outra coisa é saber se, em
termos absolutos -o trabalho necessário para coletar
ou produzir aquilo-, esse
valor é real.
Mas, como em um quadro
de Picasso, o que conta não é
quanto tempo o pintor demorou para fazer o quadro ou
quanto demorou para aprender a pintar.
Aqui, o que determina o alto preço do produto, além da
qualidade intrínseca, é a
pouca oferta, a grande demanda e o prestígio. E, enquanto houver quem pague
R$ 6 mil por um quilo de trufa, é o que ela custará.
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