São Paulo, Sábado, 11 de Dezembro de 1999


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INFANTIL
"Eu também sinto isso", vai pensar o leitor

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha

O que impressiona em "Minhas Férias", de Marcelo Coelho, que é articulista da Folha e faz o segundo livro para crianças (o primeiro é "A Professora de Desenho"), é o domínio da narração. Idéias e fatos contados não surpreendem só pela construção das metáforas, que tendem a representar de outra forma, simbolicamente, o real comezinho -afinal, são as férias regulares de um menino de classe média alta, que tem empregada em casa e gosta dos carros que andam de verdade dos parquinhos.
O narrador faz o leitor acompanhar a trajetória do garoto Marcelo, esmiuçando seu comportamento, sua forma de pensar, o cálculo de seus gestos -como quando ele se embola com as amigas no sofá e, por isso, a empregada põe as três crianças de castigo.
A meticulosidade da percepção existe para gerar mistério, as histórias evidenciam a vantagem da dúvida sobre os acontecimentos e a descrença no poder de construção da memória -ela trai porque, observando em "flashback", Marcelo descobre nuanças: "Pensando mais tarde, vi que a dúvida não estava resolvida, e que aquela resposta não era tão boa assim".
Como há em todos os contos uma espécie de explicação final, poder-se-ia pensar que se trata da retomada da fábula, por exemplo, que devolve ao leitor a experiência dos personagens, por meio de seus ensinamentos. Não se trata também de nenhum livro das virtudes. "Minhas Férias" fica longe das resoluções morais. Por que uma pessoa é boa e uma outra é ruim? O leitor, curioso, como é toda criança, vai cismar na resposta.
O leitor termina a leitura com o privilégio de questionar os acontecimentos mais simples. Então, aquelas minhas conversas comigo mesmo eram reais...
A trama dos contos de "Minhas Férias", relatos, a memória selecionada que busca reviver tudo aquilo, quem sabe, como um detetive à procura de um detalhe que pudesse transformar o presente à luz do passado.
O menino de "Minhas Férias" não tem amigo invisível, como o personagem de Robert Louis Stevenson. Não vive aventuras mirabolantes (e igualmente deliciosas) no Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Seu comportamento parece, em certas passagens, com o do Menino Maluquinho, de Ziraldo. A diferença é que as angústias do Maluquinho são resolvidas com a felicidade, no colo da mãe (o que é bom). As inquietações de Marcelo apontam para as impressões que cada um de nós se pega sentindo, de forma involuntária, e que são difíceis de explicar ou responder (o que também é bom).


Avaliação:     

Livro: Minhas Férias Autor: Marcelo Coelho Editora: Companhia das Letrinhas Quanto: R$ 15,50 (72 págs)


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