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INFANTIL
"Eu também sinto isso", vai pensar o leitor
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
Editora da Folhinha
O que impressiona em "Minhas
Férias", de Marcelo Coelho, que é
articulista da Folha e faz o segundo livro para crianças (o primeiro
é "A Professora de Desenho"), é o
domínio da narração. Idéias e fatos contados não surpreendem só
pela construção das metáforas,
que tendem a representar de outra forma, simbolicamente, o real
comezinho -afinal, são as férias
regulares de um menino de classe
média alta, que tem empregada
em casa e gosta dos carros que andam de verdade dos parquinhos.
O narrador faz o leitor acompanhar a trajetória do garoto Marcelo, esmiuçando seu comportamento, sua forma de pensar, o
cálculo de seus gestos -como
quando ele se embola com as amigas no sofá e, por isso, a empregada põe as três crianças de castigo.
A meticulosidade da percepção
existe para gerar mistério, as histórias evidenciam a vantagem da
dúvida sobre os acontecimentos e
a descrença no poder de construção da memória -ela trai porque, observando em "flashback",
Marcelo descobre nuanças: "Pensando mais tarde, vi que a dúvida
não estava resolvida, e que aquela
resposta não era tão boa assim".
Como há em todos os contos
uma espécie de explicação final,
poder-se-ia pensar que se trata da
retomada da fábula, por exemplo,
que devolve ao leitor a experiência dos personagens, por meio de
seus ensinamentos. Não se trata
também de nenhum livro das virtudes. "Minhas Férias" fica longe
das resoluções morais. Por que
uma pessoa é boa e uma outra é
ruim? O leitor, curioso, como é toda criança, vai cismar na resposta.
O leitor termina a leitura com o
privilégio de questionar os acontecimentos mais simples. Então,
aquelas minhas conversas comigo mesmo eram reais...
A trama dos contos de "Minhas
Férias", relatos, a memória selecionada que busca reviver tudo
aquilo, quem sabe, como um detetive à procura de um detalhe
que pudesse transformar o presente à luz do passado.
O menino de "Minhas Férias"
não tem amigo invisível, como o
personagem de Robert Louis Stevenson. Não vive aventuras mirabolantes (e igualmente deliciosas)
no Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Seu comportamento parece, em
certas passagens, com o do Menino Maluquinho, de Ziraldo. A diferença é que as angústias do Maluquinho são resolvidas com a felicidade, no colo da mãe (o que é
bom). As inquietações de Marcelo apontam para as impressões
que cada um de nós se pega sentindo, de forma involuntária, e
que são difíceis de explicar ou responder (o que também é bom).
Avaliação:
Livro: Minhas Férias
Autor: Marcelo Coelho
Editora: Companhia das Letrinhas
Quanto: R$ 15,50 (72 págs)
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