|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Acho mais seguro ir para o Caribe"
Espectadores americanos vêem "Turistas" em Nova York e concordam com teor do filme; longa causa polêmica no Brasil
"Eu não conheço um americano que já tenha ido ao Rio e nunca tenha sido assaltado", diz fotógrafa que assistiu à sessão em NY
Divulgação
|
A atriz Olivia Wilde em praia de Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde "Turistas" foi gravado |
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
O cenário: a selva inabitada; a
língua: uma derivação de português com espanhol; o povo:
mulatas e índios; trilha sonora:
salsa; bebida: caipirinha; comida: frutas tropicais, extraídas
da mata; sexo: por dinheiro; balada: festas na areia da praia;
moda: garotas seminuas, com
os seios ao léu.
Tudo isso está presente em
"Turistas", filme que a Folha
assistiu em um cinema de Nova
York na semana passada e que
tem causado rebuliço no Brasil
(onde estréia em fevereiro) por
seu enredo recheado de clichês. Conversando com a reportagem, os espectadores
norte-americanos não vêem
tantos absurdos na história. "O
filme não mostrou nada que eu
já não soubesse ou tivesse visto
no Brasil. Daria um rim para
passar a noite com uma daquelas mulatas", disse à Folha na
saída do cinema AMC Loews o
analista financeiro Shawn Roberts, 32, três viagens ao Rio
em um ano, numa delas assaltado em Copacabana.
Enredo
Não há cenas urbanas, e o
mais próximo de uma cidade é a
favela, um vilarejo sem asfalto
com barracos e esgoto a céu
aberto. "Minha amiga disse que
eu não deveria trazer meu anel
de brilhantes ao Brasil", afirma
uma das adolescentes americanas no filme. "Quando falam do
país mostram mulher bonita,
bebida e sexo farto, mas não dizem que vamos ser roubados",
completa um dos jovens britânicos, depois de se recuperar do
golpe "boa noite, Cinderela".
Em certo ponto do filme, um
médico-bandido brasileiro faz
um discurso chavista sobre o
imperialismo americano e o demoniza, enquanto remove o fígado, os rins e o coração (em
primeiro plano) de uma garota.
E completa, em inglês claudicante: "Vou tirar tudo, até a pele da sua bunda branca".
Gravado em Ubatuba, o filme
de terror adolescente mostra
um grupo de estrangeiros caindo numa cilada. Com sangue e
diálogos ruins, há numerosos
crimes: 1) "boa noite, Cinderela"; 2) roubo de turistas; 3) tráfico de órgãos; 4) seqüestro; 5)
latrocínio; 6) estupro; 7) ação
de esquadrões da morte.
Repercussão
"Não é a primeira vez que ouço coisas sobre a violência no
Brasil. Sei que tem cidades
grandes como Buenos Aires
[sic], Rio, que não é só selva.
Mas tenho medo de ir e ser assaltada. Acho mais seguro ir às
praias do Caribe", afirmou a designer Anna Keller, 25, após a
sessão em Nova York.
"Fiquei com medo de visitar
o Brasil após o filme. Não acho
que seja mentira. Já li muito sobre tráfico de drogas no Rio e
em São Paulo. Diz que até a polícia mata por lá. Por mais bonito e barato que seja, não compensa", diz o consultor Bryan
Poulis, namorado de Keller.
"Não conheço um americano
que já tenha ido ao Rio e nunca
tenha sido assaltado. Fui roubada em Copacabana por crianças da favela. Elas tinham facas
nas mãos e estavam drogadas.
A polícia disse que não poderia
fazer nada. O delegado falou
que tive sorte de não ter sido
morta", afirmou a fotógrafa
Melissa Evans, 34.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Comentário: Nacionalistas deviam agradecer Hollywood Índice
|