São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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"Acho mais seguro ir para o Caribe"

Espectadores americanos vêem "Turistas" em Nova York e concordam com teor do filme; longa causa polêmica no Brasil

"Eu não conheço um americano que já tenha ido ao Rio e nunca tenha sido assaltado", diz fotógrafa que assistiu à sessão em NY

Divulgação
A atriz Olivia Wilde em praia de Ubatuba, no litoral de São Paulo, onde "Turistas" foi gravado

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

O cenário: a selva inabitada; a língua: uma derivação de português com espanhol; o povo: mulatas e índios; trilha sonora: salsa; bebida: caipirinha; comida: frutas tropicais, extraídas da mata; sexo: por dinheiro; balada: festas na areia da praia; moda: garotas seminuas, com os seios ao léu.
Tudo isso está presente em "Turistas", filme que a Folha assistiu em um cinema de Nova York na semana passada e que tem causado rebuliço no Brasil (onde estréia em fevereiro) por seu enredo recheado de clichês. Conversando com a reportagem, os espectadores norte-americanos não vêem tantos absurdos na história. "O filme não mostrou nada que eu já não soubesse ou tivesse visto no Brasil. Daria um rim para passar a noite com uma daquelas mulatas", disse à Folha na saída do cinema AMC Loews o analista financeiro Shawn Roberts, 32, três viagens ao Rio em um ano, numa delas assaltado em Copacabana.

Enredo
Não há cenas urbanas, e o mais próximo de uma cidade é a favela, um vilarejo sem asfalto com barracos e esgoto a céu aberto. "Minha amiga disse que eu não deveria trazer meu anel de brilhantes ao Brasil", afirma uma das adolescentes americanas no filme. "Quando falam do país mostram mulher bonita, bebida e sexo farto, mas não dizem que vamos ser roubados", completa um dos jovens britânicos, depois de se recuperar do golpe "boa noite, Cinderela".
Em certo ponto do filme, um médico-bandido brasileiro faz um discurso chavista sobre o imperialismo americano e o demoniza, enquanto remove o fígado, os rins e o coração (em primeiro plano) de uma garota. E completa, em inglês claudicante: "Vou tirar tudo, até a pele da sua bunda branca".
Gravado em Ubatuba, o filme de terror adolescente mostra um grupo de estrangeiros caindo numa cilada. Com sangue e diálogos ruins, há numerosos crimes: 1) "boa noite, Cinderela"; 2) roubo de turistas; 3) tráfico de órgãos; 4) seqüestro; 5) latrocínio; 6) estupro; 7) ação de esquadrões da morte.

Repercussão
"Não é a primeira vez que ouço coisas sobre a violência no Brasil. Sei que tem cidades grandes como Buenos Aires [sic], Rio, que não é só selva. Mas tenho medo de ir e ser assaltada. Acho mais seguro ir às praias do Caribe", afirmou a designer Anna Keller, 25, após a sessão em Nova York.
"Fiquei com medo de visitar o Brasil após o filme. Não acho que seja mentira. Já li muito sobre tráfico de drogas no Rio e em São Paulo. Diz que até a polícia mata por lá. Por mais bonito e barato que seja, não compensa", diz o consultor Bryan Poulis, namorado de Keller.
"Não conheço um americano que já tenha ido ao Rio e nunca tenha sido assaltado. Fui roubada em Copacabana por crianças da favela. Elas tinham facas nas mãos e estavam drogadas. A polícia disse que não poderia fazer nada. O delegado falou que tive sorte de não ter sido morta", afirmou a fotógrafa Melissa Evans, 34.


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