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comentário
Nacionalistas deviam agradecer Hollywood
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O aspecto mais curioso do nacionalismo
brasileiro é que ele
se manifesta por conta dos
motivos mais risíveis. Como
uma dermatite dormente, só
explode em comichão de
tempos em tempos, reagindo
a "ameaças". Os defensores
da nação brasileira agora miram alvo fácil, um filmeco B.
"Turistas" mostra uma terra
de ninguém em que você pode se dar mal na mão dos locais e acabar sem um rim,
talvez coisa pior.
Estereótipos? Bravo nacionalista, passe a noite numa "no-go area" de qualquer
cidade brasileira e me conte
depois. O filme fantasia sobre eventos que estão no noticiário. A realidade não o incomoda? Ah, mas você usou
a camisa do "Eu sou da paz"
quando foi moda, ou quando
a realidade tocou alguém
próximo. Mas sem sair do
shopping, ou do jipão blindado, não é? No máximo, deu
um trocado para o projeto
que um amigo do amigo seu
toca naquela favela -qual
mesmo?
"Turistas" deve ser tolo,
trash. Não sei, só li a respeito.
Mas absurdo é acreditar que
isso, e não a indecência do
nosso cotidiano, irá manchar
a imagem pátria. É como se o
ótimo "Massacre da Serra
Elétrica" (1974) o levasse a
crer que o Texas é uma terra
de canibais. Há vários motivos para não ir à terra dos
Bush, mas medo de virar almoço não é um deles.
O nacionalismo local é
burlesco, o que acaba sendo
algo bom. Nacionalismo é
perigoso. A lista de "ismos"
associados a ele fala por si só:
fascismo, nazismo, jacobinismo, imperialismo, comunismo e afins.
Nossa variante é tão fajuta
que apareceu só depois da
formação do Estado nacional, com certeza por ser bom
negócio. De tempos em tempos, volta: Estado Novo, ditadura militar e, agora, no governo Lula. Dificilmente haveria um presidente mais
adequado para o clima de
boicote xenofóbico.
Afinal de contas, Lula não
gosta de jornalista gringo
que não fale bem do governo
(na verdade, não gosta de nenhum que não fale bem), estimula empresa amiga a dizer que "sou brasileira, com
muito orgulho", diz que "brasileiro não desiste nunca",
exalta a trinca cachaça-feijoada-pagodinho e até torrou
US$ 10 milhões para levar
um brazuca de carona ao espaço. Na terra dos mensalões, a jequice desfila livre.
Espera-se que Lula não repita FHC e perca seu tempo
passando recibo, como o tucano fez com quando os
"Simpsons" avacalharam o
Rio. Alguém pode perceber, e
verá que a matéria-prima para a crítica abunda. Os nacionalistas deviam é agradecer o
fato de que Hollywood não
nos leva a sério.
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