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Crítica/"Primeira Pessoa"
Arte vira entretenimento no Itaú Cultural
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Existe um notável esforço em agradar ao público na mostra "Primeira
Pessoa", no Itaú Cultural. Tal
vetor pode ser constatado, particularmente, na maneira simpática de expor as obras, caso já percebido no primeiro trabalho da exposição, composto por
mais de mil retratos de Antonietta Clélia Rangel Forman,
mãe de Emil Forman (1954-1983), fotografados distintos
autores em situações cotidianas e colecionadas pelo artista
ao longo de sua vida.
Essa instalação é um surpreendente trabalho de fotografia e memória, intrigante
por seu caráter obsessivo e preciosista. Ambiente imersivo, de
certa forma, ele vai dar o tom
dos demais trabalhos.
A exposição -com curadoria
de Agnaldo Farias e Christine
Greiner e cenografia de Valdy
Lopes Jr., que tem a intimidade
como tema- envolve outras
expressões que tangenciam as
artes plásticas, como o trabalho
de duas companhias de teatro,
o Grupo Lume e o Teatro da
Vertigem, e a música de Hermeto Paschoal. Todos participam da mostra com instalações também imersivas, que buscam
traduzir para o espaço expositivo as poéticas de cada um. Entretanto, aquilo que é risco e ousadia, como no caso da Vertigem, que realizou um espetáculo, "BR-3", no rio Tietê, quando transposto para uma sala repleta de água por onde se pode caminhar com galochas, torna-se
uma redução tamanha da obra
que seu sentido se esvai.
Essa simplificação -que permite a tranqüila e prazerosa
fruição da mostra pelo público- chega a ser irritantemente
politicamente correta quando
apresenta partituras de Hermeto penduradas numa sala
com chão de terra, cercadas por
frases como "Viva o som e as
nuvens coloridas". Aí, vê-se que
o estilo Bia Lessa de montagem
de exposição fez escola.
Essa escola -que pode ser
vista como uma forma de inclusão social, tão em moda no discurso do governo federal e que sempre busca agradar ao público- precisa ser questionada
quando está em função de uma
exposição de arte: afinal, arte é
para agradar? Desde Duchamp,
esse princípio foi banido do sistema de arte. E, atualmente, a
arte tem sido das últimas plataformas de questionamento.
Entretanto, é pouco provável
que um instituto cultural vinculado a uma grande corporação tenha interesse no questionamento e, aí, os limites institucionais tornam-se claros: a
arte deve ser vista como entretenimento: superficial e feliz.
Nem todas as obras seguem
esse roteiro, caso dos trabalhos
de Marcelo do Campo, heterônimo de Dora Longo Bahia. A
questão é que, quando a obra é
exibida nesse contexto, seu potencial radical se esvai, tornando a própria "mise-en-scène" o discurso oficial. E aí Marshall
McLuhan estava certo: o meio é
a mensagem. Não é a toa, afinal,
que quando o banco tinha uma
campanha publicitária que fazia as suas agências piscarem
durante a Copa do Mundo, o
instituto cultural piscava no
mesmo ritmo, com patrocínio
das leis de incentivo à cultura.
PRIMEIRA PESSOA
Quando:ter. a sex., 10 às 21h; sáb. e
dom.: 10h às 19h; até 28/01
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149,
tel. 0/xx/11/2168-1876)
Quanto: entrada franca
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