São Paulo, sexta, 11 de dezembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A Governanta" é inglês, frio e úmido

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

"A Governanta" é um filme bom. Não é muuuuito bom. É razoável. Cansa às vezes. Às vezes é engraçado. Às vezes dá sono. A fotografia é boa. É muuuuito boa. O elenco é excelente. Muito bom mesmo. A historinha é que é mais ou menos. É bacaninha.
Não é o filme do ano, não vai mudar sua vida, não concorre a grandes prêmios, não levará multidões ao cinema, não será muito comentado entre amigos e não faz mal à saúde.
É aquele filme a que se assiste com as pontas dos pés enrijecidos, no estágio da decisão radical: ir embora ou ficar para ver a próxima cena.
Na sessão em que eu estava, todos ficaram, apesar de uma circulação animada e atípica de gente que ia ao banheiro ou ia fumar, ou ia respirar, mas voltava.
É filme inglês. É frio. É úmido. É estético. É de elenco. É dramático. É arrastado. É certinho. É de época. É mais ou menos.
Rosina (Minnie Driver, a Fernanda Torres do Reino Unido) é a filha mais velha de uma família judia de Londres. Os da Silvas são alegres, religiosos, bonitos. Mas, "Deus ex machina", o pai, pimba, morre num assalto.
A miséria passa a rondar o ambiente da família da Silvas. Rosina muda de nome, Mary Blackchurch, esconde o fato de ser judia e arruma emprego como governanta em um castelo, ou casarão, da família Cavendish, da Escócia. Fora cuidar da sapeca menina Clementina, que mais parece a nova cria da família Monstro.
Até aí é tudo redondinho no filme. Rosina se sente culpada por esconder sua verdadeira identidade e religião, esconde o crucifixo que estava em seu quarto e vive a tensão de quem fez algo proibido.
E aí começa outra história. O dono da casa é um cientista que procura um fixador para as imagens reveladas num papel fotográfico. Ele já conseguiu quase tudo. Mas as imagens não se fixam. É claro que a governanta, ao derrubar sal no papel casualmente, eureca!, descobre o que faltava para a solução.
O filme tem muito sofá, cobertor e móveis pesados. E poses. Muitas flores. Um dos temas é a fotografia e sua descoberta. O pai fotografa a governanta, que fotografa o pai. A fotografia poderia ser, como em "Blow Up", a linha narrativa do filme. Mas não é.
Mas, aí, a governanta se envolve com o pai, rola um sexo, e, aí, chega o filho, que se apaixona por ela, e tem ainda Clementina, que agora é amiguinha dela. Então começa um segundo filme. E é aí que começa a dar sono. Ou dormi mal na noite anterior?

Filme: A Governanta
Produção: Inglaterra, 1998
Direção: Sandra Goldbacher
Com: Minnie Driver, Tom Wilkinson
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas
Artes-Carmen Miranda e SP Market 6




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.