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O teatro da revelação
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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A atriz Mariana Lima interpreta a prostituta Babilônia em "Apocalipse" 1,11", peça do Teatro da Vertigem que estréia na sexta em SP |
A peça "Apocalipse 1,11", do grupo Teatro da Vertigem, estréia nesta sexta em um antigo presídio paulistano e reflete sobre os flagelos dos tempos modernos
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VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Depois de um mês de ensaios
abertos, estréia na sexta-feira em
São Paulo a nova montagem do
grupo Teatro da Vertigem, "Apocalipse 1,11", capítulo 1, versículo
11. Ela fecha a trilogia do diretor
Antonio Araújo ("Paraíso Perdido" e "O Livro de Jó") sobre temas religiosos e demasiadamente
humanos tratados ao longo da década de 90 (leia entrevista abaixo).
Alguns episódios marcam as
vésperas da estréia. As chuvas
derrubaram a cobertura de plástico que protegia a área da encenação. A Justiça acena com autorização para que um grupo de detentos participe do espetáculo. E o diretor Antonio Araújo perdeu seu
pai no dia 24 de dezembro, vítima
de câncer no fígado.
O momento pessoal de Araújo
acentua sua reflexão sobre "Apocalipse 1,11". Sobretudo na cena
final, quando Jesus, o Pai, pede
para que João deixe-o partir.
Com dramaturgia de Fernando
Bonassi, a peça toma como referência o último livro do Novo
Testamento, "Apocalipse", escrito pelo profeta João por volta de
95 d.C. O texto bíblico traz simbolismos e visões que pautam as noções de culpa e punição.
Para expor tal "apokálypsis"
(revelação, em grego), o grupo espelha os flagelos dos tempos modernos, em que as misérias ética,
espiritual e material fundamentam as relações, sobretudo numa
metrópole como São Paulo.
E a urbe surge nas entranhas. A
começar pela escolha do espaço
cênico. Depois da igreja e do hospital público abandonado, agora é
a vez da trupe ocupar o antigo
presídio do Hipódromo, no bairro paulistano do Brás.
Espaço fértil para a punição, é
ali que personagens como João
(Vanderlei Bernardino), Besta
(Roberto Audio) e Babilônia, "a
mãe das meretrizes" (Mariana Lima), percorrem os labirintos do
pecado e do julgamento, tateando
paredes mofadas, grades enferrujadas, enfim, o ambiente acinzentado característico de uma prisão.
Numa das passagens, João entra
numa boate da boca do lixo, dessas da igualmente depauperada
av. São João. Não só João, mas
também o público peregrino,
acompanham um show de striptease (leia texto ao lado). Show
que revela mais sobre o Brasil inconstitucional do que a explicitude dos discursos oficiais.
Peça: Apocalipse 1,11
Texto: Fernando Bonassi
Direção: Antonio Araújo
Com: Joelson Medeiros, Kleber Vallim,
Luciana Schwinden, Luis Miranda,
Miriam Rinaldi, Sérgio Siviero e outros
Quando: estréia sex., 21h; quin. a sáb.,
21h; dom., 20h
Onde: antigo presídio do Hipódromo (r.
do Hipódromo, 600, Brás, tel. 0/xx/11/
9354-7321).
Quanto: R$ 20 a R$ 30
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