São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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O teatro da revelação

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
A atriz Mariana Lima interpreta a prostituta Babilônia em "Apocalipse" 1,11", peça do Teatro da Vertigem que estréia na sexta em SP



A peça "Apocalipse 1,11", do grupo Teatro da Vertigem, estréia nesta sexta em um antigo presídio paulistano e reflete sobre os flagelos dos tempos modernos


VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha


Depois de um mês de ensaios abertos, estréia na sexta-feira em São Paulo a nova montagem do grupo Teatro da Vertigem, "Apocalipse 1,11", capítulo 1, versículo 11. Ela fecha a trilogia do diretor Antonio Araújo ("Paraíso Perdido" e "O Livro de Jó") sobre temas religiosos e demasiadamente humanos tratados ao longo da década de 90 (leia entrevista abaixo).
Alguns episódios marcam as vésperas da estréia. As chuvas derrubaram a cobertura de plástico que protegia a área da encenação. A Justiça acena com autorização para que um grupo de detentos participe do espetáculo. E o diretor Antonio Araújo perdeu seu pai no dia 24 de dezembro, vítima de câncer no fígado.
O momento pessoal de Araújo acentua sua reflexão sobre "Apocalipse 1,11". Sobretudo na cena final, quando Jesus, o Pai, pede para que João deixe-o partir.
Com dramaturgia de Fernando Bonassi, a peça toma como referência o último livro do Novo Testamento, "Apocalipse", escrito pelo profeta João por volta de 95 d.C. O texto bíblico traz simbolismos e visões que pautam as noções de culpa e punição.
Para expor tal "apokálypsis" (revelação, em grego), o grupo espelha os flagelos dos tempos modernos, em que as misérias ética, espiritual e material fundamentam as relações, sobretudo numa metrópole como São Paulo.
E a urbe surge nas entranhas. A começar pela escolha do espaço cênico. Depois da igreja e do hospital público abandonado, agora é a vez da trupe ocupar o antigo presídio do Hipódromo, no bairro paulistano do Brás.
Espaço fértil para a punição, é ali que personagens como João (Vanderlei Bernardino), Besta (Roberto Audio) e Babilônia, "a mãe das meretrizes" (Mariana Lima), percorrem os labirintos do pecado e do julgamento, tateando paredes mofadas, grades enferrujadas, enfim, o ambiente acinzentado característico de uma prisão.
Numa das passagens, João entra numa boate da boca do lixo, dessas da igualmente depauperada av. São João. Não só João, mas também o público peregrino, acompanham um show de striptease (leia texto ao lado). Show que revela mais sobre o Brasil inconstitucional do que a explicitude dos discursos oficiais.


Peça: Apocalipse 1,11
Texto: Fernando Bonassi
Direção: Antonio Araújo
Com: Joelson Medeiros, Kleber Vallim, Luciana Schwinden, Luis Miranda, Miriam Rinaldi, Sérgio Siviero e outros
Quando: estréia sex., 21h; quin. a sáb., 21h; dom., 20h
Onde: antigo presídio do Hipódromo (r. do Hipódromo, 600, Brás, tel. 0/xx/11/ 9354-7321).
Quanto: R$ 20 a R$ 30


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