São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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CARLOS HEITOR CONY

O aço na história do Brasil

Antes do petróleo, a batalha siderúrgica foi das mais importantes da história do nosso país

PARA ESCREVER um livro sobre a morte de Vargas, entrevistei Maciel Filho, jornalista, industrial e autor do texto final da carta-testamento. Ele me passou apontamentos que recolhera de pesquisas sobre a influência do aço na vida pública brasileira. Estava fazendo o mesmo com o petróleo. Vou transcrever uma sinopse com base em seus apontamentos, mostrando como foi suada nossa siderurgia.
O aço criara grandes crises na vida econômica e política. Antes do petróleo, a batalha siderúrgica foi das mais importantes de nossa história. Uma simples sucessão de datas e fatos mostra a importância do aço em nossa vida interna:
1908 - J. Dawson, Normanton e Murley Cotto pedem opção de compra do pico de Itabira. São ingleses. Reage o capital francês com sede política em Minas (Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais e Banco Hottinger). Resistência política contra Afonso Pena e Davi Campista. Ingleses formam a Brazilian Hematite Syndicate, que pede a Pedro Nolasco, diretor da Estrada de Ferro Vitória-Minas, opção de compra das ações.
1909 - A Leopoldina Railway e um sindicato dos EUA disputam à Brazilian Hematite a compra do controle da Vitória-Minas. Morre Afonso Pena. Crise política acirrada.
1910 - No Congresso Internacional de Estocolmo, surge o famoso relatório sobre o ferro do Brasil (as maiores jazidas de ferro do mundo). Nilo Peçanha, fluminense, dá a concessão à Brazilian Hidro (eletricidade -Light). O governo de Minas levanta a questão de seus direitos e procura criar embaraços ao grupo canadense. Nilo toma o partido dos ingleses. Faz o acordo de passagem da linha da Leopoldina. E coloca em Aimorés (Vale do Rio Doce) a pedra fundamental da usina siderúrgica projetada -e que não passou de projeto. Campanha civilista.
1911 - A Brazilian Iron and Steel Co. pede ao Estado de Minas concessão para exportar minério. Propõe-se a pagar 200 réis por tonelada.
1912 - Trajano de Medeiros e Carlos Wigg obtêm concessão de Minas para exportar minério, pagando cem réis a tonelada. É dada a concessão à Société Franco-Brésilienne. Depois de Hermes da Fonseca, há uma pedra sobre o ferro. Com Delfim Moreira, a pedra continua.
1919 - Epitácio Pessoa, de passagem pelos Estados Unidos, incentiva Farqhuar.
1920 - Contrato de Itabira.
1921 - Viagem do Rei Alberto, Grupo Belgo-Luxemburguense como fachada do Comité des Forges. Surge a Belgo-Mineira. Campanha contra Epitácio movida pelo Comitê. Campanha contra Bernardes, movida por Farqhuar.
1922- Farqhuar não evita posse de Bernardes. Estado de sítio.
1924 - A campanha de Farqhuar mantém o Brasil em agitação. Estoura a revolução em São Paulo porque Washington Luís, candidato à presidência, não tem expressão financeira no grupo do ferro, é homem do café, produto tropical e subdesenvolvido. Por isso, não tem retaguarda. Cairá em 1930, no exílio.
1925 - Melo Viana, na presidência de Minas, autorizado pela lei nš. 881, de 27 de janeiro, projeta construir, por conta do Estado, uma usina siderúrgica, "não desprezando a colaboração técnica e financeira estrangeira" -importando carvão. Surge a candidatura Melo Viana, logo sufocada. Ele desiste da usina, da colaboração inglesa e passa a ser atacado pela imprensa Farqhuar.
1927 - Antonio Carlos assina o contrato com a Itabira. Ele precisa da imprensa siderúrgica. Seu principal jornalista, Assis Chateaubriand, é homem de frente de Farqhuar. Melo Viana rompe com Antonio Carlos. Crise profunda na política mineira, aparentemente unida pela perspectiva presidencial de 30. Para manter Bernardes a seu lado, Antonio Carlos é obrigado a dispensar, a 6 de setembro de 1930, a cláusula que impunha a criação da usina. E a Itabira se obriga a transportar pela Vitória-Minas os minérios de todos os produtores, inclusive os do grupo francês.
1930/1931 - Logo após a revolução, crise na política mineira, entre Bernardes e Antonio Carlos. Bernardes mobiliza a opinião pública contra o contrato da Itabira. Considera-se a caducidade do contrato.
1932 - Os relatórios das comissões nomeadas para estudar o caso concluem a favor da Itabira. Revolução em São Paulo. Bernardes fica ao lado da revolução.
1938 - Getúlio Vargas, em São Lourenço, dá uma entrevista sobre siderurgia. Intentona integralista.
1945 - A Companhia Siderúrgica Nacional está em vésperas de funcionar. Golpe de Estado depõe o presidente.


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