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LIVROS
CONTO
Escritora lança "Restou o Cão" e celebra dez anos de seu primeiro romance
Livia Garcia-Roza coloca conflitos no divã da ficção
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
Há dez anos, a carioca Livia Garcia-Roza estreava na literatura
com "Quarto de Menina". De lá
para cá escreveu outros cinco romances sobre outras tantas meninas, meninos e mulheres. Diferentes entre si, mas com um ponto em comum: o conflito. Filhos
deste mesmo estado de consciência (ou inconsciência), os contos
do novo livro, "Restou o Cão"
(Companhia das Letras), adentram o universo das relações familiares e focam a infância.
"Estamos todos nos recuperando por termos sido crianças um
dia", diz Garcia-Roza, revelando o
mote das 25 narrativas. "Somos
feitos de conflitos, mas insistimos
em nos livrar disto", continua.
Partindo deste princípio, numa
aversão à "moral da história", os
textos não trazem soluções para
os problemas que aborda. Assim,
no conto "Papoulas", a personagem observa: "Na nossa família
ninguém se fala, já reparou, Arthur?". E pergunta: "Você saberia
dizer qual o santo reparador da
harmonia perdida?". E quem tem
a resposta? "Seria trair a literatura
querer passar uma mensagem",
opina a escritora. Já "Fim de Película" traz pistas de como se dão
tais desencontros: "... A câmera
mostra sobressaltos, as perseguições, os ataques e contra-ataques
de Steve e Sally, onde cada um exige que o outro se esforce ao máximo para ser o que não é."
A estréia de Garcia-Roza nos
contos chega repleta de experiência. Ela trouxe para a escrita sua
prática psicanalítica. "Na psicanálise transformamos aquela narrativa longa e dolorosa que a pessoa
traz para o consultório numa outra mais possível. É como transformar um romance num conto",
explica. Ao mesmo tempo, dedicou-se ao gênero como leitora e
estudiosa, tendo inclusive organizado o livro de contos "Ficções
Fraternas" (Record), com autores
da nova literatura brasileira.
Desde pequena, Garcia-Roza
fez balé. Mais tarde, como atriz do
Tablado, atuou em "Pluft, o Fantasminha", de Maria Clara Machado, fundadora do núcleo teatral, e em "Sonho de Uma Noite
de Verão", de Shakespeare. "Mas
faltava o encontro com a minha
palavra", destaca ela.
Formou-se em psicologia e dedicou-se exclusivamente à psicanálise por anos. Até que nos anos
70 escreveu um roteiro, que não
virou filme, mas a colocou pela
primeira vez diante de um texto
seu, para além dos diários.
Neta de Vital Brazil, o antídoto
de Garcia-Roza é a palavra. Seu
impacto e música, uma mistura
hereditária. "Ele usava a palavra
como queria. Ficava impressionada e com medo da ousadia dele",
lembra a escritora sobre a influência que recebeu de seu pai, Ernesto Imbassaí de Mello, que era advogado. E também de sua mãe, a
harpista Acássia Vital Brazil.
"Cresci em meio a sonatas. Estudei piano, harpa, violino, mas só
toco de ouvido. De qualquer forma, leio literatura como se estivesse lendo uma partitura. Ficou a
cadência, a melodia das falas."
Garcia-Roza publicou ainda os
romances "Meus Queridos Estranhos" (97), "Cartão Postal" (99),
"Cine Odeon" (2001), "Solo Feminino" (2002) e "A Palavra que
Veio do Sul" (2004). A próxima
obra já está em mente. "Deve ser
outro romance", faz suspense.
RESTOU O CÃO, de Livia Garcia-Roza.
Ed.: Companhia das Letras. Quanto: R$
29 (112 págs.). Lançamento: dia 17/2, às
19h. Onde: livraria Timbre, shopping da
Gávea (r. Marquês de São Vicente, 52, Rio
de Janeiro, tel. 0/xx/21/ 2274-1146).
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