|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"O GRANDE INIMIGO - A HISTÓRIA SECRETA DO CONFRONTO ENTRE CIA E KGB"
Autores desmistificam vida de espião
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Espiões são uma das matérias-primas mais populares
da indústria de entretenimento.
Basta ver o sucesso de filmes como os de 007 ou da obra de John
Le Carré ("O Espião que Veio do
Frio"). Na vida dita real os fatos
são mais prosaicos, mas existe
uma tendência de autores de não-ficção de exagerar os resultados
obtidos com a espionagem.
O grande mérito deste livro é
desmistificar o cotidiano do espião, embora de vez em quando
os autores escorreguem e inflacionem um pouco o impacto da espionagem na Guerra Fria, entre o
Ocidente capitalista liderado pelos EUA e o bloco comunista da finada União Soviética.
Mas este é um pecado menor,
que afinal contamina todo o gênero de memórias de espião ou histórias da espionagem. E é compreensível, pois um dos autores,
Milt Bearden, trabalhou por cerca
de 30 anos na CIA. O outro autor,
James Risen, é jornalista, cobrindo a área de segurança internacional para o "New York Times", e
um dos ganhadores do Prêmio
Pulitzer pela cobertura dos atentados de 11 de Setembro de 2001
nos EUA.
Livros de espionagem costumam dar muito mais atenção aos
meios do que aos fins. As aventuras "de capa-e-espada" são mais
interessantes do que a vida de um
analista diante do computador.
Um dos pontos altos do livro, e
da carreira de Bearden, foi seu trabalho com guerrilheiros afegãos
em luta contra as forças de ocupação soviética. O relato mescla
aventura até mesmo com humor,
quando conta a entrega de uma
"arma secreta" aos guerrilheiros
muçulmanos: mulas. A guerra no
Afeganistão envolvia terreno
muito acidentado, e só mulas
eram capazes de transportar as
armas mais pesadas e os suprimentos necessários ao combate.
Um bom corretivo a essa tendência glorificadora da espionagem foi o livro de 2003 "Intelligence in War: Knowledge of the
Enemy from Napoleon to Al-Qaeda" (a inteligência na guerra: conhecimento do inimigo, de Napoleão à Al-Qaeda"), do historiador
militar britânico John Keegan.
Keegan deixa claro que a informação é apenas mais uma arma
na mão do comandante e que no
fundo é o combate que determina
o resultado de um conflito.
Bearden e Risen acabam demonstrando essa tese com os
exemplos do livro. Um dos espiões que mais ajudou os EUA era
um engenheiro aeronáutico que
revelou detalhes importantes dos
mais modernos aviões de caça
russos. Mas isso não teria significado nada se os americanos não
tivessem uma indústria aeronáutica e eletrônica superior. E, como
tinham, o fato de conhecer os parâmetros técnicos dos aviões soviéticos era quase irrelevante.
Já o papel da CIA no Afeganistão foi mais vital. Não se tratava
de coligir informação, mas sim de
dar apoio material à guerrilha. A
entrega de mísseis antiaéreos portáteis Stinger, por exemplo, arrasou com a força aérea soviética.
Palavras e documentos ajudam a
ganhar uma guerra, mas quem a
decide é o soldado em combate.
O Grande Inimigo - A História Secreta do Confronto entre CIA e KGB
Autor: Milt Bearden e James Risen
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 66,90 (567 págs.)
Texto Anterior: Livros - Poesia: Obras permitem nova visão sobre a tradição neobarroca Próximo Texto: "Livro-Relâmpago": Tsunami editorial atinge livrarias 36 dias depois do maremoto asiático Índice
|