São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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BEBIDA

Vinho dos sonhos

Com grandes vinhos já degustados, quatro sommeliers de São Paulo contam quais são os goles desejados, de cifras estratosféricas, e compartilham experiências marcantes e frustrações

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sommelier do Fasano há 17 anos, Manoel Beato, 44, orgulha-se de ter tomado "quase tudo de bom que existe no mundo". Cheval Blanc 1947? Três vezes. Mouton-Rothschild 1945? Cinco vezes. Château Margaux 1900? Três vezes.
Agradece "aos céus" e "aos padrinhos do vinho", como ele chama os clientes que se tornaram amigos e o convidam para compartilhar os "momentos mais incríveis", quando decidem abrir grandes vinhos.
Ter acesso a "adegas fabulosas" e contar com a generosidade dos clientes ajuda, e como, mas não esvazia o baú de desejos. O repertório de Beato também tem lacunas. E quais são esses vinhos dos sonhos?
A Folha fez esta pergunta ao sommelier do Fasano e a outros três profissionais de São Paulo: Alexandra Corvo, que trabalhou no D.O.M. e hoje é proprietária da escola de vinhos Ciclo das Vinhas; Tiago Locatelli, do Varanda Grill; e Carina Cooper, da Salton.
Os vinhos apontados são, em sua maioria, raros e caros, com valores difíceis de mensurar (leia abaixo as escolhas).
"Às vezes, você até vê na internet um Cheval Blanc 1947, um dos mais prestigiados, por uns US$ 6.000 [mais de R$ 13 mil]. Só que, quando vai comprar, não tem. Só encontra, e bem mais caro, em cavistas, aqueles caras que, quando alguém solicita, pedem uns dias e vão atrás, provavelmente em adegas particulares", diz Beato.
Com menos tempo de estrada, mas grandes vinhos na bagagem, Tiago Locatelli, 28, prova que é possível sonhar com os pés mais próximos ao chão. Elegeu um vinho alemão, produzido num vinhedo muito pequeno e íngreme. Comparado a um de seus preferidos -o caro Château Palmer 1945-, fica "barato" -cerca de US$ 400 (R$ 900). "Não vem para cá porque é produzido em pequenas quantidades", diz Locatelli, na profissão há cinco anos.

Sorte
Sommelière da Salton, Carina Cooper, 45, hesitou para escolher "só um". Acha que a sorte fala mais alto. "Tem tanta coisa que a gente não imagina e cai na mão. Estar aberto para isso é mais divertido do que querer um só", diz.
A sorte parece conspirar a favor dela. No ano passado, esteve em Jerez, na Espanha, para participar da feira Vinoble. Foi surpreendida com um convite para uma degustação de várias safras de Château d'Yquem. "Nem dormi direito naquele dia. Esse vinho me emocionou inexplicavelmente."
Mas nem tudo é emoção. Até os grandes vinhos têm seu dia de vinagre. Quando ainda era sommelière do D.O.M., Alexandra Corvo, 33, atendeu certa vez "12 clientes super-ricos" de uma confraria. "Cada um levou uma garrafa. Abri o primeiro, um Château Beychevelle 1961, e estava morto! Sabe redução de vinagre balsâmico no nariz? Mas eles provaram e nem ficaram tristes. Tinham outros 11."
O primeiro contato de Beato com um Pétrus 1961, estimado em US$ 8.000 (cerca de R$ 18 mil), foi um desastre. "Estava bouchenée [com aroma de rolha]. Ficou aquela frustração."
Nada que uma degustação, anos depois, de três safras de Pétrus (1982, 1970 e 1961) não tenha compensado a espera.


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