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Berlim abre festival com drama político chinês
"Apart Together", de Wang Quan'an, é primeiro filme na competição da 60ª edição
Diretor, vencedor do Urso de Ouro em 2007, disse que não teve problemas com a censura, mas sim com as empresas de distribuição
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Em ano de comemoração, o
60º Festival de Cinema de Berlim (Berlinale) escolheu abrir
os festejos, ontem, com um soturno drama político chinês,
"Apart Together" (separados
juntos, em tradução livre), de
Wang Quan'an, diretor que já
recebeu o Urso de Ouro.
Em seu quinto filme, ele volta a usar uma história real para
falar de amor e separação, como no premiado "O Casamento
de Tuya". Mas, desta vez, Quan'an procura traçar um paralelo entre a situação dos personagens e o racha de seu país com
Taiwan, considerada pela China uma Província rebelde, mas
que tem governo autônomo há
60 anos.
Foi por causa do Partido Comunista, no poder desde 1949,
que Liu Yansheng (Ling Feng),
que lutara contra o regime, se
mudou para Taiwan, deixando
seu primeiro amor e o filho do
casal para trás. Mais de cinco
décadas depois, ao ficar viúvo,
volta a Xangai em busca dos sonhos antigos.
Lá vive Qiao Yu-e (Lisa Lu, de
"O Último Imperador"), rodeada por uma família, mas ainda
apaixonada pelo namorado que
foi embora. Ela faz a opção mais
difícil -sair de Xangai e passar
os últimos anos de sua vida em
Taiwan.
Convence o marido a dar a
ela o divórcio, mas, entre pitadas de humor negro em meio ao
drama da separação, ele sofre
um derrame, criando o dilema
com o qual o diretor pretende
demonstrar que não é fácil a tão
desejada reunificação.
Rodado em Xangai em 2009,
ano em que outros filmes comemoravam os 60 anos do poder comunista no país, "Apart
Together" não teve problemas
com a censura, segundo Quan'an. "Acho que foi um recorde,
nunca passamos tão rápido pelos censores", disse, em coletiva
ontem, em Berlim.
"Não é a censura o nosso
maior problema, e sim as distribuidoras, que escolhem produções muito comerciais para colocar em cartaz."
Com 93 minutos e longas sequências que fizeram alguns
jornalistas dormirem ou deixarem a sessão para a imprensa, o
filme de fato não se encaixa
nesse perfil. Mas, com forte discurso político e uma atriz chinesa no júri da Berlinale (Yu
Nan, que participou de todos os
outros quatro filmes de Quan'an), talvez "Apart Together"
tenha chances de levar um Urso. A depender dos outros 19
longas, a serem exibidos até o
fim da semana que vem.
A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a
convite do festival
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