São Paulo, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

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Berlim abre festival com drama político chinês

"Apart Together", de Wang Quan'an, é primeiro filme na competição da 60ª edição

Diretor, vencedor do Urso de Ouro em 2007, disse que não teve problemas com a censura, mas sim com as empresas de distribuição

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Em ano de comemoração, o 60º Festival de Cinema de Berlim (Berlinale) escolheu abrir os festejos, ontem, com um soturno drama político chinês, "Apart Together" (separados juntos, em tradução livre), de Wang Quan'an, diretor que já recebeu o Urso de Ouro. Em seu quinto filme, ele volta a usar uma história real para falar de amor e separação, como no premiado "O Casamento de Tuya". Mas, desta vez, Quan'an procura traçar um paralelo entre a situação dos personagens e o racha de seu país com Taiwan, considerada pela China uma Província rebelde, mas que tem governo autônomo há 60 anos.
Foi por causa do Partido Comunista, no poder desde 1949, que Liu Yansheng (Ling Feng), que lutara contra o regime, se mudou para Taiwan, deixando seu primeiro amor e o filho do casal para trás. Mais de cinco décadas depois, ao ficar viúvo, volta a Xangai em busca dos sonhos antigos.
Lá vive Qiao Yu-e (Lisa Lu, de "O Último Imperador"), rodeada por uma família, mas ainda apaixonada pelo namorado que foi embora. Ela faz a opção mais difícil -sair de Xangai e passar os últimos anos de sua vida em Taiwan.
Convence o marido a dar a ela o divórcio, mas, entre pitadas de humor negro em meio ao drama da separação, ele sofre um derrame, criando o dilema com o qual o diretor pretende demonstrar que não é fácil a tão desejada reunificação.
Rodado em Xangai em 2009, ano em que outros filmes comemoravam os 60 anos do poder comunista no país, "Apart Together" não teve problemas com a censura, segundo Quan'an. "Acho que foi um recorde, nunca passamos tão rápido pelos censores", disse, em coletiva ontem, em Berlim.
"Não é a censura o nosso maior problema, e sim as distribuidoras, que escolhem produções muito comerciais para colocar em cartaz."
Com 93 minutos e longas sequências que fizeram alguns jornalistas dormirem ou deixarem a sessão para a imprensa, o filme de fato não se encaixa nesse perfil. Mas, com forte discurso político e uma atriz chinesa no júri da Berlinale (Yu Nan, que participou de todos os outros quatro filmes de Quan'an), talvez "Apart Together" tenha chances de levar um Urso. A depender dos outros 19 longas, a serem exibidos até o fim da semana que vem.

A repórter CRISTINA FIBE está hospedada a convite do festival



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