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A tragédia da vez
Indicação de "Preciosa", de Lee Daniels, para concorrer a seis Oscars confirma tendência de Hollywood de valorizar desgraças e catástrofes emocionais
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
Em Hollywood, entretenimento pode significar muita
choradeira. É o caso de "Preciosa - Uma História de Esperança", filme que atinge nota máxima no quesito catástrofe emocional. Não à toa, concorre a
seis Oscars, incluindo melhor
filme e diretor, confirmando a
vocação dos prêmios para escolher uma história de desgraça a
cada ano.
"Preciosa" também traz ineditismos: Lee Daniels é o primeiro negro a dirigir um longa
indicado ao Oscar de melhor
filme e a produzir um trabalho
ganhador de uma estatueta, "A
Última Ceia" (2001), recebida
por Halle Berry, primeira negra
com o prêmio de melhor atriz.
Baseado em livro da autora
americana Sapphire, "Preciosa" conta o drama de uma garota negra de 16 anos, pobre, obesa e analfabeta, moradora do
Harlem, em Nova York. É mãe
de dois filhos, um com síndrome de Down e ambos resultado
de estupro do pai. Ainda assim,
não perde a imaginação e tem
seus momentos quando sonha
que é famosa, cheia de glamour.
"Criei esse mundo de fantasia para dar um respiro ao público. Tantas coisas horríveis
acontecem com ela no livro, seria pornográfico levar tudo à tela", disse Daniels, 50, à Folha.
"Acho que o humor ajuda a digerir a devastação que testemunhamos no filme."
Para conseguir os direitos do
livro, Daniels conta que "perseguiu" Sapphire por nove anos.
"Nunca tinha lido nada tão verdadeiro, tão brutal. Foi como
um murro no estômago."
Este é o segundo longa que
Daniels dirige, mas sua experiência em tragédias vem de
longa data. O diretor fala abertamente da infância complicada que teve, com o pai abusivo
que batia nele e a juventude
marcada por drogas que, segundo ele, o levaram a ter um
ataque do coração.
Talvez seja esse passado que
o tenha feito trilhar por filmes
pesados -produziu também
"O Lenhador" (2004), no qual
Kevin Bacon faz um pedófilo, e
estreou na direção com o filme
de título autoexplicativo "Matadores de Aluguel" (2006).
"Sou muito atraído por essas
coisas [pesadas] a cada filme
que passa. É inconsciente. Não
planejo fazer filmes obscuros,
mas de alguma maneira isso
acaba acontecendo", diz Daniels. "Não tenho a resposta."
O filme teve indicações ao
Oscar de melhor atriz para Gabourey Sidibe (papel-título) e
atriz coadjuvante para Mo'Nique (que faz sua mãe abusiva).
Apesar de desconhecidas, elas
têm a companhia de duas estrelas, os músicos Lenny Kravitz e Mariah Carey, amigos de
Daniels, que fazem pontas como um enfermeiro e uma funcionária do serviço social.
"Entrevistei umas 500 meninas, todas preciosas. Mas Gabourey apareceu e foi incrível.
É muito esperta", diz o diretor.
Entre seus próximos projetos há o filme "Miss Saigon",
um musical sobre drag queens,
e o drama "Selma", sobre as
conturbadas passeatas no Alabama pelos direitos civis dos
negros, em 1965.
"Estou desenvolvendo várias
coisas, mas nada é certo. Sabe,
odeio ficar falando, de ficar "zicando'", diz, rindo. "É como falar de Oscar, dá azar! Me deixa
muito nervoso, entende?".
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