São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2011

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OPINIÃO MÚSICA ERUDITA

Alsop encanta com jeito firme e sem arrogância

Dos que regeram em 2010, ela talvez seja a que mais se arriscou


ALSOP É O QUE DEVE SER UM MÚSICO DO SÉCULO 21. SUA PRESENÇA MAIS CONSTANTE ENTRE NÓS DEVE SER COMEMORADA

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Em sua primeira experiência com a Osesp, em setembro passado, Marin Alsop regeu uma obra bastante difícil -tanto para ela quanto para os músicos-, a "Sétima Sinfonia" de Mahler (1860-1911).
Soube ensaiar (muita gente não se dá conta de como isso é importante no trabalho diário com uma orquestra), interagiu bem com os músicos e, o mais importante, não jogou na defesa.
A marca de sua interpretação foi o fato de não se assemelhar a nenhuma das gravações disponíveis da obra, o que inclui a antológica versão de seu mestre, Leonard Bernstein (1918-1990).
Porém não foi só isso: parecia, de fato, que ela não havia trazido ideias fechadas de Baltimore, onde trabalha há muitos anos. Havia estudado profundamente a obra, mas foi o contato direto com a orquestra que fez nascer aquela divisão clara entre o som dos primeiros violinos, segundos violinos e violas, e a continuidade das frases a passar de um lado a outro da Sala São Paulo no "Scherzo".
De todos os (notáveis) regentes que passaram pela Osesp em 2010, Alsop talvez tenha sido quem mais se arriscou. E encantou todos com um jeito firme e franco: uma competência incontestável, mas sem arrogância, alguém que busca o melhor som sem deixar de olhar nos olhos dos músicos.
Um exemplo de sua disponibilidade foi ter encontrado uma brecha na agenda para atender ao convite da Folha e participar de uma mesa redonda no auditório do jornal.
Ela comentou com detalhes os projetos sociais que desenvolve nas comunidades carentes na periferia de Baltimore, e como foi difícil, no início, sensibilizar a própria orquestra para essas atividades.
Não é exagero dizer que todos saíram emocionados desse encontro com ela, com a certeza de que é possível juntar qualidade musical e cidadania, sem ranço populista ou demagógico.
Alsop é o que deve ser um músico do século 21. Sua presença mais constante entre nós deve ser comemorada, e a Osesp, com ela, tem tudo para vencer novos desafios no caminho de se tornar a grande referência internacional entre as orquestras da América Latina.
Alsop parece afinada com esse destino: a última pergunta da mesa na Folha foi sobre a visão de Mahler que ela pretendia imprimir em sua estreia com a Osesp no dia seguinte.
Foi quando ela convidou todos a procurar, com ela, na universalidade dos desvios sonoros do compositor clássico europeu, os traços possíveis de nossa cultura latina, a visão de mundo que ainda nos resta construir.


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