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CRÍTICA
Nova chance de ver o descobridor do Brasil
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Disse um certo dia Monteiro
Lobato (1882-1948): "Outra
coisa não fez Gilberto Freyre senão revelar-nos a nós mesmos,
contar o que somos e porque somos assim e não de outro modo".
Muita gente demorou a saber
disso, sobretudo por causa da
universidade paulista, que tentou
atravancar o caminho do homem
de "Casa-Grande & Senzala". No
Pernambuco do próprio, a peleja
também não foi fácil. Ele deslizou
no massapê, comeu muito barro,
até ser mais ou menos aceito. Como Freyre (1900-1987) mesmo
disse, Recife não é de abrir o riso
assim para qualquer um.
Freyre sempre foi muito xeleléu
do poder de direita no Brasil. E
muito bajulado por este. Deu e recebeu. Daí o olho atravessado da
USP e principalmente de Pernambuco, terra onde o muro de
Berlim caiu por último, graças a
Deus. Mas o homem é grande. O
cineasta Nelson Pereira dos Santos diz isso direitinho no seu "Gilberto Freyre, o Cabral Moderno",
série de quatro programas que o
GNT reapresenta nesta semana.
Santos é um destemido. É o
mesmo que levou "Vidas Secas",
um romance que não carecia do
latido e da moda fácil do cinema,
às telas. E não fez neo-realismo
alagoano à toa. Fez bonito. Com
Freyre, descansou um pouco o
olho, apostou na narrativa da afetividade máxima. Não busquem
grandes planos na série. Joaquim
Pedro de Andrade, amigo que sabia filmar literatura, já havia morrido, fez falta.
A afetividade do Cabral moderno ficou por conta do escritor Edson Nery da Fonseca, chegado de
Freyre, escolhido para dizer, tintim por tintim, as etapas da obra e
dos segredos de "Casa-Grande &
Senzala". É a voz do amigo mais
próximo que atravessa todo o documentário. Com o dengo das
boas histórias. Quase um cafuné
de vó na varanda. Ou de um alpendre olindense, de onde se avista o Recife começo do mundo.
Freyre, pelo amigo-mor Fonseca, conta o Brasil que Aldous
Huxley, o cabra do admirável
mundo novo, definiu, depois de
muito licor de pitanga, como "um
dos países mais improváveis que
tenho conhecido". Os dois se encontraram à sombra de Apipucos,
Recife. A lembrança é tirada do livro "O Brasil de Gilberto Freyre",
precioso guia de iniciação à obra
do pernambucano, do escritor
Mário Hélio, com ilustrações de
José Cláudio. Livro que carece de
edição nacional.
Enquanto isso, Nelson Pereira
dos Santos conta a sua história.
Gilberto Freyre, o Cabral
Moderno
Quando: hoje, às 23h20, no GNT
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