São Paulo, quinta, 12 de março de 1998

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Gismonti faz shows em parceria com seus filhos

especial para a Folha

O compositor e multinstrumentista Egberto Gismonti, 50, abre amanhã a programação musical do evento "Viagens". No show, os filhos do músico farão sua estréia no palco (Alexandre tem 17 anos e toca violão, Bianca, 15, vai se apresentar ao piano).
Recém-chegado de uma turnê no Reino Unido, Gismonti concedeu esta entrevista à Folha, por telefone, de sua casa no Rio. (FL)

Folha - Como serão seus espetáculos no Itaú Cultural?
Egberto Gismonti -
Vão ser apresentações sem relação com nenhum disco ou projeto que eu já tenha feito ou vá fazer. A intenção é tocar e depois ficar conversando com as pessoas que se interessarem. É uma coisa que eu tenho feito nos últimos anos e tem sido ótimo.
A intenção do espetáculo é também comemorar o fato de que a música brasileira vai bem nos quatro cantos do mundo. Quero reunir pessoas de gerações diferentes, que gostam de música brasileira, para tocarmos juntos.
Folha - E a participação de seus filhos nos shows?
Gismonti -
Resolvi aproveitar essa oportunidade -uma série de apresentações informais em um lugar agradável e pequeno- para que eles estreassem.
Achei também que o tema "Viagens", que o Nelson Ayres me apresentou ao fazer o convite, seria adequado a experiências novas. Então o Alexandre e a Bianca estão embarcando nessa viagem também, participando de umas três ou quatro músicas.
Folha - Além dos seus filhos, outros músicos devem participar das apresentações?
Gismonti -
Estarão lá o Nando Carneiro e o Zeca Assunção, que tocam normalmente comigo. E, provavelmente, vai haver um convidado para cada uma das seis apresentações.
Como o quarteto de violões Quaternaglia, a Marlui Miranda (cantora), o andré Jereissati e Paulo Belinatti (violonistas).
Folha - Atualmente, você faz mais apresentações no exterior do que no Brasil?
Gismonti -
Eu costumo fazer quatro ou cinco meses de turnê fora do Brasil, tocando em mais de vinte países a cada ano. No total, faço mais concertos no exterior do que no Brasil. Mas o país em que eu mais me apresento é o Brasil. Aqui eu faço de trinta a quarenta apresentações por ano, o que, para o meu calendário, é bastante razoável.
Folha - Como foi a turnê que você acabou de fazer no Reino Unido?
Gismonti -
Foi uma turnê com uma orquestra, coisa que eu faço muito. A novidade é que foi no Reino Unido, que tem um sindicato muito complicado. Mas dessa vez o sindicato deles, juntamente com um instituto cultural, resolveu apoiar a realização de uma turnê de um estrangeiro, com uma orquestra inglesa.
Isso mostra que a música brasileira tem a possibilidade de entrar e ser aceita até mesmo em mercados muito fechados e com espetáculos complexos em termos de produção. Mais uma prova de que o respeito que o Brasil merece é conquistado por meio das artes.
Você vê qualidades genéricas na produção artística brasileira?
Gismonti -
Para começar, o brasileiro tem uma qualidade importantíssima: ele não tem medo de cultura nenhuma. Porque todas as culturas são nossas também. Nós somos privilegiados quando se trata de misturar, experimentar... Cada um de nós é essencialmente plural, como Fernando Pessoa com seus heterônimos. Isso é muito bonito e estimulante. E é daí que vêm todas as contradições do Brasil.
No meu caso, não posso imaginar dádiva maior que ter nascido brasileiro. O Brasil tem me possibilitado fazer a música que eu quero, do jeito que eu quero. E é porque eu carrego o Brasil comigo que tenho tanta facilidade de andar pelo mundo afora.
Folha - Dentro do evento "Viagens", qual será a proposta do seu espetáculo?
Gismonti -
Olha, eu não sei. Eu sabia o que estava fazendo há uns dez ou quinze anos. Hoje em dia, eu já não sei mais. Só sei que estou me divertindo com o que estou fazendo. Espero que as apresentações passem alegria para as pessoas e, quem sabe, a sensação que a gente, aqui no Brasil, pode fazer muitas coisas com qualidade, desde as coisas mais simples até as mais complexas. A minha posição pode parecer romântica, mas não é. Meu entusiasmo vem do fato do Brasil ter sobrevivido a esses 500 anos, tendo a música como fundamento.


Show: A Grande Salada
Com: Egberto Gismonti e convidados
Quando: sex. e sáb., às 20h, dom., às 19h; até 22/03
Onde: Instituto Itaú Cultural - sala azul
Quanto: entrada franca (ingressos devem ser retirados no local, a partir das 10h do dia da apresentação)



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