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Gismonti faz shows em parceria com seus filhos
especial para a Folha
O compositor e multinstrumentista Egberto Gismonti, 50, abre
amanhã a programação musical
do evento "Viagens". No show, os
filhos do músico farão sua estréia
no palco (Alexandre tem 17 anos e
toca violão, Bianca, 15, vai se apresentar ao piano).
Recém-chegado de uma turnê
no Reino Unido, Gismonti concedeu esta entrevista à Folha, por telefone, de sua casa no Rio.
(FL)
Folha - Como serão seus espetáculos no Itaú Cultural?
Egberto Gismonti - Vão ser
apresentações sem relação com
nenhum disco ou projeto que eu já
tenha feito ou vá fazer. A intenção
é tocar e depois ficar conversando
com as pessoas que se interessarem. É uma coisa que eu tenho feito nos últimos anos e tem sido ótimo.
A intenção do espetáculo é também comemorar o fato de que a
música brasileira vai bem nos quatro cantos do mundo. Quero reunir pessoas de gerações diferentes,
que gostam de música brasileira,
para tocarmos juntos.
Folha - E a participação de seus
filhos nos shows?
Gismonti - Resolvi aproveitar
essa oportunidade -uma série de
apresentações informais em um
lugar agradável e pequeno- para
que eles estreassem.
Achei também que o tema "Viagens", que o Nelson Ayres me
apresentou ao fazer o convite, seria adequado a experiências novas.
Então o Alexandre e a Bianca estão
embarcando nessa viagem também, participando de umas três ou
quatro músicas.
Folha - Além dos seus filhos, outros músicos devem participar das
apresentações?
Gismonti - Estarão lá o Nando
Carneiro e o Zeca Assunção, que
tocam normalmente comigo. E,
provavelmente, vai haver um convidado para cada uma das seis
apresentações.
Como o quarteto de violões Quaternaglia, a Marlui Miranda (cantora), o andré Jereissati e Paulo Belinatti (violonistas).
Folha - Atualmente, você faz
mais apresentações no exterior do
que no Brasil?
Gismonti - Eu costumo fazer
quatro ou cinco meses de turnê fora do Brasil, tocando em mais de
vinte países a cada ano. No total,
faço mais concertos no exterior do
que no Brasil. Mas o país em que
eu mais me apresento é o Brasil.
Aqui eu faço de trinta a quarenta
apresentações por ano, o que, para
o meu calendário, é bastante razoável.
Folha - Como foi a turnê que você acabou de fazer no Reino Unido?
Gismonti - Foi uma turnê com
uma orquestra, coisa que eu faço
muito. A novidade é que foi no
Reino Unido, que tem um sindicato muito complicado. Mas dessa
vez o sindicato deles, juntamente
com um instituto cultural, resolveu apoiar a realização de uma
turnê de um estrangeiro, com uma
orquestra inglesa.
Isso mostra que a música brasileira tem a possibilidade de entrar
e ser aceita até mesmo em mercados muito fechados e com espetáculos complexos em termos de
produção. Mais uma prova de que
o respeito que o Brasil merece é
conquistado por meio das artes.
Você vê qualidades genéricas na
produção artística brasileira?
Gismonti - Para começar, o
brasileiro tem uma qualidade importantíssima: ele não tem medo
de cultura nenhuma. Porque todas
as culturas são nossas também.
Nós somos privilegiados quando
se trata de misturar, experimentar... Cada um de nós é essencialmente plural, como Fernando
Pessoa com seus heterônimos. Isso é muito bonito e estimulante. E
é daí que vêm todas as contradições do Brasil.
No meu caso, não posso imaginar dádiva maior que ter nascido
brasileiro. O Brasil tem me possibilitado fazer a música que eu quero, do jeito que eu quero. E é porque eu carrego o Brasil comigo
que tenho tanta facilidade de andar pelo mundo afora.
Folha - Dentro do evento "Viagens", qual será a proposta do seu
espetáculo?
Gismonti - Olha, eu não sei. Eu
sabia o que estava fazendo há uns
dez ou quinze anos. Hoje em dia,
eu já não sei mais. Só sei que estou
me divertindo com o que estou fazendo. Espero que as apresentações passem alegria para as pessoas e, quem sabe, a sensação que
a gente, aqui no Brasil, pode fazer
muitas coisas com qualidade, desde as coisas mais simples até as
mais complexas. A minha posição
pode parecer romântica, mas não
é. Meu entusiasmo vem do fato do
Brasil ter sobrevivido a esses 500
anos, tendo a música como fundamento.
Show: A Grande Salada
Com: Egberto Gismonti e convidados
Quando: sex. e sáb., às 20h, dom., às 19h;
até 22/03
Onde: Instituto Itaú Cultural - sala azul
Quanto: entrada franca (ingressos devem
ser retirados no local, a partir das 10h do
dia da apresentação)
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