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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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Descaminhos da expansão inglesa no século 19 formam cenário de "O Afinador de Piano"

Quando um império desafina

Stephen Shaver/France Presse - 27.jun.2002
Mulher caminha sobre trilhos de trem que levam a Yangum, capital de Mianmar


SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

O Império Britânico vive um impasse. Depois de avançar por três continentes, o Exército da rainha Vitória depara-se com dificuldades para conquistar a Birmânia, na Ásia meridional. Além da ameaça do avanço francês, os ingleses precisam pacificar os irascíveis chans, única forma de equilibrar a tensão local.
Para isso, contam com apenas uma arma, um excêntrico oficial que construiu para si um paradisíaco forte e que possui uma habilidade única para negociar com as autoridades nativas. Só o que o major Carroll exige para trabalhar é que seu piano esteja em ordem. Neste momento, porém, ele está horrivelmente desafinado.
É desta desarmonia geopolítica e musical que parte o romance de estréia do norte-americano Daniel Mason, "O Afinador de Piano", que acaba de ser lançado no Brasil. Com apenas 26 anos, Mason já é best-seller nos EUA e na Inglaterra e está sendo lançado em mais de 20 países.
A ação principia na Londres de fins do século 19, onde Edgar Drake, um discreto afinador de pianos, leva uma vida pacata ao lado da mulher até ser convocado pelo Exército a cumprir uma inusitada missão, partir imediatamente para a então Birmânia (hoje Mianmar) e fazer com que o piano do esquisito oficial -uma espécie de coronel Kurtz de "O Coração das Trevas"- volte a soar apropriadamente. Só assim, o Império pode contar com seus serviços e assegurar seu poderio na região.
De típico romance vitoriano, o livro transforma-se numa narrativa épica de viagem, ao mesmo tempo em que se volta para o coração e o espírito de Edgar -em constante transformação diante do novo mundo que descobrem.
De Londres a Yangun (ex-Rangum), daí a Mandalay e no difícil percurso até a fortaleza do major Carroll, o afinador reflete sobre sua condição ocidental e questiona aspectos negativos e positivos da presença britânica na região.
Mason partiu de sua própria experiência. Depois de formar-se em biologia, viveu por um ano entre Mianmar e a Tailândia, estudando a malária -outro importante personagem do romance.


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