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FOUCAULT EM 90 MINUTOS
Biografia vê filósofo sem moralismos
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Outros tantos filósofos não
tiveram, mas Michel Foucault (1926-1984) teve um badalo
midiático e acadêmico de norte a
sul, cujo ponto de partida foi o
maio de 68 francês, embora nesse
ano estivesse na Tunísia dando
aulas, com seu amante, curtindo
haxixe e "jovens árabes bonitos",
coincidindo mais ou menos com
a estada lá de Frantz Fanon, o negro psiquiatra revolucionário da
Martinica, que amargou, no entanto, um ostracismo autoral por
causa de seu terceiromundismo.
A badalação acadêmica, acompanhada de autopromoção, em
que os intelectuais franceses são
mestres, não é incompatível com
valor intelectual. Vá lá a tradução
onomástica bárbara: "Fucô" é
sem dúvida autor de boas sacadas
como saber igual a poder, microfísica do poder (cadeia, escola,
hospital psiquiátrico), controle e
vigilância do olhar panóptico,
mas também é responsável por
um relativismo pós-moderno sobre a verdade que descarta a perspectiva das grandes transformações históricas. Não há alternativa. Marxismo, sujeito histórico e
proletariado estão mortos.
É um ícone intelectual do nosso
tempo, segundo Paul Strathern.
Talentoso e apadrinhado por gente graúda, "Fucô" começou a lecionar em 69 no consagrado Collège de France. Após romper com
seu primeiro amante, foi lecionar
na Suécia, onde comprou um carrão Jaguar, mariscando à noite
aventura amorosa. Atraído pelo
sublimado Nietzsche, rodou a
baiana na gandaia sexual sueca.
Mais tarde, em Paris, conheceu
um estudante com quem viveu 20
anos, mas sem monogamia.
Aos 40 e poucos anos recebeu
herança do pai médico, comprou
apê de cobertura onde plantava
cannabis e de onde exercitava o
binóculo voyeur na vizinhança.
Aí pintou a contracultura californiana nos anos 70. Lá estava
"Fucô" dando aulas e pesquisando "nas terras e salões sadomasôs
de San Francisco". O sadomasoquismo: dor e prazer. Doidaço.
Ácido. Morfina. Atropelado na
rua por um carro, declarou que
teve um prazer intenso de estar
morrendo: "Sempre tive a sensação de que não sinto o prazer. O
prazer completo, total, para mim
está relacionado com a morte".
Em 1984, morreu de Aids. O
moralismo deve ser deixado de lado no julgamento do filósofo e do
seu comportamento sexual. Não é
toda hora que surge por aí alguém
que faz o que gosta na vida.
Foucault em 90 Minutos
Autor: Paul Strathern
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 12 (88 págs.)
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