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"DEPOIMENTO DE UMA GERAÇÃO"
Textos revelam a resistência da modernidade
GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA
É em boa hora que o livro "Depoimento de uma Geração",
organizado por Alberto Xavier, é
reeditado. Referência importante
no debate teórico sobre arquitetura brasileira desde que foi lançado, em 1987, e há muito tempo esgotado, o livro retorna às livrarias
com o excelente padrão editorial e
gráfico da Cosac & Naify.
Alguns acréscimos significativos foram feitos, como a inclusão
de textos de Mário Pedrosa, personagem fundamental para a definição de uma crítica de arquitetura no Brasil, e a criação de uma
seção nova que contém os segmentos "olhar estrangeiro" e "visão brasileira", confrontando a
nossa visão "interna" com a opinião de arquitetos e críticos estrangeiros, como Giedion, Rogers, Max Bill e Argan.
Reconhecido pelo esmero em
seu trabalho de pesquisa, o professor Xavier é responsável também pela edição "precoce", ainda
nos anos 60 e 70, de duas antologias da obra de Lucio Costa. Vem
daí a sua indisfarçável filiação ao
pensamento do arquiteto carioca,
transparecendo na organização
do livro, que corrobora a idéia de
que a arquitetura produzida em
São Paulo antes da chegada de Le
Corbusier era "importada". Isto,
contudo, representa um posicionamento no debate historiográfico, e não um problema editorial.
Outras questões possíveis de se
levantar são: o livro ficou datado?
Interessa apenas a especialistas? É
preciso dizer que se trata, de fato,
de um registro de época, e que
contém discussões específicas,
que interessam sobretudo ao estudioso do assunto. Mas as combina a outros textos muito abertos, que são capazes de trazer a
discussão da arquitetura para o
terreno mais vasto da cultura brasileira escritos por Mário de Andrade, Joaquim Cardozo, Drummond, e Nélson Werneck Sodré,
por exemplo. Além de um texto
raro escrito por José Lins do Rego
sobre a relação entre a construção
e a paisagem no Brasil.
Por isso, e por outros motivos,
não se pode dizer que o livro seja
datado. Afinal, o moderno, no
Brasil, está longe de ser uma questão superada. Uma boa chave para reavaliar o problema surge numa observação de Argan, em texto até então desconhecido no Brasil. Avesso à condenação dessa arquitetura através do rótulo de
"formalista", o historiador italiano entrevê, nela, uma legitimidade implicada na sua combinação
secreta entre o "funcional e o representativo". Isto é: entre a técnica e a exaltação da técnica.
Depoimento de uma Geração
Organizador: Alberto Xavier
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 49 (402 págs.)
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