UOL


São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"DEPOIMENTO DE UMA GERAÇÃO"

Textos revelam a resistência da modernidade

GUILHERME WISNIK
CRÍTICO DA FOLHA

É em boa hora que o livro "Depoimento de uma Geração", organizado por Alberto Xavier, é reeditado. Referência importante no debate teórico sobre arquitetura brasileira desde que foi lançado, em 1987, e há muito tempo esgotado, o livro retorna às livrarias com o excelente padrão editorial e gráfico da Cosac & Naify.
Alguns acréscimos significativos foram feitos, como a inclusão de textos de Mário Pedrosa, personagem fundamental para a definição de uma crítica de arquitetura no Brasil, e a criação de uma seção nova que contém os segmentos "olhar estrangeiro" e "visão brasileira", confrontando a nossa visão "interna" com a opinião de arquitetos e críticos estrangeiros, como Giedion, Rogers, Max Bill e Argan.
Reconhecido pelo esmero em seu trabalho de pesquisa, o professor Xavier é responsável também pela edição "precoce", ainda nos anos 60 e 70, de duas antologias da obra de Lucio Costa. Vem daí a sua indisfarçável filiação ao pensamento do arquiteto carioca, transparecendo na organização do livro, que corrobora a idéia de que a arquitetura produzida em São Paulo antes da chegada de Le Corbusier era "importada". Isto, contudo, representa um posicionamento no debate historiográfico, e não um problema editorial.
Outras questões possíveis de se levantar são: o livro ficou datado? Interessa apenas a especialistas? É preciso dizer que se trata, de fato, de um registro de época, e que contém discussões específicas, que interessam sobretudo ao estudioso do assunto. Mas as combina a outros textos muito abertos, que são capazes de trazer a discussão da arquitetura para o terreno mais vasto da cultura brasileira escritos por Mário de Andrade, Joaquim Cardozo, Drummond, e Nélson Werneck Sodré, por exemplo. Além de um texto raro escrito por José Lins do Rego sobre a relação entre a construção e a paisagem no Brasil.
Por isso, e por outros motivos, não se pode dizer que o livro seja datado. Afinal, o moderno, no Brasil, está longe de ser uma questão superada. Uma boa chave para reavaliar o problema surge numa observação de Argan, em texto até então desconhecido no Brasil. Avesso à condenação dessa arquitetura através do rótulo de "formalista", o historiador italiano entrevê, nela, uma legitimidade implicada na sua combinação secreta entre o "funcional e o representativo". Isto é: entre a técnica e a exaltação da técnica.


Depoimento de uma Geração
     Organizador: Alberto Xavier Editora: Cosac & Naify Quanto: R$ 49 (402 págs.)



Texto Anterior: Trechos
Próximo Texto: Livro/lançamento - "Diário de um fescenino": Novo romance de Rubem Fonseca decepciona
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.