São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Na TV, Roma é mais sexual e violenta

Série da HBO e da BBC aposta na fidelidade histórica e nas características da sociedade pré-cristã para atrair audiência

Para o roteirista britânico Bruno Heller, "Roma" desmonta idéia romantizada da cidade celebrizada pelo cinema


DA ENVIADA ESPECIAL A ROMA

O ex-legionário romano Titus Pullo, de sandálias gastas e roupas puídas, surge, arfando, como se tivesse acabado de sair de uma briga de rua. Senta numa cadeira, puxa a espada e a deposita a seu lado. Já desarmado, pega uma garrafinha plástica de água -invenção bem posterior à queda do Império Romano, mas bastante útil no verão italiano dos nossos dias- e encara um grupo de jornalistas latino-americanos.
O encontro, que parece anacrônico e inverossímil, se explica. Trata-se de uma entrevista de um dos protagonistas de "Roma", co-produção entre a norte-americana HBO e a britânica BBC, para divulgar a segunda temporada do programa.
"Agora sou um soldado que largou as trincheiras e tenta aprender os códigos da sociedade romana para ter vida normal na cidade", conta o irlandês Ray Stevenson sobre o destino de Pullo nos próximos capítulos.
Desde o começo de "Roma", o personagem é uma espécie de personificação da busca pelo "sonho romano" (numa analogia ao chamado "sonho americano"). Um filho de escrava que se torna herói do exército de César. Finda a guerra, Pullo deixa a legião e tenta se ajustar ao dia-a-dia da metrópole. "Dizem que ele é bruto demais, mas trata-se de um homem que vive sob outro código de conduta. Por ser romano, achava que ele era a lei. Como soldado romano, então, via-se como instrumento de implantação dessa lei", diz Stevenson.

Rigor histórico
O rigor com relação à caracterização da época e aos fatos é um dos principais ingredientes do sucesso de "Roma" até aqui.
A série mais cara da TV, com orçamento de cerca de US$ 100 milhões por temporada, não economiza nos detalhes.
Dentro dos cinco acres que ocupa nos estúdios da Cinecittà estão ruas, casas, o Fórum, praças e passagens escuras da cidade. Além da oficina dedicada a reproduzir moedas, armas, carruagens e outros objetos, há uma verdadeira confecção, que já produziu mais de 4 mil peças de vestuário para o elenco.
Existe, ainda, um assessor militar, Billy Budd, que treinou os atores para lutar como naquele tempo. "A técnica da muralha de escudos, na qual os soldados da linha de frente se revezavam com os de trás, permitia que lutassem descansados. Foi o segredo de muitas conquistas de Roma."
A série traz tramas e personagens ficcionais amarrados ao enredo histórico propriamente dito. O cuidado em não ferir a macro-história, porém, prevalece. Mesmo os que não existiram "de verdade" são construídos a partir de referências biográficas documentadas. Outro foco buscado é a "desromantização" da imagem de Roma. "Nos acostumamos a ver no cinema uma cidade organizada, limpa, habitada por pessoas bem-vestidas e de modos suaves", diz Bruno Heller. "Hoje sabemos que não era assim." Em "Roma", as ruas são bagunçadas, barulhentas e coloridas. Há, ainda, muita violência e sexo, características de uma sociedade pré-cristã que são garantia de sucesso de audiência hoje. "Sem entender esse modo agressivo, físico, dos romanos, é difícil compreender como César pôde ser morto daquele jeito, por exemplo. São características essenciais para entender os rumos daquela civilização", conclui Heller.


A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da HBO

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