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Na TV, Roma é mais sexual e violenta
Série da HBO e da BBC aposta na fidelidade histórica e nas características da sociedade pré-cristã para atrair audiência
Para o roteirista britânico Bruno Heller, "Roma" desmonta idéia romantizada da cidade celebrizada pelo cinema
DA ENVIADA ESPECIAL A ROMA
O ex-legionário romano Titus Pullo, de sandálias gastas e
roupas puídas, surge, arfando,
como se tivesse acabado de sair
de uma briga de rua. Senta numa cadeira, puxa a espada e a
deposita a seu lado. Já desarmado, pega uma garrafinha
plástica de água -invenção
bem posterior à queda do Império Romano, mas bastante
útil no verão italiano dos nossos dias- e encara um grupo de
jornalistas latino-americanos.
O encontro, que parece anacrônico e inverossímil, se explica. Trata-se de uma entrevista
de um dos protagonistas de
"Roma", co-produção entre a
norte-americana HBO e a britânica BBC, para divulgar a segunda temporada do programa.
"Agora sou um soldado que
largou as trincheiras e tenta
aprender os códigos da sociedade romana para ter vida normal
na cidade", conta o irlandês Ray
Stevenson sobre o destino de
Pullo nos próximos capítulos.
Desde o começo de "Roma",
o personagem é uma espécie de
personificação da busca pelo
"sonho romano" (numa analogia ao chamado "sonho americano"). Um filho de escrava que
se torna herói do exército de
César. Finda a guerra, Pullo
deixa a legião e tenta se ajustar
ao dia-a-dia da metrópole. "Dizem que ele é bruto demais,
mas trata-se de um homem que
vive sob outro código de conduta. Por ser romano, achava que
ele era a lei. Como soldado romano, então, via-se como instrumento de implantação dessa lei", diz Stevenson.
Rigor histórico
O rigor com relação à caracterização da época e aos fatos é
um dos principais ingredientes
do sucesso de "Roma" até aqui.
A série mais cara da TV, com
orçamento de cerca de US$ 100
milhões por temporada, não
economiza nos detalhes.
Dentro dos cinco acres que
ocupa nos estúdios da Cinecittà
estão ruas, casas, o Fórum, praças e passagens escuras da cidade. Além da oficina dedicada a
reproduzir moedas, armas, carruagens e outros objetos, há
uma verdadeira confecção, que
já produziu mais de 4 mil peças
de vestuário para o elenco.
Existe, ainda, um assessor
militar, Billy Budd, que treinou
os atores para lutar como naquele tempo. "A técnica da muralha de escudos, na qual os soldados da linha de frente se revezavam com os de trás, permitia que lutassem descansados.
Foi o segredo de muitas conquistas de Roma."
A série traz tramas e personagens ficcionais amarrados ao
enredo histórico propriamente
dito. O cuidado em não ferir a
macro-história, porém, prevalece. Mesmo os que não existiram "de verdade" são construídos a partir de referências biográficas documentadas.
Outro foco buscado é a "desromantização" da imagem de
Roma. "Nos acostumamos a ver
no cinema uma cidade organizada, limpa, habitada por pessoas bem-vestidas e de modos
suaves", diz Bruno Heller. "Hoje sabemos que não era assim."
Em "Roma", as ruas são bagunçadas, barulhentas e coloridas. Há, ainda, muita violência
e sexo, características de uma
sociedade pré-cristã que são
garantia de sucesso de audiência hoje. "Sem entender esse
modo agressivo, físico, dos romanos, é difícil compreender
como César pôde ser morto daquele jeito, por exemplo. São
características essenciais para
entender os rumos daquela civilização", conclui Heller.
A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da HBO
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