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comentário
Série vai além do didatismo redundante
NELSON ASCHER
COLUNISTA DA FOLHA
A história de Roma, sobretudo a do período durante o qual, entre crises e
guerras civis, ela deixou de
ser uma república, transformando-se em monarquia, é bem documentada.
Recontá-la de modo
atraente em uma obra de
ficção requer imaginação.
Embora hoje se saiba
mais sobre as minúcias da
vida cotidiana em diversas
eras do que há poucas décadas, reconstruções cinematográficas recentes das
Cruzadas ou da vida de
Alexandre não superaram
clássicos hollywoodianos.
O caso da série "Roma" é
diferente, pois esta fornece não só uma imagem
plausível do período em
questão, como, transcendendo redundância e didatismo, consegue apresentar como novidade e com
suspense fatos conhecidos. Seu sucesso se deve,
antes de tudo, a ter optado
por mostrá-los segundo
duas perspectivas, a "baixa", dos homens comuns
(por meio das peripécias
de Lucius Vorenus e Titus
Pullo), e a "alta", a dos
grandes agentes políticos
(as intrigas que contrapõem os Julii e os Junii).
O empenho em compreender no que, malgrado as constantes humanas,
a Roma de então se distingue de nosso mundo, seja
na religiosidade ou no erotismo, seja em seus hábitos alimentares e convívio
familiar (mesmo que às
vezes discutíveis pelos historiadores), dá-lhe um sabor único. O mesmo se
aplica à visão adulta da política, uma visão que não
ignora a influência crucial
de acidentes e do acaso.
A primeira parte da série narrou a saga de Júlio
César, desde o momento
em que, voltando vitorioso
da Gália, ele resolve enfrentar os inimigos romanos com suas legiões até
seu assassinato. Agora é a
vez da guerra que oporá os
partidários de César (Marco Antônio e Octavio) a
Brutus e aos demais conspiradores. Em seguida, virão as desavenças entre os
vencedores do primeiro
turno, Octavio e, nupcialmente aliado a Cleópatra,
Marco Antônio.
Mesmo cientes do que
virá, os fãs da série estão
ávidos para ver como, graças a que subterfúgios e
manipulados por que tramas femininas, os personagens chegarão a desfechos tão esperados como,
dois mil anos depois, ainda
surpreendentes.
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