São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

São Paulo

Artigos do "New York Times" não melhoram as periferias, mas refletem o dinamismo e as mudanças da cidade

QUANDO MEU par de sushi predileto finalmente chegou -salmão com sal marinho e limão siciliano-, a mesa já havia se transformado num espetáculo em technicolor, e discutíamos animadamente sobre São Paulo. À minha frente, o arquiteto ítalo-brasileiro, há 17 anos morando em Milão, empenhava-se em recuperar a destreza no uso do hashi, enquanto ensaiava elogios à cidade, que lhe parecia -não sabia precisar o motivo- mais agradável do que em sua última visita, há um ano.
Mostrei-me logo simpático às suas observações, eu que há mais de 20 anos deixei o Rio para viver em São Paulo e ainda me surpreendo a passear pela cidade como um curioso estrangeiro.
Também morei em Milão e sei que São Paulo pode exercer enorme fascínio -ou proporcional desorientação- sobre italianos, não apenas pelas identificações culturais, mas pelo fato de que na Itália não há cidade que proporcione, como a capital paulista, a experiência de se viver numa metrópole moderna. Além disso, para arquitetos europeus, a vertiginosa mobilidade paulistana pode parecer um parque de diversões diante da relativa estagnação urbana do Velho Continente.
Menos entusiasmado, o casal amigo à minha direita, que há dois anos trocou a Holanda por um empreendimento na cidade, queixava-se da desigualdade, da insegurança e das relações com freqüência corruptas impostas pela burocracia e seus agentes paralelos. Para eles o Brasil é ótimo, mas "para passar férias".
O arquiteto, em sua defesa, lembrou casos escabrosos que viveu em Milão e citou uma recente reportagem publicada pelo "New York Times" para demonstrar que não estava sozinho em seus elogios à cidade.
Nos últimos anos, o caderno de viagens do jornal americano parece ter descoberto São Paulo, a cidade "por muito tempo ofuscada pelo Rio". No final do mês passado, o artigo "A selva de concreto de São Paulo" derramava-se em elogios a essa "beautiful city" (isso mesmo, você não leu errado) que fervilha com "novos talentos e idéias arrojadas". No ano passado, uma outra reportagem do mesmo jornal -"A nova São Paulo"- já babava diante da "capital econômica e cultural do Brasil".
É claro que os artigos do "New York Times" não despoluem os rios transformados em esgotos ao ar livre, não retiram crianças das ruas nem melhoram o trânsito ou a vida das imensas periferias paulistanas. Mas não deixam de refletir o notável dinamismo da cidade e o fato de que, aos poucos, ela vai enfrentando seu gritante atraso urbanístico.
Da recuperação das áreas do centro, iniciada por Mário Covas, às recentes reformas da prefeita Marta Suplicy (em que pesem suas dispensáveis malufices), a cidade vai ganhando novos contornos.
Volto para casa à noite, e São Paulo também a mim parece diferente. Deixei-me embriagar pelo saquê e pelas opiniões do simpático arquiteto italiano? É possível, mas logo me dou conta de que uma nova mudança da paisagem vai se tornando perceptível. A Lei da Cidade Limpa está funcionando! E para o bem -queiram ou não seus detratores.


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