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Morumbi tem shows de "sobreviventes"
Aerosmith, máquina de hits nos anos 80 e 90, toca hoje com abertura do Velvet Revolver, grupo do ex-Guns'n'Roses Slash
Steven Tyler e cia. procuram um meio-termo entre o novo e o velho; banda com Scott Weiland parte do zero, em busca de fãs pregressos
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje, o Morumbi verá dois
shows de bandas que sobreviveram ao seu próprio passado.
Diferentemente da passagem
de Roger Waters, que mostrou
seu burocrático cover do Pink
Floyd, os grupos Velvet Revolver e Aerosmith exibem diante
do público paulista modelos
menos safados de recolocação
profissional.
De um lado, o Velvet Revolver, que abre a noite: a banda do vocalista Scott Weiland (ex-Stone
Temple Pilots) e do guitarrista
Slash (ex-Guns'n'Roses, assim
como o resto do grupo) parte do
zero, mas conta com a expectativa dos fãs pregressos.
Do outro, o Aerosmith, banda do segundo escalão quando
estourou, nos anos 70, que foi
resgatada dos abusos de álcool
e drogas e do limbo pelos rappers do Run DMC, em 1986
(com a regravação de "Walk
This Way"), e desde então se
transformou numa bem-sucedida máquina de hits -em sua
maioria, melosos.
Em comum, os dois grupos
ostentam no discurso o mesmo
ponto: nenhuma saudade do
passado.
"Preferimos não ter virado
uma jukebox do Aerosmith",
afirma o guitarrista Joe Perry,
56, ao ser questionado sobre a
antologia mais recente do grupo, que privilegia os últimos sucessos. "Isso nos cria um problema na hora de montar os
shows, porque precisamos dar
um pouco do passado, mas sem
esquecer o que fazemos hoje
em dia."
Guns'n'Roses
Para Slash, 41, tampouco há
motivos para falar do Guns
-por mais que Axl Rose tente
ressuscitar a banda há anos.
"Isso é um problema da mídia,
que sempre me pergunta sobre
o Guns'n'Roses. Não tenho nenhum problema com o Axl, ele
é um grande cara e já discutimos muito, mas agora o assunto para mim está superado",
antecipa-se o inglês.
Ágil nas respostas, Slash não
perde tempo em cortar assuntos que não quer responder.
Scott Weiland, com histórico
de drogas pesadas e acusado recentemente de ter quebrado
um quarto de hotel durante
uma briga com a mulher, não
seria "uma pessoa difícil de se
lidar". "Não sei por que você está falando isso."
Indagado sobre a sonoridade
do novo álbum, "Libertad",
previsto para este semestre,
nem tenta encontrar uma definição. "Prefiro que as pessoas
ouçam e tirem suas próprias
conclusões. Vai soar bem diferente de "Contraband", mas eu
não vou antecipar nada."
E por que esse nome? Você se
sente mais livre do passado que
agora? "Eu sempre me senti livre. Essa é apenas uma palavra
mais legal que "freedom'", declara.
Após afirmar que a banda parece cada vez mais entrosada
nas composições, Slash dá uma
pista de que o disco não deverá
ser tão diferente da sua pegada
hard rock atualizada. "O que
você queria que eu tocasse?
Jazz? Meu desejo é continuar
tocando as coisas que gosto."
Mais pausado durante a entrevista, Joe Perry vai pelo
mesmo caminho. "Até hoje
nunca entrei em outros estilos
porque adoro tocar os riffs de
Chuck Berry e Led Zeppelin.
Simplesmente é a música que
ouço", diz o guitarrista.
Energia
Sim, eles se divertem. E até
hoje é impressionante ver
Perry e o vocalista Steven Tyler
(pai da atriz Liv Tyler), famosos
por não conseguirem ficar de
pé nos anos 70, esbanjando
energia no palco.
"Definitivamente, eu me
acho um sobrevivente. Acho
que é parte do plano de Deus.
Se Ele nos deu essa oportunidade de voltar, enquanto tantos
ficaram pelo caminho, como
Steve Ray Vaughan e Jam Master Jay [do Run DMC, assassinado em 2002], deve haver alguma razão."
Por isso, Perry demonstra solidariedade com Britney
Spears, que dá sinais claros de
que andou tomando coisas que
lhe fizeram mal. "É muito triste
ver a garota cantora mais famosa do mundo desse jeito. Ela está no microscópio da mídia. Espero que ela possa superar isso
e, assim como Madonna, consiga desempenhar o seu papel
público."
Mas, segundo Perry, a antiga
proibição de bebidas alcoólicas
no camarim da banda é coisa do
passado. "Antes, para que conseguíssemos shows, nosso empresário tinha que dar uma declaração pública de que estávamos limpos, mas isso acabou
tomando uma proporção exagerada, como se tivéssemos virado vegetarianos."
Tanto Perry quanto Slash são
unânimes em um aspecto. Adoram o Brasil. "Eu considero a
platéia brasileira a melhor do
mundo. Vocês têm uma vibração incrível", diz Slash, que veio
duas vezes com o Guns e uma
com o projeto Slash's Snakepit.
Perry, que veio só em 1994
para um Hollywood Rock, elogia a platéia, mas inesquecível
mesmo foi a gastronomia. "Tivemos um churrasco na praia
que foi maravilhoso."
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