São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Morumbi tem shows de "sobreviventes"

Aerosmith, máquina de hits nos anos 80 e 90, toca hoje com abertura do Velvet Revolver, grupo do ex-Guns'n'Roses Slash

Steven Tyler e cia. procuram um meio-termo entre o novo e o velho; banda com Scott Weiland parte do zero, em busca de fãs pregressos


MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje, o Morumbi verá dois shows de bandas que sobreviveram ao seu próprio passado. Diferentemente da passagem de Roger Waters, que mostrou seu burocrático cover do Pink Floyd, os grupos Velvet Revolver e Aerosmith exibem diante do público paulista modelos menos safados de recolocação profissional.
De um lado, o Velvet Revolver, que abre a noite: a banda do vocalista Scott Weiland (ex-Stone Temple Pilots) e do guitarrista Slash (ex-Guns'n'Roses, assim como o resto do grupo) parte do zero, mas conta com a expectativa dos fãs pregressos.
Do outro, o Aerosmith, banda do segundo escalão quando estourou, nos anos 70, que foi resgatada dos abusos de álcool e drogas e do limbo pelos rappers do Run DMC, em 1986 (com a regravação de "Walk This Way"), e desde então se transformou numa bem-sucedida máquina de hits -em sua maioria, melosos.
Em comum, os dois grupos ostentam no discurso o mesmo ponto: nenhuma saudade do passado.
"Preferimos não ter virado uma jukebox do Aerosmith", afirma o guitarrista Joe Perry, 56, ao ser questionado sobre a antologia mais recente do grupo, que privilegia os últimos sucessos. "Isso nos cria um problema na hora de montar os shows, porque precisamos dar um pouco do passado, mas sem esquecer o que fazemos hoje em dia."

Guns'n'Roses
Para Slash, 41, tampouco há motivos para falar do Guns -por mais que Axl Rose tente ressuscitar a banda há anos. "Isso é um problema da mídia, que sempre me pergunta sobre o Guns'n'Roses. Não tenho nenhum problema com o Axl, ele é um grande cara e já discutimos muito, mas agora o assunto para mim está superado", antecipa-se o inglês.
Ágil nas respostas, Slash não perde tempo em cortar assuntos que não quer responder. Scott Weiland, com histórico de drogas pesadas e acusado recentemente de ter quebrado um quarto de hotel durante uma briga com a mulher, não seria "uma pessoa difícil de se lidar". "Não sei por que você está falando isso."
Indagado sobre a sonoridade do novo álbum, "Libertad", previsto para este semestre, nem tenta encontrar uma definição. "Prefiro que as pessoas ouçam e tirem suas próprias conclusões. Vai soar bem diferente de "Contraband", mas eu não vou antecipar nada."
E por que esse nome? Você se sente mais livre do passado que agora? "Eu sempre me senti livre. Essa é apenas uma palavra mais legal que "freedom'", declara.
Após afirmar que a banda parece cada vez mais entrosada nas composições, Slash dá uma pista de que o disco não deverá ser tão diferente da sua pegada hard rock atualizada. "O que você queria que eu tocasse? Jazz? Meu desejo é continuar tocando as coisas que gosto."
Mais pausado durante a entrevista, Joe Perry vai pelo mesmo caminho. "Até hoje nunca entrei em outros estilos porque adoro tocar os riffs de Chuck Berry e Led Zeppelin. Simplesmente é a música que ouço", diz o guitarrista.

Energia
Sim, eles se divertem. E até hoje é impressionante ver Perry e o vocalista Steven Tyler (pai da atriz Liv Tyler), famosos por não conseguirem ficar de pé nos anos 70, esbanjando energia no palco.
"Definitivamente, eu me acho um sobrevivente. Acho que é parte do plano de Deus. Se Ele nos deu essa oportunidade de voltar, enquanto tantos ficaram pelo caminho, como Steve Ray Vaughan e Jam Master Jay [do Run DMC, assassinado em 2002], deve haver alguma razão."
Por isso, Perry demonstra solidariedade com Britney Spears, que dá sinais claros de que andou tomando coisas que lhe fizeram mal. "É muito triste ver a garota cantora mais famosa do mundo desse jeito. Ela está no microscópio da mídia. Espero que ela possa superar isso e, assim como Madonna, consiga desempenhar o seu papel público."
Mas, segundo Perry, a antiga proibição de bebidas alcoólicas no camarim da banda é coisa do passado. "Antes, para que conseguíssemos shows, nosso empresário tinha que dar uma declaração pública de que estávamos limpos, mas isso acabou tomando uma proporção exagerada, como se tivéssemos virado vegetarianos."
Tanto Perry quanto Slash são unânimes em um aspecto. Adoram o Brasil. "Eu considero a platéia brasileira a melhor do mundo. Vocês têm uma vibração incrível", diz Slash, que veio duas vezes com o Guns e uma com o projeto Slash's Snakepit.
Perry, que veio só em 1994 para um Hollywood Rock, elogia a platéia, mas inesquecível mesmo foi a gastronomia. "Tivemos um churrasco na praia que foi maravilhoso."


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