São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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TV PAGA

Ator lembra beijo de novela que não houve

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os atores Zózimo Bulbul e Leila Diniz (1945-72) queriam se beijar na frente das câmeras. Pediram, insistiram, pressionaram pela cena, muito antes desta época em que o "beijo gay" que não houve se tornou assunto nacional.
Bulbul e Diniz formavam um casal interracial. O romance entre o negro e a branca ia ao ar, naquele 1969, pela TV Excelsior, no folhetim "Vidas em Conflito". Mas a produção não arriscava exibir traço de intimidade entre eles.
A pressão dos atores pelo beijo resultou na mudança de curso da trama. O romance de seus personagens se desfez.
Não é à toa que Bulbul, 69, relembre essa história em detalhes para o ator Lázaro Ramos, 27, diretor deste "Retratos Brasileiros" que o Canal Brasil exibe amanhã.
Ramos dirige o programa sobre Bulbul e faz questão de desaparecer atrás da câmera. Ele nem sequer insinua seu rosto (também negro), mais que famoso, já consagrado, que hoje freqüenta a telinha, aos beijos com a atriz branca Christiana Kalache, na novela global das sete, "Cobras e Lagartos".
Antes de Bulbul, Ramos dirigiu um igualmente consistente programa sobre e com Tony Tornado. Sem alarde, o ator/diretor vem (re)contando a história da afirmação racial no universo da produção audiovisual brasileira.
É como se Ramos, ao beijar Kalache, tivesse em conta que não chegou até ali apenas por mérito de seu (extraordinário) talento. Mas também porque, antes dele, houve um Zózimo Bulbul e uma Leila Diniz; uma Elis Regina e um Tony Tornado, a desafiarem preconceitos -patentes e ocultos.
No programa, Bulbul conta o episódio da censura a "Compasso de Espera" (70), de Antunes Filho, que talvez ainda hoje permaneça além de seu tempo na abordagem do racismo. Na programação em homenagem a Bulbul, o Canal Brasil exibe hoje os curtas que ele dirigiu, incluindo o desafiador e testemunhal "A Alma do Olho".


Retratos Brasileiros - Zózimo Bulbul
Quando: amanhã, às 17h, no Canal Brasil



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