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TV PAGA
Ator lembra beijo de novela que não houve
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os atores Zózimo Bulbul e Leila
Diniz (1945-72) queriam se beijar
na frente das câmeras. Pediram,
insistiram, pressionaram pela cena, muito antes desta época em
que o "beijo gay" que não houve
se tornou assunto nacional.
Bulbul e Diniz formavam um
casal interracial. O romance entre
o negro e a branca ia ao ar, naquele 1969, pela TV Excelsior, no folhetim "Vidas em Conflito". Mas
a produção não arriscava exibir
traço de intimidade entre eles.
A pressão dos atores pelo beijo
resultou na mudança de curso da
trama. O romance de seus personagens se desfez.
Não é à toa que Bulbul, 69, relembre essa história em detalhes
para o ator Lázaro Ramos, 27, diretor deste "Retratos Brasileiros"
que o Canal Brasil exibe amanhã.
Ramos dirige o programa sobre
Bulbul e faz questão de desaparecer atrás da câmera. Ele nem sequer insinua seu rosto (também
negro), mais que famoso, já consagrado, que hoje freqüenta a telinha, aos beijos com a atriz branca
Christiana Kalache, na novela global das sete, "Cobras e Lagartos".
Antes de Bulbul, Ramos dirigiu
um igualmente consistente programa sobre e com Tony Tornado. Sem alarde, o ator/diretor
vem (re)contando a história da
afirmação racial no universo da
produção audiovisual brasileira.
É como se Ramos, ao beijar Kalache, tivesse em conta que não
chegou até ali apenas por mérito
de seu (extraordinário) talento.
Mas também porque, antes dele,
houve um Zózimo Bulbul e uma
Leila Diniz; uma Elis Regina e um
Tony Tornado, a desafiarem preconceitos -patentes e ocultos.
No programa, Bulbul conta o
episódio da censura a "Compasso
de Espera" (70), de Antunes Filho,
que talvez ainda hoje permaneça
além de seu tempo na abordagem
do racismo. Na programação em
homenagem a Bulbul, o Canal
Brasil exibe hoje os curtas que ele
dirigiu, incluindo o desafiador e
testemunhal "A Alma do Olho".
Retratos Brasileiros - Zózimo
Bulbul
Quando: amanhã, às 17h, no Canal
Brasil
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