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LANÇAMENTO
Arquiteto fala de política e de "O Código Da Vinci" à Folha; temas estão presentes no conto "Sem Rodeios"
Oscar Niemeyer encontra Dan Brown e Lula em livro
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 98 anos, Oscar Niemeyer
anda mais do que atento ao noticiário. Prova disso é "Sem Rodeios", conto que o arquiteto acaba de lançar pela Revan, editora
que abriga outros dez títulos de
sua autoria. Nele, Niemeyer
acompanha as conversas entre
três amigos, em torno de assuntos
tão atuais quanto o best-seller "O
Código Da Vinci", a crise no governo Lula e as ameaças de investidas de Bush no Irã.
"No meu escritório, vem muita
gente. Tem meia dúzia de amigos
que sempre vêm aqui. É gente ligada à política, ao que se passa no
mundo. De modo que a gente está
sempre a par do que acontece",
conta o arquiteto, que pinça de
outra entrevista um comentário
político: "Penso exatamente como o Chico Buarque: estou com o
Lula, mas sem entusiasmo".
Atual
"Sem Rodeios" reúne, nas palavras do próprio Niemeyer, as conversas de "um padre conciliador,
um português falastrão e abusado
e um comunista, que está falando
mais pela minha boca". O livro,
que o autor insiste em chamar de
desimportante ("fiz só para passar o tempo, me distrair"), revela
um Niemeyer contemporâneo,
que leu "O Código Da Vinci"
("Achei muito interessante. É
uma idéia fantástica, que fere a religião, mas que é muito viável"),
concorda com o Prêmio Pritzker
dado a Paulo Mendes da Rocha
("Foi bem escolhido, ele merece")
e acredita que Bush já não tem a
mesma capacidade de inventar
ameaças, como a que justificou a
ocupação do Iraque.
"Ele está recebendo o troco de
sua campanha de invasão a países
indefesos, à base de mentiras deslavadas. Mas eu sempre digo: as
coisas acontecem em função do
inesperado. Não adianta imaginar o que vai acontecer, porque o
inesperado nem sempre é favorável", ressalva o arquiteto.
Atento, Niemeyer comenta sobre a crise boliviana: "Veja o que
aconteceu agora com a Bolívia.
Uma coisa inesperada, que prejudicou o sonho de união da América Latina, a coisa que mais nos interessava. Os bolivianos foram
grosseiros, nos ofenderam, entraram com soldados na Petrobras".
A crise deflagrada com a nacionalização das reservas de gás natural da Bolívia, acredita Niemeyer, tirou o presidente Lula da posição de líder político do continente. Em termos de política interna, o arquiteto não é mais otimista: Niemeyer diz que nunca
viu, em toda a República, "esse
clima de denúncia, de roubalheira
total". Ele acha muito cedo, no entanto, para avaliar se há um candidato alternativo no cenário.
"Se a gente continuar com Lula,
já satisfaz. Apesar de ele não ter a
decisão que a gente esperava, ele
cuida do povo, tem base popular,
é decente, honesto. Mas não
adianta pensar em nada que
acontece o contrário. É feito o
João Saldanha dizia: "A vida leva a
gente para onde ela quer"."
Do grevista de fome e pré-candidato à Presidência pelo PMDB,
Anthony Garotinho, Niemeyer
diz sentir pena.
"Coitado. É tão ridículo. É uma
coisa fantástica que isso ainda
ocorra no Brasil, um sujeito que é
candidato à Presidência com essas atitudes. É uma merda."
Obras
Cidadão "papo reto", o arquiteto Niemeyer acaba de ter sua marca registrada -as curvas- inscrita num novo livro. Em "Oscar
Niemeyer 360º - Minhas Obras
Favoritas", 22 de suas criações
aparecem fotografadas em 360º.
"Era um sonho antigo ver a obra
de Niemeyer com essa técnica,
que possibilita mostrar bem a relação dele com as curvas. Selecionamos as obras que seriam fotografas com o próprio Niemeyer",
conta o fotógrafo Rogério Randolph, que dividiu a tarefa com
Luiz Cláudio Lacerda.
Sem Rodeios
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
Quanto: R$ 32 (56 págs.)
Oscar Niemeyer 360º - Minhas
Obras Favoritas
Autores: Rogério Randolph e Luiz
Cláudio Lacerda
Editora: 360º Editora
Quanto: R$ 150 (238 págs.)
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