|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA CULTURAL
Ministério da Cultura diz que Gil orientou continuidade, porque "interrupção é o pior dos cenários"
Furnas suspende análise dos patrocínios
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Está suspenso o recebimento de
projetos culturais que se candidatam ao patrocínio da estatal Furnas Centrais Elétricas. A empresa
interrompeu também a avaliação
das propostas que já haviam sido
entregues e cujo resultado seria
anunciado no próximo dia 30.
A coordenação de Responsabilidade Social de Furnas diz que só
voltará a receber e analisar projetos de patrocínio quando o Ministério da Cultura definir os critérios para concessão do benefício.
O secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira,
diz que "o ministro Gilberto Gil
vem orientando as estatais para
que o processo [de concessão de
patrocínios culturais] não seja interrompido".
"Mesmo tendo uma série de críticas ao modo como a cultura vinha sendo financiada, a gente
acha que a interrupção seria o
pior dos cenários", diz Ferreira.
O cancelamento dos critérios
que seriam adotados por Furnas
para conceder patrocínio cultural
foi determinado no último dia 6
de maio pelo ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Gestão Estratégica e Comunicação de Governo). O objetivo era pôr fim a uma
crise entre a sua pasta e o Ministério da Cultura (Gilberto Gil), em
torno da liderança na definição
dos requisitos para patrocínio estatal a projetos culturais.
Crise
Em reportagem publicada pela
Folha no dia 30 de abril, o MinC
discordou da política de patrocínios anunciada por Furnas e Eletrobrás, que havia sido feita sob a
orientação de Gushiken.
As novas regras estabeleciam
prioridade para a cultura popular,
exigência de contrapartida social
nos projetos apoiados e sintonia
com programas de governo.
As exigências foram classificadas pelo cineasta Cacá Diegues e
pelo produtor Luiz Carlos Barreto
como "dirigismo cultural".
Além de cancelar as políticas
anunciadas pelas estatais, Gushiken entregou a Gil a responsabilidade de definir os critérios de patrocínio cultural a serem adotados pelas empresas do governo.
Ferreira diz que a definição dos
requisitos deve demorar dois meses e afirma que "o que foi repassado para o diálogo do Ministério
da Cultura com as estatais é apenas a parte da Lei Rouanet [através da qual o patrocinador deduz
do Imposto de Renda o valor investido no projeto cultural]".
"Os recursos de marketing [direto, sem benefício da renúncia
fiscal] gastos com projetos culturais não são da nossa alçada", diz.
Negativa
Gushiken informou, através de
sua assessoria, que não comentaria as declarações de Ferreira. O
ministro negou informação publicada ontem pela Folha de que
havia orientado as diretorias das
estatais a limitarem seus investimentos em patrocínio cultural
aos valores que possam ser descontados do Imposto de Renda
(Lei Rouanet), suprimindo o patrocínio direto.
Se fosse adotada, a medida reduziria para aproximadamente
R$ 8 milhões em 2003 o investimento da BR Distribuidora, que
girou em torno de R$ 50 milhões
anuais em 2001 e 2002.
Entretanto, a Folha apurou que
o ministro recomendou às diretorias de estatais a revisão de seus
valores de patrocínio direto. Gushiken insistiu também na manutenção do critério de contrapartida social para a concessão de patrocínios.
Em entrevista publicada pela
Folha no dia 11 de maio, Gushiken declarou: "Existe um debate
que precisa ser esclarecido sobre a
maneira como se financia a produção cultural. No Brasil, esse financiamento está muito vinculado às empresas estatais e isso não
é correto. É preciso que se abram
outros mecanismos de financiamento, de natureza privada, sob
pena de sobrecarregar demais as
empresas do governo".
O Ministério da Cultura está
chamando de "transição" o prazo
estimado para que faça a definição dos novos critérios de patrocínio a projetos culturais.
"Nós sentimos necessidade de
uma transição, porque não queremos definir nos gabinetes do ministério, de forma unilateral, novos critérios para o uso desses recursos. A gente quer fazer isso
através de um processo público",
diz Ferreira.
O secretário-executivo diz que o
MinC vai promover "vários seminários, em várias regiões do Brasil, para ter uma avaliação da opinião dos produtores culturais, dos
possíveis financiadores e dos setores da sociedade que têm interesse nessa discussão".
A assessoria da Eletrobrás diz
que a empresa continua recebendo, avaliando e deliberando sobre
os pedidos de patrocínio.
Mas a Eletrobrás tem informado a produtores que aguardam
resposta para seus projetos que,
neste semestre, não terá verba para patrocínio, porque não haverá
lucro que possa ser deduzido do
Imposto de Renda.
Desde o governo passado a Eletrobrás investe em cultura exclusivamente pela Lei Rouanet. Através desse mecanismo, a empresa
patrocinou projetos em diversas
áreas, inclusive o cinema, apoiando, por exemplo, o longa "O Príncipe", de Ugo Giorgetti.
(SILVANA ARANTES E KENNEDY ALENCAR)
Texto Anterior: Cinema: Patagônia emoldura buscas e banalidades de "Histórias Mínimas" Próximo Texto: Mundo gourmet: Santelmo traz sabor de Buenos Aires a São Paulo Índice
|