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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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TEATRO

Dramaturgo encena montagem sobre operários que trabalharam na construção do monumento carioca nos anos 20

Bosco Brasil cai nas graças do "Redentor"

DA REPORTAGEM LOCAL

"O assédio foi enorme, continua sendo, mas consigo perceber o que é a bolinha do champanhe e o que é o champanhe", diz um bem-humorado Bosco Brasil, 43.
Dramaturgo representado em São Paulo a partir dos anos 90 ("Os Coveiros", "Budro", "Atos & Omissões"), ele experimenta a ebulição da carreira com a projeção de seu nome no teatro carioca, desde o ano passado, depois do fenômeno "Novas Diretrizes em Tempo de Paz", que teve Tony Ramos na temporada carioca, montagem que agora reestréia em São Paulo (leia nesta página).
Co-roteirista em novelas ou séries da Rede Globo, o que justificava nos últimos anos a ponte aérea Rio-SP, Bosco agora empenha-se com mais demanda à produção de textos para teatro.
O primeiro a sair do forno é "O Dia do Redentor", que ele define como uma fantasia teatral sobre os operários que, nos anos 30, trabalharam na construção do monumento erguido entre 1926 e 1931 no alto do Corcovado, principal cartão-postal do Rio.
A história ocorre quando a cidade era então a capital do país. Bosco delimita a ação ao período de dez dias em que uma junta militar comandou o país, após a deposição do presidente eleito, Washington Luís, antes da posse de Getúlio Vargas.
"Foi uma coisa espantosa a falta de material sobre a construção do Cristo Redentor. Há poucas e vagas notícias sobre a obra e quase nenhuma linha sobre os operários. Para ter uma idéia, pesquisamos e encontramos apenas duas imagens de trabalhadores", afirma Bosco.
É esse ponto de vista que lhe interessa. A partir do carismático e visionário Santos (interpretado por Otávio Augusto), o operário mais velho, e sua relação com os demais trabalhadores, "O Dia do Redentor" expõe a obstinação de pessoas comuns em levar o sonho adiante a qualquer custo, independentemente de religião ou ideologia, mas pela paixão e sacrifício empenhados até então. A obra foi ameaçada em vários momentos, quer pelos governantes, quer pelos protestos da igreja.
Como "Novas Diretrizes", que se passa no dia 18 de abril de 1945, no final da Segunda Guerra, Bosco Brasil parece abrir um novo segmento em sua dramaturgia que já passou por tentativas de construção épica e pela realidade dos grandes centros urbanos.
"O recorte histórico me interessa para falar dos meus iguais, de hoje, e das minhas inquietações que não são de hoje. Essa incursão histórica deu-me liberdade poética, levou-me a uma simplicidade que buscava há muito tempo", afirma o autor.
Além de Otávio Augusto, o elenco traz atores que atuaram em montagens experimentais como "Trainspotting" e "Laranja Mecânica".
Ariela Goldmann assina a direção da montagem, como em "Novas Diretrizes".
"A primeira cena de "O Dia do Redentor" traz os operários tomando um cafezinho não para relaxar, mas para trabalhar. A peça trata desses micromomentos do cotidiano. O Cristo Redentor é o menos importante na história", afirma Goldmann, 37.
(VALMIR SANTOS)


O DIA DO REDENTOR. De: Bosco Brasil. Direção Ariela Goldmann. Com: Otávio Augusto, Pedro Osório, Henrique Pinho, Pedro Garcia, Diogo Salles, Leonardo Carvalho e Augusto Zacchi. Onde: Espaço Sesc (r. Domingos Ferreira, 160, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2547-0156) Quando: estréia dia 19/6, para convidados, e dia 20/6, para o público; qui. e sex., às 21h; sáb., às 21h e 24h; dom., às 20h. Quanto: R$ 10. Até 13/7.


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