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TEATRO
Dramaturgo encena montagem sobre operários que trabalharam na construção do monumento carioca nos anos 20
Bosco Brasil cai nas graças do "Redentor"
DA REPORTAGEM LOCAL
"O assédio foi enorme, continua sendo, mas consigo perceber
o que é a bolinha do champanhe e
o que é o champanhe", diz um
bem-humorado Bosco Brasil, 43.
Dramaturgo representado em
São Paulo a partir dos anos 90
("Os Coveiros", "Budro", "Atos
& Omissões"), ele experimenta a
ebulição da carreira com a projeção de seu nome no teatro carioca, desde o ano passado, depois
do fenômeno "Novas Diretrizes
em Tempo de Paz", que teve Tony
Ramos na temporada carioca,
montagem que agora reestréia em
São Paulo (leia nesta página).
Co-roteirista em novelas ou séries da Rede Globo, o que justificava nos últimos anos a ponte aérea Rio-SP, Bosco agora empenha-se com mais demanda à produção de textos para teatro.
O primeiro a sair do forno é "O
Dia do Redentor", que ele define
como uma fantasia teatral sobre
os operários que, nos anos 30, trabalharam na construção do monumento erguido entre 1926 e
1931 no alto do Corcovado, principal cartão-postal do Rio.
A história ocorre quando a cidade era então a capital do país. Bosco delimita a ação ao período de
dez dias em que uma junta militar
comandou o país, após a deposição do presidente eleito, Washington Luís, antes da posse de
Getúlio Vargas.
"Foi uma coisa espantosa a falta
de material sobre a construção do
Cristo Redentor. Há poucas e vagas notícias sobre a obra e quase
nenhuma linha sobre os operários. Para ter uma idéia, pesquisamos e encontramos apenas duas
imagens de trabalhadores", afirma Bosco.
É esse ponto de vista que lhe interessa. A partir do carismático e
visionário Santos (interpretado
por Otávio Augusto), o operário
mais velho, e sua relação com os
demais trabalhadores, "O Dia do
Redentor" expõe a obstinação de
pessoas comuns em levar o sonho
adiante a qualquer custo, independentemente de religião ou
ideologia, mas pela paixão e sacrifício empenhados até então. A
obra foi ameaçada em vários momentos, quer pelos governantes,
quer pelos protestos da igreja.
Como "Novas Diretrizes", que
se passa no dia 18 de abril de 1945,
no final da Segunda Guerra, Bosco Brasil parece abrir um novo
segmento em sua dramaturgia
que já passou por tentativas de
construção épica e pela realidade
dos grandes centros urbanos.
"O recorte histórico me interessa para falar dos meus iguais, de
hoje, e das minhas inquietações
que não são de hoje. Essa incursão
histórica deu-me liberdade poética, levou-me a uma simplicidade
que buscava há muito tempo",
afirma o autor.
Além de Otávio Augusto, o
elenco traz atores que atuaram
em montagens experimentais como "Trainspotting" e "Laranja
Mecânica".
Ariela Goldmann assina a direção da montagem, como em "Novas Diretrizes".
"A primeira cena de "O Dia do
Redentor" traz os operários tomando um cafezinho não para relaxar, mas para trabalhar. A peça
trata desses micromomentos do
cotidiano. O Cristo Redentor é o
menos importante na história",
afirma Goldmann, 37.
(VALMIR SANTOS)
O DIA DO REDENTOR. De: Bosco Brasil.
Direção Ariela Goldmann. Com: Otávio
Augusto, Pedro Osório, Henrique Pinho,
Pedro Garcia, Diogo Salles, Leonardo
Carvalho e Augusto Zacchi. Onde: Espaço
Sesc (r. Domingos Ferreira, 160, Rio de
Janeiro, tel. 0/xx/21/2547-0156)
Quando: estréia dia 19/6, para
convidados, e dia 20/6, para o público;
qui. e sex., às 21h; sáb., às 21h e 24h;
dom., às 20h. Quanto: R$ 10. Até 13/7.
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