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[+] análise
Ainda inquieto, o criador amadureceu
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Aos primeiros sinais
de desgaste do cinema novo, farejando certa tendência ao
corporativismo e à institucionalização, Julio Bressane e Rogério Sganzerla
reagiram, propondo um
cinema explosivo e barato,
que mais tarde foi rotulado como "marginal".
A identificação entre os
dois jovens foi imediata.
Havia nos primeiros filmes de Bressane -"Cara a
Cara" (67), "O Anjo Nasceu" e "Matou a Família e
Foi ao Cinema" (69)- e de
Sganzerla -"O Bandido da
Luz Vermelha" (68)- uma
evidente afinidade.
Neles, as questões nacionalistas/ideológicas
não teriam tanto peso como para os diretores do cinema novo, apesar de se
alimentarem de uma profunda influência de Glauber Rocha.
Em 1970, Bressane e
Sganzerla produziram um
jorro de filmes sob a sigla
da produtora Bel Air, que
fundaram juntos. Um cinema cujo potencial subversivo não passaria em
branco para o regime militar, que os levaria ao exílio.
Mais adiante, de volta ao
Brasil, seguiriam caminhos diferentes. Sganzerla
com sua pesquisa em torno de Orson Welles, Bressane aprofundando sua filiação ao modernismo, à
poesia concreta e à paixão
pela filosofia.
No texto "O Experimental no Cinema Nacional",
Bressane reinsere a tradição experimental no cinema brasileiro e resgata a
importância de Mário Peixoto e seu "Limite", que,
na "Revisão Crítica" de
Glauber Rocha, havia sido
preterido em favor de
Humberto Mauro.
Hoje, o cineasta continua realizando filmes baratos e singulares, que
propõem pesquisa de linguagem. Assim, alterna inventários iconográficos e
estéticos ligados a determinadas tradições artísticas ("Miramar") a retratos
de criadores e pensadores
(como "Os Sermões", sobre padre Antônio Vieira).
Bressane, enfim, amadureceu sem perder a inquietação e a coerência,
feito raríssimo no cinema
brasileiro de hoje.
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