São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 2006

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[+] análise

Ainda inquieto, o criador amadureceu

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Aos primeiros sinais de desgaste do cinema novo, farejando certa tendência ao corporativismo e à institucionalização, Julio Bressane e Rogério Sganzerla reagiram, propondo um cinema explosivo e barato, que mais tarde foi rotulado como "marginal".
A identificação entre os dois jovens foi imediata. Havia nos primeiros filmes de Bressane -"Cara a Cara" (67), "O Anjo Nasceu" e "Matou a Família e Foi ao Cinema" (69)- e de Sganzerla -"O Bandido da Luz Vermelha" (68)- uma evidente afinidade.
Neles, as questões nacionalistas/ideológicas não teriam tanto peso como para os diretores do cinema novo, apesar de se alimentarem de uma profunda influência de Glauber Rocha.
Em 1970, Bressane e Sganzerla produziram um jorro de filmes sob a sigla da produtora Bel Air, que fundaram juntos. Um cinema cujo potencial subversivo não passaria em branco para o regime militar, que os levaria ao exílio.
Mais adiante, de volta ao Brasil, seguiriam caminhos diferentes. Sganzerla com sua pesquisa em torno de Orson Welles, Bressane aprofundando sua filiação ao modernismo, à poesia concreta e à paixão pela filosofia.
No texto "O Experimental no Cinema Nacional", Bressane reinsere a tradição experimental no cinema brasileiro e resgata a importância de Mário Peixoto e seu "Limite", que, na "Revisão Crítica" de Glauber Rocha, havia sido preterido em favor de Humberto Mauro.
Hoje, o cineasta continua realizando filmes baratos e singulares, que propõem pesquisa de linguagem. Assim, alterna inventários iconográficos e estéticos ligados a determinadas tradições artísticas ("Miramar") a retratos de criadores e pensadores (como "Os Sermões", sobre padre Antônio Vieira).
Bressane, enfim, amadureceu sem perder a inquietação e a coerência, feito raríssimo no cinema brasileiro de hoje.


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