São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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CRÍTICA ENTREVISTA

Em conversa, Bacon revela seu "niilismo otimista"

Pintor conta a jornalista francês sobre suas influências e vaidades

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Quem vê as pinturas de Francis Bacon (1909-1992), presume que o artista irlandês (de origem britânica e protestante) tenha sido um sujeito taciturno, deprimido e genioso.
É outro, porém, o homem que se revela nas entrevistas com o jornalista francês Franck Maubert, reunidas no livro "Conversas com Francis Bacon - O Cheiro do Sangue Humano Não Desgruda Seus Olhos de Mim".
Para começar, Bacon ri o tempo todo. Tanto que o jornalista não resiste e pergunta: "O senhor ri muito. Por quê?". Diz o pintor: "É melhor rir de tudo. Senão a vida seria totalmente sinistra". E arremata: "Sou uma espécie de niilista otimista. Hahaha!".
Bacon também é vaidoso, gosta de se vestir bem. "Quando envelhecemos, ficamos pavorosos, precisamos compensar isso com as roupas", justifica.
Quando o assunto deriva para a vida sexual, é sincero e bem-humorado. "Dizem que o senhor gosta dos "bad boys"", provoca Maubert. "E também dos pais de família", completa o pintor.
As conversas, porém, não se limitam à vida pessoal. Seu principal assunto, felizmente, é a pintura.

INFLUÊNCIAS
Bacon recapitula com franqueza aspectos de sua trajetória artística, desde que trocou a atividade de decorador pela de pintor. Fala de suas preferências -as mais notórias, como Velázquez, e as menos citadas, como Toulouse Lautrec. Diz que a obra de Picasso foi decisiva à sua vocação.
E revela que sua fonte "filosófica" provém de dramaturgos que ele lê religiosamente, como Racine, Shakespeare e Ésquilo. "Me arrependo de não ter aprendido grego antigo", lamenta ele. Aconselha o jovem artista a aceitar-se como ele é e "só abordar temas que o absorvam e o obcequem". Reclama que o patrocínio público acaba levando a arte à convenção e ao academicismo.
E defende os pintores que "pesquisam, desmontam, desossam". Feitas nos anos 80, as entrevistas foram publicadas na França no ano passado, quando se comemorou os cem anos de seu nascimento.
Elas são menos intelectuais que "Entrevistas com Bacon - A Brutalidade dos Fatos", de David Sylvester (Cosac Naify, 1985). Mas são igualmente prazerosas e esclarecedoras, tanto para os especialistas, quanto para os que desejam conhecer a obra desse artista extraordinário.


CONVERSAS COM FRANCIS BACON - O CHEIRO DO SANGUE HUMANO NÃO DESGRUDA SEUS OLHOS DE MIM

AUTOR Franck Maubert
TRADUÇÃO André Telles
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 28 (96 págs.)
AVALIAÇÃO bom




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