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CRÍTICA ENTREVISTA
Em conversa, Bacon revela seu "niilismo otimista"
Pintor conta a jornalista francês sobre suas influências e vaidades
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Quem vê as pinturas de
Francis Bacon (1909-1992),
presume que o artista irlandês (de origem britânica e
protestante) tenha sido um
sujeito taciturno, deprimido
e genioso.
É outro, porém, o homem
que se revela nas entrevistas
com o jornalista francês
Franck Maubert, reunidas no
livro "Conversas com Francis
Bacon - O Cheiro do Sangue
Humano Não Desgruda Seus
Olhos de Mim".
Para começar, Bacon ri o
tempo todo. Tanto que o jornalista não resiste e pergunta: "O senhor ri muito. Por
quê?". Diz o pintor: "É melhor rir de tudo. Senão a vida
seria totalmente sinistra".
E arremata: "Sou uma espécie de niilista otimista.
Hahaha!".
Bacon também é vaidoso,
gosta de se vestir bem.
"Quando envelhecemos, ficamos pavorosos, precisamos compensar isso com as
roupas", justifica.
Quando o assunto deriva
para a vida sexual, é sincero
e bem-humorado. "Dizem
que o senhor gosta dos "bad
boys"", provoca Maubert. "E
também dos pais de família",
completa o pintor.
As conversas, porém, não
se limitam à vida pessoal.
Seu principal assunto, felizmente, é a pintura.
INFLUÊNCIAS
Bacon recapitula com
franqueza aspectos de sua
trajetória artística, desde que
trocou a atividade de decorador pela de pintor.
Fala de suas preferências
-as mais notórias, como Velázquez, e as menos citadas,
como Toulouse Lautrec. Diz
que a obra de Picasso foi decisiva à sua vocação.
E revela que sua fonte "filosófica" provém de dramaturgos que ele lê religiosamente, como Racine, Shakespeare e Ésquilo. "Me arrependo de não ter aprendido
grego antigo", lamenta ele.
Aconselha o jovem artista
a aceitar-se como ele é e "só
abordar temas que o absorvam e o obcequem". Reclama que o patrocínio público
acaba levando a arte à convenção e ao academicismo.
E defende os pintores que
"pesquisam, desmontam,
desossam".
Feitas nos anos 80, as entrevistas foram publicadas
na França no ano passado,
quando se comemorou os
cem anos de seu nascimento.
Elas são menos intelectuais que "Entrevistas com
Bacon - A Brutalidade dos Fatos", de David Sylvester (Cosac Naify, 1985). Mas são
igualmente prazerosas e esclarecedoras, tanto para os
especialistas, quanto para os
que desejam conhecer a obra
desse artista extraordinário.
CONVERSAS COM FRANCIS
BACON - O CHEIRO
DO SANGUE HUMANO
NÃO DESGRUDA SEUS
OLHOS DE MIM
AUTOR Franck Maubert
TRADUÇÃO André Telles
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 28 (96 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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