|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pop e protesto dividem literatura turca
"As Preces São Eternas", de Tuna Kiremitçi, e "A Palavra Perdida", de Oya Baydar, revelam um país esfacelado
Democracia avança, mas censura e opressão contra minorias ainda persistem; Ancara quer destaque na geopolítica
MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO
Tuna Kiremitçi tem 37
anos, estudou cinema, fala
inglês fluentemente e é músico de rock de sucesso. A entrevista à Folha quase não
aconteceu devido a uma turnê pelo Leste europeu.
Já Oya Baydar, 70, preferiu
não responder em inglês
-"por não se sentir à vontade"- , mas, sim, em francês
(domina também o alemão).
Típica representante da elite
cultural, lecionou sociologia
na Universidade de Istambul, foi presa em 1971 por
suas posições de esquerda e
exilou-se na Alemanha.
Mas a pegada pop de um,
que está lançando "As Preces
São Eternas", e a linha de
protesto de outra, autora de
"A Palavra Perdida", revelam um país complexo e esfacelado pela geografia, religião, etnias e culturas.
O cabo de guerra religioso
começou com a fundação da
República, em 1923, por Atatürk. O "pai dos turcos", que
governou até 1938 e levou o
país, majoritariamente muçulmano, rumo ao Ocidente.
A opressão das minorias
-tema de "A Palavra Perdida"- ainda existe, embora
tenha diminuído. "As políticas de assimilação do nacionalismo turco fracassaram",
diz Baydar. A censura também é uma questão. Dez anos
atrás, a língua curda ainda
era oficialmente proibida.
Hoje, vigora na web "a absurda censura ao YouTube", como lembra Kiremitçi.
Os dois também falam do
novíssimo protagonismo da
Turquia na geopolítica, liderada pelo premiê Recep Erdogan. Sua sigla, o AK (Partido
da Justiça e Desenvolvimento) é mais um exemplo das
contradições do país: laico e
com raízes islâmicas.
Baydar não vê mais espaço
para a luta de classes. As novas gerações, diz, deslocaram o foco para as tensões
mais urgentes "e reinventaram a ideia de revolução".
Texto Anterior: Crítica/Entrevista: Em conversa, Bacon revela seu "niilismo otimista" Próximo Texto: Folha.com Índice
|