São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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Pop e protesto dividem literatura turca

"As Preces São Eternas", de Tuna Kiremitçi, e "A Palavra Perdida", de Oya Baydar, revelam um país esfacelado

Democracia avança, mas censura e opressão contra minorias ainda persistem; Ancara quer destaque na geopolítica


MARCOS FLAMÍNIO PERES
DE SÃO PAULO

Tuna Kiremitçi tem 37 anos, estudou cinema, fala inglês fluentemente e é músico de rock de sucesso. A entrevista à Folha quase não aconteceu devido a uma turnê pelo Leste europeu.
Já Oya Baydar, 70, preferiu não responder em inglês -"por não se sentir à vontade"- , mas, sim, em francês (domina também o alemão). Típica representante da elite cultural, lecionou sociologia na Universidade de Istambul, foi presa em 1971 por suas posições de esquerda e exilou-se na Alemanha.
Mas a pegada pop de um, que está lançando "As Preces São Eternas", e a linha de protesto de outra, autora de "A Palavra Perdida", revelam um país complexo e esfacelado pela geografia, religião, etnias e culturas.
O cabo de guerra religioso começou com a fundação da República, em 1923, por Atatürk. O "pai dos turcos", que governou até 1938 e levou o país, majoritariamente muçulmano, rumo ao Ocidente.
A opressão das minorias -tema de "A Palavra Perdida"- ainda existe, embora tenha diminuído. "As políticas de assimilação do nacionalismo turco fracassaram", diz Baydar. A censura também é uma questão. Dez anos atrás, a língua curda ainda era oficialmente proibida. Hoje, vigora na web "a absurda censura ao YouTube", como lembra Kiremitçi.
Os dois também falam do novíssimo protagonismo da Turquia na geopolítica, liderada pelo premiê Recep Erdogan. Sua sigla, o AK (Partido da Justiça e Desenvolvimento) é mais um exemplo das contradições do país: laico e com raízes islâmicas.
Baydar não vê mais espaço para a luta de classes. As novas gerações, diz, deslocaram o foco para as tensões mais urgentes "e reinventaram a ideia de revolução".


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