Autobiografia e coletânea de fotografias homenageiam o rei do futebol, que completará 70 anos em outubro

PENDURICALHOS VÃO DE INGRESSOS DE JOGOS A UM MEMORANDO EM QUE KISSINGER MUNICIAVA NIXON PARA RECEBER PELÉ NA CASA BRANCA

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os mitos não envelhecem, mas os homens sim. Pelé chega este ano aos 70 e, como é natural, os livros a seu respeito começam a inundar as livrarias.
No mar de publicações sobre o rei, dois novos títulos são obrigatórios para os fãs e colecionadores, desde que estes possam desembolsar mais de meio salário mínimo para adquiri-los: "Pelé - Minha Vida em Imagens" e "Pelé 70".
Ambos são edições de capa dura, luxuosas, caprichadas e caras. "Minha Vida em Imagens" é uma autobiografia ilustrada do craque e foi publicada originalmente na Inglaterra, há dois anos.
O texto de Pelé, em primeira pessoa, omite passagens importantes da sua carreira profissional (como os títulos mundiais conquistados pelo Santos) e da sua vida privada (como a filha cuja paternidade foi obrigado a assumir na Justiça).
Isso é amplamente compensado, porém, pelos preciosos penduricalhos encartados no livro, que vão desde cópias de ingressos de jogos célebres até um memorando em que o então secretário de Estado Henry Kissinger municiava o presidente Richard Nixon para receber a visita de Pelé na Casa Branca.
No documento, o secretário de Estado chega a "soprar" as frases que Nixon deveria dizer ao rei e ensina até como pronunciar seu nome ("Pay-lay").
Outro item interessante é uma edição fac-similar do jornal "Soccer News" que noticiou a conquista da Copa de 1958 pelo "Brazilian hero Pele", de 17 anos.

ÍCONE POP
Já o grande trunfo de "Pelé 70" são as escancaradas e belíssimas fotos em preto e branco do craque em ação dentro e fora do campo.
Completam o volume textos de gente graúda, como o veterano jornalista Michel Laurence, o editor e ex-presidente da TV Cultura Roberto Muylaert, o escritor e cineasta José Roberto Torero, o ex-jogador Pepe e (já que nada é perfeito) o ministro dos Esportes, Orlando Silva.
Todos eles falam de sua relação pessoal com o fenômeno Pelé. O artigo mais suculento e original é o do colunista da Folha Xico Sá, que trata Pelé como ícone pop, inserindo-o na cultura e na mitologia de nosso tempo.
Uma bossa adicional do livro é que o comprador pode optar entre dez capas alternativas, cada uma com uma foto mais espetacular que a outra. Algumas são sobejamente manjadas, como aquela em que a tuba de uma banda, atrás do jogador, parece uma auréola ao redor da sua cabeça.
Mas outras são inesperadas, como a que mostra o rei afrouxando a gravata, ou então caminhando sob a chuva, elegante como um músico de jazz americano.
Em conjunto, os dois livros, se não trazem muita novidade sobre o personagem Pelé, propiciam uma prazerosa imersão no mito que seu fabuloso futebol produziu.