São Paulo, Sábado, 12 de Junho de 1999
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"O século foi americano", "diz" mostra em Nova York

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Este é o "século americano" como o anterior havia sido o britânico. Em Nova York, o Whitney Museum mostra como os EUA se auto-retrataram nestes cem anos.
"O Século Americano" é empreitada curatorial tão grande, que o Whitney teve de dividir a exposição em duas. A primeira parte, que abrange o período que vai de 1900 a 1950, aberta em maio, fica em cartaz até 22 de agosto.
Claro que se pode questionar a arbitrariedade das datas. Nenhum século, do ponto de vista histórico, político e cultural, começa no seu ano um. O século 20 teve início quando acabou a Primeira Guerra Mundial, e criou-se espaço para a hegemonia internacional dos EUA. Por isso, não soa estranho que, no 5º andar do museu, onde a mostra começa, os primeiros quadros nada tenham de século 20.
No que a curadora Barbara Haskel chama de "Era da Confiança" (1900-1919), a arte norte-americana ainda quase se limitava a reproduzir padrões do classicismo; até o impressionismo era novidade.
Os EUA encaravam o futuro com otimismo, mas ainda se enxergavam, no campo das artes, como subproduto da Europa.
De fato, só sua emergência da Segunda Guerra Mundial como a liderança do Ocidente parece ter dado autoconfiança ao país para acreditar na sua capacidade de produzir cultura de qualidade.
Foi o expressionismo abstrato que consagrou os EUA no campo da pintura. Vai ser preciso esperar a segunda parte da mostra para poder checar esse período.
Mas em alguns campos das artes, em especial aqueles em que se valia de tecnologias recentes (como fotografia, cinema, arquitetura, música), os norte-americanos começavam a se destacar, com nomes como Alfred Stieglitz (fotos) e Frank Lloyd Wright (arquitetura).
Stieglitz, marido de Georgia O'Keefe, tornou-se o maior incentivador do modernismo nas artes plásticas nos EUA, com sua galeria em Nova York, a 291, que serviu de quartel-general para o movimento, ignorado pelo grande público, no início deste século.
Como quase todas as exposições de arte (ou de história) realizadas nos EUA, a do Whitney dá destaque a manifestações da cultura de massa, que é, como se sabe, a área em que o país se saiu melhor do ponto de vista intelectual.
No 4º andar, está a "Idade do Jazz", em que a importância central da cultura de massa para a manifestação artística nos EUA é mais bem compreendida. O período de 20 a 29, de grande prosperidade econômica, do rádio, dos grandes ídolos da tela, do cinema falado, do charleston, dos arranha-céus, é o do desenvolvimento artístico de O'Keefe, Stella, Stuart Davis, Edward Hopper e Arthur Dove.
"América em Crise" (1930-1939) mostra período em que as artes nos EUA rumaram para direções como regionalismo, neo-realismo e introspecção. São terrenos em que os americanos não pisam com firmeza, embora obras interessantes de Grant Wood e Thomas Hart Benton tenham sido feitas então.
O abstracionismo, com Davis, Alexander Calder e Willem de Kooning, estabeleceu-se como tendência também nessa época. Ele seria o movimento que consagraria os EUA no mundo das artes na segunda metade de seu século.


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