|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Bienal italiana, em sua 48ª edição, apresenta obras dos brasileiros Iran do Espírito Santo e Nelson Leirner
Veneza premia Bourgeois e Bruce Nauman
Reuters
|
Visitante da Bienal de Veneza vê obra do britânico Bruce Nauman |
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Veneza
Não faltaram inaugurações nesta
48ª edição da Bienal de Veneza. A
primeira delas, na última quarta-feira, para artistas, curadores e
convidados em geral, reuniu cerca
de 5.000 pessoas, número repetido
na quinta-feira, o segundo de três
vernissages dedicados a esse público. Ontem foi a vez de o pavilhão
brasileiro abrir suas portas para
um piquenique nos domínios dos
Giardini, em homenagem à representação brasileira.
Hoje acontece a inauguração oficial, para as autoridades, com o
anúncio dos premiados deste ano.
A Bienal oferece a cada edição dois
prêmios para a carreira do artista
(Louise Bourgeois e Bruce Nauman, já anunciados), um Leão de
Ouro para a melhor participação
nacional, o prêmio internacional
Bienal de Veneza e quatro menções honrosas.
O Leão de Ouro para a melhor representação nacional bem que poderia ir para o Brasil, seja pela consistente presença (Iran do Espírito
Santo e Nelson Leirner), seja pela
casualidade de o prêmio ter sido
discutido bem em frente ao pavilhão brasileiro, na sombra de uma
oliveira, por juízes como o nigeriano Okwui Enwezor (curador da
próxima Documenta) e a curadora
e editora de arte espanhola Rosa
Martinez.
Selecionados pelo curador da
próxima Bienal de São Paulo, Ivo
Mesquita, Iran do Espírito Santo e
Nelson Leirner compõem uma
consistente participação brasileira. Aluno e professor, além de gerações diferentes, representam
duas vertentes distintas da arte
contemporânea do país, mas que,
sem preconceito, aproximam-se e
distanciam-se de quando em
quando.
Nelson Leirner apresentou três
instalações. Em uma parede, uma
série de Mona Lisas transformadas; na outra, a série "Construtivismo Rural", feita com couros de
vaca cortados geometricamente e
costurados; no meio, a instalação
"O Desfile", composta de centenas
de bonequinhos de plástico ou
barro representando ícones da cultura brasileira (religiosa, televisiva
ou cotidiana; santos da umbanda,
personagens de quadrinhos, cobras, lagartos e pinguins de geladeira, entre outros).
Na sala em frente, Iran do Espírito Santo apresentou um desenho
sobre a parede, cinco trabalhos da
série "Restless" e a sua série de
moedas transformadas. A união
dos dois no mesmo pavilhão apenas evidenciou mais uma vez as salutares contradições que permeiam a cultura brasileira.
Iran trabalha como um cirurgião, afinado com uma série de assistentes absolutamente indispensáveis ao seu trabalho, como fundidores e vidraceiros (ou seriam
vidreiros, como os famosos nativos da ilha vizinha de Murano?).
Seu trabalho é preciso e racionalizado. Já o corte de Nelson Leirner
parece o do açougueiro. As sobras
e restos da cultura lhe interessam.
Seu procedimento é mais dionisíaco, embora também nele possa ser
sentida uma busca da racionalidade, na organização dos figurantes
de sua procissão ou nas composições precisas de seus couros de vaca.
Parece que a herança deixada pelo construtivismo brasileiro realmente é um fato. Mesmo na série
"Restless", de Iran, é possível notar
algo de construtivo nas diferenças
de percepção provocadas pelo vidro transparente, jateado ou espelhado.
O Brasil compareceu ainda por
tabela com um terceiro representante: Maurício Dias, que faz dupla
com o suíço Walter Riedweg, selecionados pelo próprio curador do
evento (o suíço Harald Szeemann).
Apresentaram a videoinstalação
"Tutti Veneziani", em que mostram habitantes da cidade em situações íntimas (trocando de roupa, por exemplo). É certo que ali
estão presentes questões como as
diferentes classes sociais e etnias
que compõem a cidade e a discussão do público e do privado (como
é próprio da obra dos dois), mas as
questões não ganham consistência. Parece que o trabalho foi feito
às pressas, sem cuidados técnicos
(os personagens não parecem à
vontade) ou conceituais (as discussões propostas não avançam).
Enfim, um trabalho definitivamente inferior ao apresentado pela
dupla de artistas na última Bienal
de São Paulo.
Texto Anterior: Dance: Clube Lov.e comemora 1 ano em 2 dias Próximo Texto: Manifesta exibe jovens artistas Índice
|