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2ª FLIP
O pop da Flip
Escritores viram celebridades no festival de Parati, que terminou ontem; "A ficção não era tema de festas e fotos", afirma Martin Amis
CASSIANO ELEK MACHADO
LUIZ FERNANDO VIANNA
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATI
A garota gritando furiosos "Pelo
amor de Deus" por um autógrafo,
o rapaz que chega tremendo para
tirar um retrato ao lado de seu
ídolo, palmas saindo simultaneamente de mais de mil mãos ao
mesmo tempo.
As cenas se repetiram muitas
vezes nesta semana na cidadezinha de Parati. E não por causa de
um festival de rock ou pelas gravações de uma novela das oito.
Eram todos escritores os "Mick
Jaggers" desse roteiro, os autores
que participaram da Festa Literária Internacional de Parati, que
terminou na noite de ontem. Em
sua segunda edição, a Flip assistiu
(e discutiu) o provável cruzamento mais forte já visto no país entre
a literatura e três letras não muito
associadas a ela, "pop".
O epicentro disso, é verdade, teve a mão da MPB. Com ela, Chico
Buarque de Holanda fez anteontem a primeira sessão de autógrafos de livros de sua vida, deixando
sua assinatura para 113 felizardos
-frustrou outras centenas, que
protagonizavam cenas "beatlemaníacas", urrando, debatendo-se e cantando "A Banda".
Gritos e sussurros seguiram
desde os pouquíssimos passos
públicos de Caetano Veloso até as
generosas aparições de Luis Fernando Verissimo. Este falou sobre o contato com a massa, durante palestra na tarde de sábado:
"Sempre prefiro estar na platéia
do que no palco". O tímido confesso teve performance e aplausos
de showman.
Sua companheira de mesa,
Lygia Fagundes Telles, também
acabou a tinta de canetas de tanto
autografar, posou para câmeras
digitais e expressou sua alegria
com a frase "Quando envelhecer
quero criar gatos em Parati".
Os brasileiros, e aí inclua-se
também "revelações" desta Flip,
como Ferréz e Marcelino Freire,
trouxeram de volta ao país o cetro
de grande atração pop do evento,
que na primeira edição foi do octogenário Eric Hobsbawm.
"Tranqüilidade"
Mas compatriotas seus, como
Ian McEwan e Martin Amis, fizeram considerações importantes
sobre a relação do escritor com o
grande público. Em debate na
noite de ontem, o primeiro lembrou que, até os anos 70, os autores se limitavam a fazer seus livros, enviá-los aos jornais e esperar pelas resenhas.
"Nos anos 80 a coisa mudou.
Não bastava escrever mais os livros, os autores tiveram que
aprender a explicá-los. Viramos
empregados dos romancistas que
somos", disse o romancista.
Amis também refletiu sobre o
pop. "Até recentemente a ficção
não era tema de festivais, de leituras, de festas e fotos." O autor
acredita que a gigantização da mídia foi a responsável. "Os jornais
começaram a crescer tanto que
não tinham mais como preencher
seu espaço e aí passaram a escrever sobre escritores."
Amis escolheu um escritor especial para o encerramento do
festival. Na última mesa da Flip,
em que sete escritores leram trechos de um autor que admiram,
declamou um bocado de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de
Machado de Assis ("personagem" de diversas palestras).
Outro "fenômeno" do festival, a
espanhola Rosa Montero, que teve todos os seus livros esgotados
após sua palestra, também apontou a transformação da literatura
em pop. "Comecei a fazer literatura porque não conseguia falar em
público. Agora tenho que aprender a falar. O marketing é importante, mas às vezes é preciso voltar à tranqüilidade." A Flip acabou. Que venha a tranqüilidade.
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