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Dobradinha inglesa encerra a maratona com obras inéditas
DOS ENVIADOS A PARATI
Dois dos principais nomes da literatura contemporânea em língua inglesa, Ian McEwan e Martin
Amis fizeram uma das melhores
tabelinhas da Festa Literária Internacional de Parati. Desta vez
não foi no futebol. Em debate no
final da tarde de ontem, o duo de
cinquentões britânicos apresentou para um auditório sem cadeiras vazias trechos de obras inéditas, complementados por uma
das mais afiadas sessões de perguntas e respostas da 2ª Flip.
Começou com um "hola, siento
mucho pero no puedo hablar en
portugués", de Amis, que vem
morando há seis meses no Uruguai -terra de sua mulher, Isabel
Fonseca. Ele pediu que a platéia
não tivesse medo de sorrir, e engatou com um trecho de um conto que fez jus à advertência. "No
Palácio do Fim", ainda não publicado em livro nem na Inglaterra,
descreve a vida de um dublê do filho de um ditador -com pegadas que levam a Saddam Hussein.
O sósia narra vai sofrendo
agressões, cirurgias plásticas e outras calamidades ao passo que
Nadir, o Seguinte, sofre atentados
e outros percalços. Perde um
olho, seu dublê também tem de
perder. Política e humor também
apareceram na leitura de Ian
McEwan, que serviu em primeira
mão um nasco do romance que finaliza, que terá o título "Sábado".
Não promete ser um sábado de
lazer o do escritor, que usou tempo de lazer em Parati para corrigir
os manuscritos dessa obra. Londres, 15 de fevereiro de 2003, dia
de grande manifestação contra a
"Guerra do Iraque", um neurocirurgião dirige seu Mercedes a caminho de uma partida de squash.
McEwan não conseguiu risadas
com o texto, mas ganhou a "torcida" quando falou de suas pesquisas para escrever o livro. Na sua
imersão no universo dos neurocirurgiões, topou com "luvas com
restos de mentes" e com médicos
que entram na cabeça dos outros
ao som da "Nona" de Beethoven.
Também mostrou seu humor
quando comentou que estava um
pouco pálido por ter aproveitado
fartamente a hospitalidade paratiense. "Minha memória ficou
meio vazia desde que ontem topei
com uma garrafa com uma cobra
dentro", brincou -comenta-se
que Paul Auster foi o grande destaque no "workshop" de cachaça.
A ressaca não impediu que
McEwan encaixasse bons comentários sobre 11 de Setembro ("levou a uma situação em que queremos ser protegidos, mas não queremos ter a nossa liberdade invadida" e sobre o Iraque.
Sobre isso, Amis comentou o
anti-americanismo agressivo que
tem encontrado no Uruguai e
"quase" apoiou as tropas anglo-americanas no Iraque: "Ainda espero que encontrem as armas
químicas. Ainda espero que a
transição política funcione lá".
(CASSIANO ELEK MACHADO E LUIZ FERNANDO VIANNA)
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