São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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Dobradinha inglesa encerra a maratona com obras inéditas

DOS ENVIADOS A PARATI

Dois dos principais nomes da literatura contemporânea em língua inglesa, Ian McEwan e Martin Amis fizeram uma das melhores tabelinhas da Festa Literária Internacional de Parati. Desta vez não foi no futebol. Em debate no final da tarde de ontem, o duo de cinquentões britânicos apresentou para um auditório sem cadeiras vazias trechos de obras inéditas, complementados por uma das mais afiadas sessões de perguntas e respostas da 2ª Flip.
Começou com um "hola, siento mucho pero no puedo hablar en portugués", de Amis, que vem morando há seis meses no Uruguai -terra de sua mulher, Isabel Fonseca. Ele pediu que a platéia não tivesse medo de sorrir, e engatou com um trecho de um conto que fez jus à advertência. "No Palácio do Fim", ainda não publicado em livro nem na Inglaterra, descreve a vida de um dublê do filho de um ditador -com pegadas que levam a Saddam Hussein.
O sósia narra vai sofrendo agressões, cirurgias plásticas e outras calamidades ao passo que Nadir, o Seguinte, sofre atentados e outros percalços. Perde um olho, seu dublê também tem de perder. Política e humor também apareceram na leitura de Ian McEwan, que serviu em primeira mão um nasco do romance que finaliza, que terá o título "Sábado".
Não promete ser um sábado de lazer o do escritor, que usou tempo de lazer em Parati para corrigir os manuscritos dessa obra. Londres, 15 de fevereiro de 2003, dia de grande manifestação contra a "Guerra do Iraque", um neurocirurgião dirige seu Mercedes a caminho de uma partida de squash.
McEwan não conseguiu risadas com o texto, mas ganhou a "torcida" quando falou de suas pesquisas para escrever o livro. Na sua imersão no universo dos neurocirurgiões, topou com "luvas com restos de mentes" e com médicos que entram na cabeça dos outros ao som da "Nona" de Beethoven.
Também mostrou seu humor quando comentou que estava um pouco pálido por ter aproveitado fartamente a hospitalidade paratiense. "Minha memória ficou meio vazia desde que ontem topei com uma garrafa com uma cobra dentro", brincou -comenta-se que Paul Auster foi o grande destaque no "workshop" de cachaça.
A ressaca não impediu que McEwan encaixasse bons comentários sobre 11 de Setembro ("levou a uma situação em que queremos ser protegidos, mas não queremos ter a nossa liberdade invadida" e sobre o Iraque.
Sobre isso, Amis comentou o anti-americanismo agressivo que tem encontrado no Uruguai e "quase" apoiou as tropas anglo-americanas no Iraque: "Ainda espero que encontrem as armas químicas. Ainda espero que a transição política funcione lá". (CASSIANO ELEK MACHADO E LUIZ FERNANDO VIANNA)


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