São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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Festival "está de bom tamanho"

DOS ENVIADOS A PARATI

Com duas grandes tendas para o público e uma profunda melhora na organização do evento, a Flip 2004 deixou clara como foi acanhada a Flip 2003, que acontecia na pequena Casa de Cultura de Parati. A festa deste ano consumiu R$ 3 milhões (R$ 1,9 milhão em patrocínio e R$ 1,1 milhão em parcerias), contou com 410 profissionais e 160 voluntários e, motivo de tudo, 36 autores -12 a mais do que o ano passado.
O sucesso não significa que a Flip vá crescer ainda mais. "A impressão que temos é de que já chega. Está de bom tamanho para Parati e para esse tipo de evento", afirmou Liz Calder, organizadora do festival, lembrando que o inglês Julian Barnes, participante da primeira Flip, lhe disse que é muito difícil para um escritor ler para mais de 500 pessoas.
Para o próximo ano, o primeiro plano de Calder é torcer por menos frio. Mas ela também diz já ter conversado com o australiano Peter Carey e o inglês John Irving - que terá um de seus livros filmados pelo brasileiro Fernando Meirelles-, mas não adianta mais nomes. "O ideal é misturar autores famosos e outros pouco conhecidos, que provocam surpresas", disse ela.
Entre as surpresas da Flip 2004 está José Eduardo Agualusa. Não que o escritor angolano, com cinco livros publicados no Brasil, fosse totalmente despossuído de fãs por aqui, mas ninguém imaginava que tivesse um tão empolgado e influente quanto Caetano Veloso. Nem o próprio Agualusa.
"Fiquei atordoado, não esperava [tantos elogios]", admitiu ele no dia seguinte à mesa que dividiu com Caetano e da qual, para surpresa de toda Parati, tornou-se protagonista, e não coadjuvante. Seu livro "O Ano em que Zumbi Tomou o Rio", o mais exaltado pelo cantor, esgotou-se rapidamente da Livraria da Vila, ao lado da Tenda dos Autores.
Outras duas surpresas vieram da nova geração. Acompanhado pelo sociólogo José de Souza Martins, Férrez, 29, foi aplaudido de pé na manhã de sábado ao falar de exclusão social e da literatura engajada que faz, motivado pelo cotidiano na periferia paulistana.
Marcelino Freire, 37, pernambucano radicado em São Paulo, comprovou a sua vocação para o palco e se destacou na sessão dedicada à nova literatura, que também contou com Joca Reiners Terron e Daniel Galera.
Já João Ubaldo Ribeiro, ao decidir não participar da Flip por ser supostamente tratado como um "etc.", conseguiu deixar de ser "etc.". Lembrou-se do escritor várias vezes no evento, inclusive inspirando um duro apelido: "Urubaldo" foi como passou a ser chamado um urubu de asa quebrada que caminhava pela cidade.
Ela, a cidade, foi muito mais envolvida pela Flip, graças a uma série de programações paralelas que contemplaram, especialmente, as crianças. Os serviços é que não acompanharam o crescimento da festa: podia-se levar mais de uma hora para comer num restaurante. Ainda assim, pode-se dizer que neste ano evento e cidade se abraçaram. O amor pode se consolidar em 2005. (CEM e LFV)



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