MARIJÔ ZILVETI
DA REPORTAGEM LOCAL

Coração solitário busca alma gêmea pela internet para compartilhar a banalidade do contemporâneo. Esse é o roteiro do programa "E-Love", da GNT.
O glamour possível aqui é o encontro fortuito dos parceiros proporcionado pelas listas de relacionamento e outros serviços da internet. A tecnologia que permeia cada pequeno aspecto do cotidiano atual, pretexto e álibi para o nome do programa, é apenas um detalhe citado e logo deixado de lado em prol de um desfile de lugares-comuns e clichês do que seria um encontro amoroso ou uma relação a dois.
"Na última noite juntos, David ousará fazer a Joy uma proposta irrecusável?", pontua a narração em off em um dos episódios, que leva o nome dos dois personagens retirados da vida real: ela, uma americana divorciada da Geórgia; ele, um solteirão convicto de uma cidadezinha da Inglaterra.
A produção de "E-Love" faz questão de montar todo o clima para evocar um suposto encontro idílico. A preparação da viagem de David, a ansiedade dos protagonistas, uma reunião com amigas de trabalho de Joy, que discutem a validade do romance, sua ida ao aeroporto e sua decepção devido ao atraso de seu amor...
A realidade, como se vê, é minuciosamente construída.
A narrativa do espetáculo -envolvendo o texto enunciado pelo narrador, as tomadas de pôr-do-sol e luar e trilha musical com linha melódica adocicada- enfatiza a paixão dos personagens. Em contraste, relances de olhares embaraçados e gestos involuntários de constrangimento desmontam a representação que as pessoas em cena realizam de si mesmas.
Ao pretender abordar um dado de novidade na cultura humana, a relação intermediada pelas novas tecnologias da informação, o programa opta por um formato que repete fórmulas exaustivamente exploradas. Engessa uma possível nova estrutura do sentimento humano em uma visão estereotipada do amor. A afetividade em tempos da web ainda busca sua mais exata expressão.