São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

Texto Anterior | Índice

MÚSICA

Campeão de vendas, grupo, que se apresenta no Brasil nesta semana, reafirma conexões com passado barra-pesada

Black Eyed Peas busca credibilidade no rap

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Eles são responsáveis pelo single mais vendido do ano passado, em que perguntavam onde estaria o amor. E estão entre os artistas mais festejados do universo hip hop. Mas o grupo Black Eyed Peas parece não satisfeito e, em entrevista à Folha, faz questão de reafirmar as conexões com o gangsta rap e o passado barra-pesada numa vizinhança de Los Angeles.
É como se a banda, que se destaca entre os rappers mainstream dos EUA por fugir da temática armas-carrões-drogas-machismo em suas letras, precisasse dessas credenciais para conquistar respeito entre os fãs e seus pares.
E o Black Eyed Peas, pelo momento que passa, não é banda que necessita recorrer a coisas do tipo. O terceiro e mais recente álbum, "Elephunk", é hit no mundo inteiro, puxado pelo estrondoso sucesso de "Where Is the Love?", single em que fazem dueto com o popstar Justin Timberlake e que vendeu mais de 600 mil cópias apenas no Reino Unido. O Brasil verá o BEP nesta semana (sexta e sábado), em shows em São Paulo e no Rio de Janeiro, em eventos das produtoras Tranze e W/A.
Se o rap ganhou o mundo hoje, essa música tem responsabilidade grande. A "credibilidade" -essa coisa tão cara ao rigoroso mundo do hip hop- do Black Eyed Peas chegou a ser questionada -afinal, estavam ganhando dinheiro com a ajuda de um cantor que até há pouco tempo dava passos de dança com a "boy band" N'Sync.
Questionado pela Folha, por telefone, de Paris, onde estava em turnê na semana passada, sobre o que achava do gangsta rap, um dos vocalistas e fundadores do quarteto, Apl de Ap, foi enfático: "Gosto de Eminem, gosto de 50 Cent. O gangsta é uma coisa muito pessoal, depende muito de onde você vem", disse, citando dois dos maiores expoentes do gênero.
"Nós começamos com Easy-E, quando ainda estávamos na escola", afirmou. Easy-E, morto em 1995 em decorrência de Aids, era um dos membros do NWA, grupo que tinha também Dr. Dre e Ice Cube e foi um dos "alicerces" do gangsta rap nos EUA.
Easy-E foi o primeiro grande nome a dar atenção ao Black Eyed Peas, no início dos anos 90. Em 1998, o grupo lançou "Behind the Front". Bastante elogiado, o primeiro álbum já caracterizava o BEP como gente de fora do tiroteio do gangsta rap.
"Nós vivíamos em Los Angeles, uma das capitais do mundo de rap e cidade bastante violenta. Íamos aos clubes, apenas por diversão, dançávamos e depois começamos a rappear", lembra Apl de Ap (nome de batismo: Allen Pinda). "Nós éramos bons, por isso algumas pessoas nos deram chances, como Easy-E. Hoje, aqui estamos nós."
O grupo lançaria depois "Bridging the Gap" (2000), com boa aceitação. Mas o sucesso viria mesmo com "Elephunk", que traz ainda o hit "Shut Up".
Os shows do BEP fogem do formato MC e DJ. Apl de Ap e seus companheiros, Taboo, Will.I.Am e a vocalista Fergie, são acompanhados de banda. "É um show bem enérgico, com vários elementos no palco."

Internet
Além da temática de suas letras, o Black Eyed Peas bate de frente com seus pares do rap mainstream quando o assunto é a internet. A troca de arquivos pela rede é, quase de forma unânime, muito criticada pelos rappers norte-americanos, que enxergam nisso uma forma de perda de lucros. "Não sou contra. Acho que é uma forma boa de promoção. As pessoas que baixarem nossas músicas e gostarem vão comprar o álbum de qualquer maneira."


BLACK EYED PEAS. Show com o grupo norte-americano. Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, São Paulo, tel. 0/xx/11/2163-2000). Quando: sexta, às 22h. Quanto: de R$ 80 a R$ 200.

SKOL STAGE. Festival com Black Eyed Peas e Afro Rio, entre outros. Onde: Píer Mauá (av. Rodrigues Alves, 10, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2456-2618). Quando: sábado, às 21h. Quanto: de R$ 35 a R$ 50.


Texto Anterior: Nelson Ascher: Poetas do mundo inteiro, uni-vos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.