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TEATRO
Chega ao Brasil "Tierno Bokar", mais recente criação do aclamado diretor inglês; peça narra história de líder espiritual
Brook desconstrói estereótipos africanos
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O diretor inglês Peter Brook, 79,
uma das referências do teatro
contemporâneo, está no Brasil
para acompanhar a apresentação
de sua nova montagem, "Tierno
Bokar", que integra a programação do 7º Festival Internacional de
Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH).
A mais recente criação de Brook
desembarca aqui pouco após sua
estréia, em junho, na Alemanha.
Narra a história do líder espiritual
africano Tierno Bokar (1875-1940), cujas palavras acabam por
traduzir fragmentos da própria filosofia de trabalho do encenador.
Em entrevista coletiva, anteontem, em Belo Horizonte (MG),
Brook repudiou a idéia de um teatro doutrinário, do qual emergem
mais respostas do que perguntas.
Para isso, recorreu aos ensinamentos de Bokar, que afirmava a
existência de três verdades -"A
minha verdade, a sua verdade e a
verdade". "Quando se aceitam as
três verdades, não se acredita
mais no autor de teatro, que tem
uma visão política, uma ideologia
e uma idéia", diz Brook.
"Tierno Bokar" é baseada em
"Vida e Ensinamentos de Tierno
Bokar - O Sábio de Bandiagara",
do etnólogo e filósofo malinês
Amadou Hampaté Bâ (1901-1991), discípulo de Bokar e a
quem Brook conheceu. O texto foi
adaptado para o teatro por Marie-Heléne Estienne, colaboradora
permanente de Brook.
Em cena, um elenco de dez atores de diferentes nacionalidades,
radicados no Cict (Centro Internacional de Criação Teatral), fundado por Brook em 1974, em Paris. O elenco conta com alguns
dos mais antigos atores da companhia, como o africano Sotigui
Kouyaté, 67 (como Tierno Bokar), o japonês Yoshi Oida e o inglês Bruce Myers.
A montagem de Brook aborda
temas atuais e mundanos, como a
violência e a (in)tolerância. Em
uma África colonial e moldada
pelo islamismo, uma pequena diferença de opinião sobre o número de vezes em que uma oração
deveria ser repetida -11 ou 12-
deflagra conflitos religiosos e
massacres entre a população.
Encenar a trajetória de Bokar,
para Brook, significa desconstruir
estereótipos criados sobre a África ao longo dos anos. "Considerando que o Brasil não é o país
unicamente do samba, a África
também não é um continente só
de negros, da música e da Aids."
O espetáculo, falado em francês
e com uma hora e 40 minutos de
duração, reafirma características
do teatro brookiano, como a atribuição de diversos papéis ao mesmo ator e a economia de recursos.
O processo de criação, segundo
Brook, foi "muito simples". "Inicialmente, não sabíamos como fazer. Tentamos muitas coisas, cometemos erros e continuamos até
que tudo que fosse inútil sumisse.
É um trabalho de pesquisa."
Brook não gosta de "viver no
passado", conforme registrado no
documentário "Brook por Brook,
um Retrato Íntimo" (2001), dirigido por seu filho Simon. Sobre os
rumos de sua pesquisa, disse:
"Nunca tento me interrogar dessa
forma. Tento apenas trabalhar,
seguindo intuições e tentando estar cada vez mais próximo delas.
O que muda não sou eu, nem o
método, mas o mundo, que muda
o tempo todo".
TIERNO BOKAR. Em São Paulo: Sesc Vila
Mariana (r. Pelotas, 141, SP, tel. 0/xx/ 11/
5080-3000). Quando: de 17 a 20/8, às
21h. Quanto: R$ 10 a R$ 30. Em Belo
Horizonte (MG): teatro Francisco Nunes
(av. Afonso Pena, s/nº, tel. 0/xx/ 31/
3224-4546). Quando: de 25 a 29/8, às
21h, e 30/8, às 20h. Quanto: R$ 8.
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