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OPINIÃO
Mesa do chef cria fantasia com o contato real
CRÍTICO DA FOLHA
Dá para entender por que
um aficionado pela gastronomia escolhe sentar-se na cozinha de um restaurante para
ver de perto o balé (ou a guerra) dos cozinheiros, o chef-maestro regendo a orquestra,
como a um aficionado da
música será emocionante assistir a um ensaio conduzido
por um maestro em mangas
de camisa.
Mas nem sempre é o que
acontece e muitas vezes a
"mesa do chef" tem a oferecer mais o glamour e a fantasia do que um contato real
com a obra de um grande artista da cozinha.
No multiestrelado restaurante de Alain Ducasse, em
Paris, ela fica fora do salão do
Plaza Athenée e realmente
perto da cozinha. Mas é cercada de vidros que garantem
o conforto do ar-condicionado e só revela os detalhes
através de monitores de TV.
Pelo menos dá para o chef
passar, mas o frisson de estar
em pleno campo de batalha,
nem pensar.
Na de Charlie Trotter, em
Chicago, a imersão é maior.
Mas também o calor, o barulho... E, mesmo assim, fica
fora do centro nervoso da cozinha, claro. Para realmente
sentir a vibração do momento, seria preciso estar de pé,
atrapalhando o serviço.
No Dos Cielos, em Barcelona, a mesa alta é como uma
divisória entre o salão e a cozinha -onde os chefs (os irmão Torres) terminam os
pratos. É provavelmente a
mais eficiente em termos de
criar essa proximidade.
O meio-termo entre a mesa
asséptica de um e a calorenta
de outro parece estar sendo
erigido na prática dos restaurantes que têm cozinhas
abertas, que permitem que o
público compartilhe um pouco da produção que antecede
a chegada de seus pratos.
Os vários L'Atelier de Joël
Robuchon são bom exemplo.
Eles permitem ao cliente espiar cada passo: o restaurante é um grande balcão, com a
cozinha no centro. Só não dá
para ver Robuchon, é certo,
pois nunca está em nenhum
deles; mas é uma ideia para
aproximar os clientes do calor do show.
(JOSIMAR MELO)
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