|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mesa para poucos
Dentro da cozinha de um restaurante e em espaços de onde se vê o trabalho do chef , clientes têm experiências gastronômicas que vão além das inventivas degustações
LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO
Um enorme intervalo separou a cozinha do salão. Injuriado com a demora de seu
prato, o cliente reclamou diretamente ao chef.
Antes de deixar um dos
melhores restaurantes franceses da cidade, no entanto,
ouviu o convite do chef, Erick
Jacquin, "para voltar". Mas,
desta vez, ia ser diferente: a
promessa era servi-lo dentro
da cozinha. O chef pretendia
mostrar por que é que, às vezes, um prato demora a sair.
E lá a mesa ficou. Uma mesa pequena, para dois. Dali
se observa o movimento dos
cozinheiros e de seu mestre.
Um pedido chega do salão, um prato sai. Isso, claro,
depois que o peixe é desembalado, levado ao fogo em
panelas de cobre e finalizado
com alguma espuma.
"Aqui é para se sentir dentro do coração de um restaurante. É uma orgia da gastronomia", diz o temido chef,
que ganha feições leves, apesar da seriedade, faz piada e
fala até de futebol.
Dali capta-se a tensão de
uma cozinha: a precisão, o
tempo, a simultaneidade.
Mas, para os comensais dali,
o clima é apaziguado quando
chega a primeira garfada da
terrine de foie gras seguida
de um gole de Sauterne.
"Essa aqui é a tábua do
foie gras", diz Jacquin, enquanto corta mais um escalope, que depois vai à grelha e é
servido com banana caramelizada com "cubra libre" (bolinhas de Coca-Cola e rum
que dissolvem na boca).
Na cozinha de Bel Coelho é
outra história. O Clandestino, projeto que abre hoje ao
público, é um jantar servido
somente com reserva, para
poucos, no segundo andar
do restaurante Dui.
É em uma pequena cozinha, equipada com vistosos
eletrodomésticos e azulejos
garimpados em "cemitérios
de azulejos", que Bel prepara
delicadamente suas receitas,
às vezes decoradas com flores minúsculas -e servidas
em cerâmicas sob medida.
De lenço rosa na cabeça,
ela desfila criações como a
"praia" de sequilhos de coco,
farofa de mandioca frita na
manteiga de camarão, tirinhas crocantes de coco, siri-mole e espuma de moqueca.
Entre uma pausa e outra,
prova um caldo aqui e acolá
para testar o ponto do sal.
DE CASA
Na casa onde os chefs do
Eñe, Javier e Sergio Torres,
nasceram, na Espanha, havia uma mesa onde "comíamos e cozinhávamos ao mesmo tempo", diz Sergio.
Veio dessa imagem a ideia
de montar uma mesa na cozinha da filial carioca do restaurante aos moldes do que
já fazem no Dos Cielos, em
Barcelona. Ali, os comensais
são servidos pelos cozinheiros, que fazem uso de ingredientes exclusivos, como ostras de Galícia.
No paulistano Così, a "mesa do chef" é como uma extensão da cozinha. Fica no
salão, mas é mais alta, para
acompanhar o trabalho do
chef, Renato Carione. Por
trás da parede de vidro, ele
prepara pratos especiais em
tempo real. E é seguido de
perto pelo olhar atento dos
clientes mais curiosos.
Texto Anterior: Gibi narra a trajetória de Anita Garibaldi Próximo Texto: Opinião: Mesa do chef cria fantasia com o contato real Índice
|