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"AS BICICLETAS DE BELLEVILLE"
Fábula de Sylvain Chomet prescinde de diálogos e busca sustentação na música
Animação francesa pedala entre grandes nomes de sua cultura
ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO
Com a sequência inicial de "As
Bicicletas de Belleville",
Sylvain Chomet poderia se redimir de qualquer deslize posterior
do filme. Felizmente, não é preciso redenção. O primeiro longa-metragem do animador e quadrinista francês, diretor do premiado
"A Velha e os Pombos" (97), começa passando a limpo personagens que povoaram a cultura
francesa do último século, desde
os traços -em leve homenagem
ao caricaturista Albert Dubout
(1905-1976)- às figuras de Django Reinhardt, Josephine Baker,
Charles Trenet e Fred Astaire.
A abertura, na verdade, é um filme a que um menino melancólico, Champion, e sua avó, Madame Souza, assistem e em que se
apresentam também as Triplettes
de Belleville, trio musical fictício
daqueles supostos anos 30. A sequência serve também como indício de que Chomet faz questão
de explicitar as referências, que
vão guiá-lo filme afora, até culminar num agradecimento ao cineasta Jacques Tati (1907-1982).
Personagens de traços angulosos recheiam a trama improvável,
que parte da paixão do jovem
Champion por bicicletas. O progresso entorta a casa dos Souza
para abrir caminho a um trem,
mas nada parece abalar a velhinha
portuguesa, que se dedica a treinar o ciclista Champion.
Ele cresce, ganha músculos, um
imenso nariz e vai participar da
Volta da França, mas não completa a prova: é sequestrado por capangas da máfia francesa.
A partir do faro de seu cão Bruno -pavloviano de carteirinha-, Madame Souza vai atrás
de seu neto, atravessando o Atlântico de pedalinho, numa sequência em 3D que talvez se revele o
momento mais bonito do filme. A
dupla chega a Belleville, mistura
de Nova York e Montréal, onde a
obesidade é a regra.
Cenas de perseguição e algum
suspense são entremeadas pelos
números musicais e instrumentos
pouco ortodoxos das já decadentes Triplettes, que ganham o reforço de Madame Souza.
Durante todo o filme, não se ouvem palavras -apenas as do locutor da Volta da França e um
discurso do presidente Charles de
Gaulle (1890-1970).
Apoiado em seus traços, Chomet não precisa de nada além de
boa música para dar tom à fábula.
Exagera clichês sobre franceses
(principalmente gastronômicos),
brinca com seu quebra-cabeças
de nomes famosos e passa a limpo
suas referências mudas, sem precisar pedir licença nem desculpas.
As Bicicletas de Belleville
Les Triplettes de Belleville
Produção: França/Canadá/Bélgica,
2002
Direção: Sylvain Chomet
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 15h,
no MIS
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