São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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EXPOSIÇÃO

"Fashion Passion" leva à Oca 156 criações de 26 estilistas estrangeiros

Mostra vasculha moda de rua à alta-costura do século 20

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos modelos mais fascinantes do século 20 às combinações modestas das "popozudas", a exposição "Fashion Passion - 100 Anos de Moda na Oca" tem um objetivo bastante ambicioso: "É o desfile do século 20", diz o francês Jean-Louis Froment, um dos cinco curadores da exposição.
Ao lado de estilistas que marcaram a moda no último século, do francês Paul Poiret ao belga Martin Margiela, Froment afirma que se trata do desfile do século pois, entre as 156 criações de 26 estilistas estrangeiros, está "o contraste entre a moda e o seu contrário". O tal contrário ficou a cargo das curadoras brasileiras na exposição, Gloria Kalil e Regina Guerreiro.
"À tradicional cultura de moda européia respondemos com a nossa vigorosa arte popular; à roupa exclusiva, saída dos inigualáveis ateliês de alta-costura, respondemos com a roupa vestida, aquela que usa o corpo como suporte vital e as ruas como passarela", afirma Gloria Kalil no catálogo da mostra.
Entretanto não é só das ruas que vem o que os curadores chamam de "resposta brasileira": artistas plásticos também foram chamados, quando utilizaram o corpo como suporte. Claro, nesse quesito, não podiam faltar os Parangolés, de Hélio Oiticica, ou mesmo o traje "New Look", de Flávio de Carvalho.
Segundo Froment, que criou e durante 20 anos dirigiu o Centro de Arte Contemporânea em Bordeaux, na França, a idéia da exposição partiu de Edemar Cid Ferreira, presidente da BrasilConnects. "Foi ele quem me pediu para organizar a mostra. O conteúdo é histórico, em formato cronológico, mas é um ponto de partida subjetivo, no qual apresentamos os estilistas que consideramos a vanguarda no século 20", afirma Froment. De fora, ficou toda a produção norte-americana, como Calvin Klein. "A grande participação dele na moda foi produzir cuecas", ironiza Froment.
Por outro lado, os curadores evitam também discursos nacionalistas. "Moda é uma linguagem universal, todos nós temos que nos vestir de alguma forma e o que apresentamos aqui são aqueles que provocaram as fases revolucionárias da moda", diz Pamela Golbin, outra das curadoras da mostra.

Glamour
"Fashion Passion", orçada em cerca de R$ 6 milhões, está montada em dez pavilhões, amebóides gigantes criados por Daniela Thomas e Felipe Tassara e que preservam a arquitetura orgânica de Oscar Niemeyer, pois há cor apenas dentro dos pavilhões. A entrada para a mostra é por uma escada arredondada, que desce para o subsolo da Oca, uma passarela com luzes, o que faz sobrar glamour também para os visitantes.
A exposição conta com quatro seções distintas: em cada pavilhão há criações, com peças originais, e fotografias de moda, escolhidas pelo time francês, mais a resposta brasileira e, na saída de cada espaço, um modelo usado por alguma celebridade, como um Jean-Paul Gaultier, usado por Madonna, que pessoalmente emprestou a roupa, ou um Christian Dior, usado por Evita Perón.
"Esse vestido, segundo o documento que recebemos, demandou 500 horas de bordado à mão. É um dos hits da exposição. Pedimos para apresentar essas roupas para aumentar a curiosidade do público com a mostra", afirma Emilio Kalil, presidente-executivo da BrasilConnects. Entre as celebridades, estão ainda Lady Di por Catherine Walker, Marilyn Monroe por Emilio Pucci e Marlene Dietrich por Cristobal Balenciaga.
Finalmente, no segundo piso, com biquínis, maiôs e vestidos, as curadoras brasileiras traçam um panorama da produção contemporânea brasileira na moda. Entre os estilistas selecionados estão Alexandre Herchcovitch, Reinaldo Lourenço e Karlla Girotto. "Essa é a apoteose da moda brasileira", disse Kalil.
"O mais importante na exposição é seduzir. Como diz no nome, falamos de uma paixão. Por isso, apelamos aos sentidos e não apenas à razão", conta Golbin, também curadora do Museu da Moda e do Têxtil, em Paris. No caso, o apelo é essencialmente através da moda feminina, já que há apenas um modelo criado para homens na mostra. "A presença da moda masculina é muito recente, assim como os cosméticos. Mas, não há dúvida, essa é uma questão do futuro da moda", diz Froment.
Falando em futuro, o curador não poupa elogios ao Brasil. "Este país é, além de potência econômica, uma potência criativa. Aqui se faz roupa para o corpo, e não roupa pela roupa, como ocorre na Europa. Isso é o futuro." Quem diria, as "popozudas" viraram celebridades internacionais ao lado de Madonna e Lady Di.


FASHION PASSION - 100 ANOS DE MODA NA OCA. Mostra que apresenta 156 criações de 26 estilistas estrangeiros, além de peças brasileiras. Curadoria: Jean-Louis Froment, Florence Müller, Pamela Golbin, Regina Guerreiro e Gloria Kalil. Quando: abertura dia 14, às 19h30 (para convidados); de ter. a sex., das 9h às 20h, sáb. e dom., das 9h às 20h; até 5/ 12. Onde: Oca (parque Ibirapuera, São Paulo, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-0449). Quanto: R$ 10. Patrocinadores: Riachuelo, Gol, Chevrolet e American Express.


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