São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mitteldorf exibe suas imagens "oníricas"

Fotógrafo mostra trabalho feito com prismas e câmera aquática fora d'água

Artista, que se diz desiludido com a publicidade, investe em projetos autorais, como a mostra que é aberta hoje na Pinacoteca do Estado


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pode o ato fotográfico revelar mais sobre quem fotografa do que sobre o que é fotografado? A mostra fotográfica e o livro "Introvisão", que Klaus Mitteldorf lança hoje à noite na Pinacoteca, em SP, responde essa questão tendendo ao sim. É possível perceber em algumas obras que o olho a espreitar o mundo pode ser o mesmo que nos traduz perante os outros.
O paulistano Mitteldorf, 53, formado em arquitetura, iniciou sua carreira há cerca de 30 anos como fotógrafo de surfe para depois se notabilizar na área de moda e publicidade. Atualmente, no entanto, anda desencantado com os rumos da profissão.
"A publicidade não é mais um campo de discussão e pensamento da fotografia como foi nos anos 80. Antes, o fotógrafo era chamado a colaborar com idéias e conceitos. Hoje ele recebe uma imagem pronta, criada em departamentos de marketing para apenas reproduzi-la. É o fim. Hoje ser dentista, bancário ou fotógrafo profissional, para mim tanto faz, é só uma forma de ganhar uma grana." A impossibilidade de ver refletido seu trabalho mais autoral nas campanhas que realiza para as agências fez Mitteldorf dedicar metade de seu tempo a pesquisas de caráter mais lúdico, como essa que desaguou em "Introvisão".
Nestas imagens, a subjetividade, a incorporação do acaso, o uso deliberado do desfocar e da saturação das cores são elementos que revigoram a relação do fotógrafo com sua mídia. Universo onírico que, se não serve para vender mais caixas de sabão, explicita uma conversão na relação com o próprio olhar pautada pela maturidade de quem repassa seu tempo e sua obra.
Essa mesma maturidade trouxe ao fotógrafo a necessidade de utilizar óculos para leitura. Uma lente como prótese, como extensão do olho, tal qual uma câmera fotográfica deflagrou a pesquisa sobre o olhar.
Os óculos que servem para ver de perto desfocam a visão quando se tenta olhar à distância. Surgiu daí a percepção de que cada pessoa enxerga de um jeito e processa de forma ainda mais diversa aquilo que vê.
"Quis enxergar com os olhos dos outros, entrar em suas cabeças, descobrir como a visão das mesmas coisas pode nos levar a narrativas tão díspares", diz o fotógrafo. Ver como o outro enxerga é uma forma de colocar seu próprio olhar em xeque, de perceber as amarras da racionalidade e das referências viciadas que pautam nossa forma de perceber o mundo. Em "Introvisão", Mitteldorf busca sua conversão ao ato criativo pautado pelo sensorial a caminho da imaginação irrestrita.
Uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que emerge da água formando reflexos e refrações inusitadas é o ícone desta bem-vinda conversão.


INTROVISÃO -
KLAUS MITTELDORF

Quando: ter. a dom., das 10h às 18h; até 15/10
Lançamento do livro e abertura da exposição: hoje, para convidados, das 19h30 às 22h Onde: Pinacoteca do Estado (pça da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 2 e R$ 4; gratuito aos sábados
Livro: R$ 70 (104 págs.)


Texto Anterior: Análise: Bailarina aproximou dança e teatro
Próximo Texto: Trecho
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.