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Mitteldorf exibe suas imagens "oníricas"
Fotógrafo mostra trabalho feito com prismas e câmera aquática fora d'água
Artista, que se diz desiludido com a publicidade, investe em projetos autorais, como a mostra que é aberta hoje na Pinacoteca do Estado
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pode o ato fotográfico revelar
mais sobre quem fotografa do
que sobre o que é fotografado?
A mostra fotográfica e o livro
"Introvisão", que Klaus Mitteldorf lança hoje à noite na Pinacoteca, em SP, responde essa
questão tendendo ao sim. É
possível perceber em algumas
obras que o olho a espreitar o
mundo pode ser o mesmo que
nos traduz perante os outros.
O paulistano Mitteldorf, 53,
formado em arquitetura, iniciou sua carreira há cerca de 30
anos como fotógrafo de surfe
para depois se notabilizar na
área de moda e publicidade.
Atualmente, no entanto, anda
desencantado com os rumos da
profissão.
"A publicidade não é mais
um campo de discussão e pensamento da fotografia como foi
nos anos 80. Antes, o fotógrafo
era chamado a colaborar com
idéias e conceitos. Hoje ele recebe uma imagem pronta, criada em departamentos de marketing para apenas
reproduzi-la. É o
fim. Hoje ser dentista, bancário ou fotógrafo profissional,
para mim tanto faz,
é só uma forma de
ganhar uma grana."
A impossibilidade
de ver refletido seu
trabalho mais autoral nas campanhas
que realiza para as
agências fez Mitteldorf dedicar metade
de seu tempo a pesquisas de caráter
mais lúdico, como
essa que desaguou
em "Introvisão".
Nestas imagens, a
subjetividade, a incorporação do acaso, o uso deliberado
do desfocar e da saturação das cores
são elementos que revigoram a
relação do fotógrafo com sua
mídia. Universo onírico que, se
não serve para vender mais caixas de sabão, explicita uma
conversão na relação com o
próprio olhar pautada pela maturidade de quem repassa seu
tempo e sua obra.
Essa mesma maturidade
trouxe ao fotógrafo a necessidade de utilizar óculos para leitura. Uma lente como prótese,
como extensão do olho, tal qual
uma câmera fotográfica deflagrou a pesquisa sobre o olhar.
Os óculos que servem para ver
de perto desfocam a visão
quando se tenta olhar à distância. Surgiu daí a percepção de
que cada pessoa enxerga de um
jeito e processa de forma ainda
mais diversa aquilo que vê.
"Quis enxergar com os olhos
dos outros, entrar em suas cabeças, descobrir como a visão
das mesmas coisas pode nos levar a narrativas tão díspares",
diz o fotógrafo. Ver como o outro enxerga é uma forma de colocar seu próprio olhar em xeque, de perceber as amarras da
racionalidade e das referências
viciadas que pautam nossa forma de perceber o mundo. Em
"Introvisão", Mitteldorf busca
sua conversão ao ato criativo
pautado pelo sensorial a caminho da imaginação irrestrita.
Uma imagem de
Nossa Senhora
Aparecida que
emerge da água formando reflexos e
refrações inusitadas é o ícone desta
bem-vinda conversão.
INTROVISÃO -
KLAUS MITTELDORF
Quando: ter. a dom.,
das 10h às 18h; até
15/10
Lançamento do livro
e abertura da exposição: hoje, para convidados, das 19h30 às 22h
Onde: Pinacoteca do
Estado (pça da Luz, 2,
SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 2 e R$ 4;
gratuito aos sábados
Livro: R$ 70 (104
págs.)
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