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Análise
Bailarina aproximou dança e teatro
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Personalidade única no
processo de modernização da dança paulista,
Renée Gumiel foi, toda a vida,
capaz de catalisar forças ao seu
redor. Sempre trabalhou na interface da dança com o teatro,
que eram suas armas a favor da
arte e da vida. No início, quando
chegou a SP, em 1957, não encontrou grande receptividade
ao seu trabalho. Aos poucos, foi
rompendo preconceitos. Desde
então, não parou de influenciar
gerações da dança e do teatro.
Para Gumiel, "corpo é saber:
sensibilidade física e psíquica".
Na sua visão cosmopolita, as
várias artes estão interligadas e
um artista deve ter formação
múltipla. Assim como trouxe
para o país a dança moderna,
também apresentou compositores como o alemão Karlheinz
Stockhausen, pioneiro da música eletrônica, e criou coreografias inspiradas em autores
como Sartre e Brecht.
Experimentalismo e improvisação eram aspectos fundamentais do seu trabalho corporal, que foi se tornando cada vez
mais próximo do teatro -um
teatro que parte do corpo.
Desde 1991, vinha participando de espetáculos de José
Celso Martinez Corrêa, no teatro Oficina: "Cacilda!", "As Bacantes" e as cinco partes de "Os
Sertões". Este ano estreou
"Cinzas", de Samuel Beckett,
que dirigiu e interpretou ao lado de Aury Porto.
"Para mim, fazer dança ou
teatro significa evoluir, não me
acomodar", ela gostava de dizer, com o sotaque carregado e
o tom voluntarioso que nunca
deixaram de ser suas marcas,
assim como a maquiagem pesada, o cigarro e o cálice de vinho.
Até os últimos dias, Gumiel
continuava no palco do Oficina
e dando aulas na escola teatral
Célia Helena. Para ela, vida e
arte nunca se separavam. Sempre viveu o presente, com pouca paciência para o passado e de
olho no futuro, planejando novas montagens. "Não tenho
saudades do passado, vivo o
presente e o futuro. Mas minha
vida está escrita na pele."
Não tinha medo da morte:
"Para mim, não existe a morte
sem a vida. O anjo da morte está
sempre presente, em nossas
emoções e atos. Nossa caminhada não tem princípio nem
fim, só continuidade".
A imagem de Renée dançando, aos 92 anos, é uma das nossas visões definitivas da arte,
como forma humana de continuidade. Sua lição maior sempre foi essa: a renovada afirmação do sim, contra tudo que nos
diz não.
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