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Dramalhão mexicano ambientado no interior de SP tenta desbancar celebridades globais
Briga de foice
DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO RIO
Com texto mexicano e música
de abertura na voz de Moacyr
Franco, a novela "Canavial de Paixões" estréia amanhã, às 20h30,
no SBT, disposta a concorrer com
"Celebridade", a nova aposta da
Globo para o horário das oito.
O romance açucarado teve seu
início adiado por duas vezes, até
que Silvio Santos bateu o martelo:
a trama teria de entrar no ar no
mesmo dia da sucessora de "Mulheres Apaixonadas".
O SBT sabe que esse não é exatamente um bom momento para
declarar guerra contra o principal
produto de teledramaturgia da
concorrente. Internamente, enfrenta dificuldades financeiras e a
crise de credibilidade com o mercado publicitário causada pelo
"caso Gugu/PCC".
Por outro lado, a Globo vive excelente fase na faixa das oito.
"Mulheres" deixou o horário com
recordes de audiência (perto dos
50 pontos no Ibope) e de repercussão. Já é um contexto favorável
a "Celebridade", que ainda concentra grandes investimentos da
direção da Globo: traz de volta
Gilberto Braga (autor das consagradas "Vale Tudo" e "Escrava
Isaura"), apresenta elenco de primeiro time e tem participação de
astros internacionais.
"É claro que vamos sair um
pouco machucados nessa história", brinca Jacques Lagoa, o diretor de "Canavial de Paixões", referindo-se à guerra de audiência.
Tentando evitar ferimentos
mais graves, o SBT reuniu todos
os seus esforços e anunciou com
estardalhaço a contratação de ex-globais como Victor Fasano e
Claudia Ohana -só não deu holofote ao fato de que justo os dois
participam apenas da primeira
quinzena da novela, morrem e
passam a ter suas poucas imagens
reaproveitadas em flashbacks.
O SBT também trouxe da Globo
Débora Duarte e Oscar Magrini,
que, aliás, não gosta de ser chamado de ex-global. "Não tem diferença. Sou um ator e tenho que
mostrar o meu trabalho, seja na
Globo, no SBT ou na Record. A
novela mexicana tem o que o povão gosta, ódio, amor, inveja...",
diz ele, que já atuou em outras
duas no canal de Silvio Santos.
Como o SBT não mantém banco de atores fixos, foram testadas
2.000 pessoas para o elenco, de ex-integrantes da "Casa dos Artistas"
a capas de revistas masculinas.
A trama é simples: um amor de
juventude entre o usineiro Amador Giácomo (Fasano) e Débora
Santos (Ohana), mulher do dono
de canaviais da região, faz com
que, 15 anos depois, os filhos das
duas famílias sejam impedidos de
namorar. Um "Romeu e Julieta"
na terra da garapa.
"O que tentamos fazer é tornar a
coisa crível, sem aqueles penteados, maquiagens e falas exagerados. Nisso, até eles [os mexicanos]
já estão melhorando", diz Lagoa.
"Precisamos é deixar de ver a
novela mexicana como um subproduto. Ela tem suas vantagens e
reúne todos os elementos de um
bom folhetim. A "Pícara Sonhadora" [exibida em 2001 pelo SBT] foi
um grande sucesso em Nova
York", diz Lagoa, que dirigiu "Xica da Silva" na extinta Manchete.
"Canavial" ganha de "Celebridade" quando o assunto é economia. Cada capítulo da trama do
SBT custa R$ 90 mil, enquanto o
da concorrente chega perto de R$
200 mil. O elenco também é menor: 28 contra 50 globais.
As primeiras cenas devem dar o
tom da diferença: "Canavial", como não poderia deixar de ser,
mostra quilômetros e quilômetros de plantações de cana. Já "Celebridade", sobre o mundo glamouroso dos famosos, começa
com imagens de Londres e Paris.
Trabalhando com um texto
pronto e procurando diminuir
custos, "Canavial" entra no ar
com cerca de 40 dos cem capítulos
da novela já gravados.
"Nosso cronograma nos obriga
a fazer tudo em quatro meses e
meio. Para isso, gravamos mais
horas por dia e os atores têm de
entrar no barco", afirma Lagoa.
Segundo David Grinberg, diretor do núcleo de telenovelas da
emissora, o objetivo é superar os
15 pontos atuais de audiência no
horário (cada ponto equivale a
48,5 mil domicílios na Grande São
Paulo). Na sequência, já programa "Os Ricos Também Choram",
grande sucesso latino e a sétima
novela do contrato com a Televisa, que acaba em 2005.
Na Globo, as expectativas são
outras. Fala-se até em lançar revista sobre os personagens da novela. "Celebridade" traz nomes
como Malu Mader e Cláudia
Abreu, além de Thiago Lacerda,
Marcos Palmeira, Isabela Garcia,
Alexandre Borges e Nívea Maria.
Para dar visibilidade à trama, a
Globo aposta em nomes como o
de Julio Iglesias, Mick Hucknall,
do Simply Red, e Alanis Morissette. João Ubaldo Ribeiro, Marina
Lima e Erasmo Carlos também fizeram participações especiais.
Mesmo com todo o investimento, Gilberto Braga se garantiu em
caso de zebra: "Como novela é
um contrato de risco, nós nos cercamos não só dos melhores atores, mas daqueles com quem queremos estar em caso de naufrágio".
(LAURA MATTOS, DIEGO ASSIS E CLÁUDIA CROITOR)
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