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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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LIVRO

No recém-lançado "Dude, Where's My Country?", humor inteligente do autor sucumbe a exibicionismo e demagogia

Autopromoção excessiva prejudica Michael Moore

DO ""NEW YORK TIMES"

Em seu livro mais recente, Michael Moore revela a identidade de seu candidato político favorito: alguém que defenda "um país livre, um país seguro, um país pacífico que compartilhe suas riquezas com os menos afortunados no mundo, um país que acredite na idéia de todos terem uma chance justa e onde o medo é visto como a única coisa que precisamos temer". Só que ele fala dele mesmo.
Quando "nós, o povo" entra no discurso de alguém que gosta de soltar palavras de ordem, é bom ficar atento. Nosso autodenominado porta-voz talvez tenha uma agenda política própria. Na condição de alguém que tem pendor pela demagogia, alguém que acha que a estrutura política atual "precisa ser derrubada, removida e substituída por todo um sistema novo que esteja sob nosso controle", Moore posa para a câmera, mesmo quando em livro.
A obra anterior de Moore, "Stupid White Men", fez tanto sucesso que se tornou o livro de não-ficção mais vendido do ano passado. Estava em sua 52ª edição quando Moore concluiu "Dude, Where's My Country?" (Cara, Onde Está Meu País?), um livro que se mostra ansioso por mencionar as realizações de seu autor.
"Dude, Where's My Country?" inclui um capítulo no qual Moore adota a voz de Deus -só de brincadeira, é claro. Em outro capítulo, ele convida você, o leitor, a entrar para o que ele chama de "Milícia de Mike". E, em seguida, distribui instruções na condição de "seu comandante-em-chefe". O humor inteligente e subversivo que atrai 1 milhão de visitantes por dia para o seu site fica seriamente prejudicado pelo peso de tanta autopromoção.
Quando "Stupid White Men" foi lançado, a xingação que promovia foi uma novidade na lista dos best-sellers. Hoje, porém, ela já cresceu e está por toda a parte. Moore sem dúvida compartilha leitores com outros escritores de visão similar, porém mais bem fundamentados, como Molly Ivins, Lou Dubose e Joe Conason. Mas Moore, com a convicção que acompanha sua personalidade exibida, se torna o mais acessível.
Ao mesmo tempo em que arredonda os valores em dinheiro saudita para a casa dos trilhões, Moore é muito mais preciso em outras áreas. Por exemplo, ele identifica membros da Coalizão dos Dispostos no Iraque como o arquipélago de Palau, no Pacífico Norte, com uma população menor do que o público de muitos shows de rock.
Não se trata de uma informação nova, mas ela é apresentada aqui de maneira a fazer muito efeito. O mesmo pode ser dito de quando traz à tona acontecimentos pouco noticiados pela imprensa, como uma visita que representantes do taleban fizeram ao Texas em 1997 por motivos ligados ao petróleo.
No fim, porém, conclui-se que Moore usou todo seu discurso populista e apaixonado no esforço de promover a transformação. Isso faz de "Dude, Where's My Country?" um adesivo de pára-choque que faz as vezes de livro.


Tradução Clara Allain

DUDE, WHERE'S MY COUNTRY. Autor: Michael Moore. Editora: Warner Books. Quanto: R$ 55, em média (320 págs.). Onde comprar: www.amazon.com; www.livcultura.com.



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