São Paulo, terça-feira, 12 de outubro de 2004

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Angústia marca obra, diz crítico

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A imagem de leveza que foi colada na obra de Fernando Sabino é um equívoco -a angústia e a crise religiosa estão no cerne dos seus livros mais importantes. É isso que Guilherme Francesco Piacesi da Rocha quer comprovar na tese que desenvolve no mestrado da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
"A angústia humana e a busca por uma resposta que nunca virá são as questões de Sabino", diz Rocha. O Sabino é tão intenso quanto Clarice Lispector quando foca as crises existenciais, afirma.
A imagem de escritor "fácil" soterrou a do escritor existencialista porque as crônicas tornaram a logomarca de Sabino. Os críticos têm parte de culpa no processo, aponta Rocha, por ter ignorado praticamente a obra do escritor.
A exceção, de acordo com Rocha, é o crítico Fábio Lucas, autor de "A Ficção de Fernando Sabino e Autran Dourado" (1983), livro editado de maneira artesanal (o ensaio sobre Sabino foi depois incorporado como prefácio de "Obra Reunida" (Nova Aguilar).
Lucas concorda que há um viés existencial em Sabino: "Toda a obra dele é uma tentativa de construção do eu profundo, tem um forte cunho autobiográfico. Ela já indica a crise de representação do eu que há na literatura ocidental".
O beco sem saída descrito por Jean-Paul Sarte em suas peças e ensaios filosóficos e o catolicismo agônico do escritor francês Georges Bernanos deixaram marcas na obra do escritor.
Há também uma dimensão reflexiva em Sabino que aparece "disfarçada" em crônicas e contos, de acordo com Lucas. "Ele é um dos poucos escritores brasileiros que fala de outros escritores".
Não foi nada ocasional, segundo o crítico, o fato de ter traduzido Gustave Flaubert e Henry James, escritores dos escritores.


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