São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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CINEMA

"Grito 2" reforça fenômeno do J-Horror

Filme dirigido por Takashi Shimizu confirma o recente interesse de Hollywood pelo cinema de terror japonês atual

À Folha, cineasta afirma que a indústria americana do gênero passa por crise e que as histórias orientais se tornaram uma alternativa

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

J-Horror é a palavra-chave de um fenômeno dos anos 2000, confirmado pela estréia mundial hoje de "O Grito 2". O filme de Takashi Shimizu comprova o interesse da indústria americana pelo cinema de horror japonês, fruto de refilmagens e adaptações na década.
O caso de Shimizu é exemplar. Com a nova obra, é a sexta vez que ele trabalha com variações da mesma história. A saga da mulher-monstro-fantasma que habita uma casa amaldiçoada de Tóquio foi criada pelo cineasta em 2000, em um filme para uma TV local. Ganhou uma continuação, também para a TV, naquele mesmo ano. Em 2003, duas versões para cinema com elenco japonês foram sucesso de público no país.
O êxito chamou a atenção de Hollywood, e "O Grito", rodado no Japão com protagonistas e investimento americanos, foi lançado em 2004.
O fenômeno J-Horror começou com "O Chamado", de Hideo Nakata. O filme original, de 1998, foi bem recebido na Europa e nos EUA e já rendeu, além de continuações no Japão, duas adaptações ocidentais. E "Água Negra" (2002), também de Nakata, foi refilmado em 2005 nos EUA por Walter Salles e com Jennifer Connelly como protagonista.
Há uma crise de criatividade na indústria de horror americana? Sim, respondeu Takashi Shimizu, em entrevista à Folha em março deste ano, no set de filmagens de "O Grito 2", nos estúdios Toho, em Tóquio.
"Hollywood perdeu seus grandes contadores de histórias de horror e descobriu no Japão uma boa fonte para assustar suas platéias", avaliou Shimizu, por meio de intérprete e observado por produtores e assessores americanos.
A análise de Shimizu é corroborada por Taka Ichise, produtor japonês de "O Grito 2" e também das versões originais de "O Grito" e "O Chamado". "Os filmes de horror americanos dos anos 80, que eram só sangue e efeitos especiais, esgotaram o espectador, e hoje é mais difícil surpreender o público", opinou Ichise.
O J-Horror do qual Shimizu faz parte tenta se distanciar desse formato sanguinolento e investe em histórias de fantasmas, muito tradicionais no Japão, carregadas de tensão psicológica. O uso desse suspense psicológico não é, sem dúvida, uma novidade do J-Horror -Roman Polanski já explorava o recurso com muito mais maestria nos anos 60, em filmes como "Repulsa ao Sexo" e "O Bebê de Rosemary".
Este último é citado por Amber Tamblyn como um de seus filmes de terror favoritos. Protagonista de "O Grito 2", ela falou à Folha após passar o dia gravando no cenário do segundo andar da casa amaldiçoada.
Escolada em filmes do gênero (ela morre na primeira cena de "O Chamado"), Tamblyn disse que a diferença de atuar para um diretor japonês é que ele é mais atento a detalhes.
"Tudo é mais sutil, e o medo surge quando você não espera. Interpretar um personagem nesse contexto é um desafio."


O jornalista LEONARDO CRUZ viajou a Tóquio a convite da Paris Filmes


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